Theresa Catharina de Góes Campos

     
Ineficiência da política brasileira
 
De: Reynaldo Ferreira
Data: 17 de maio de 2017 
Assunto: Fwd: Ineficiência da política brasileira
 
A televisão francesa divulgou, há pouco, reportagem sobre o projeto - já em implantação - da Rota da Seda, uma ferrovia realmente de sonho, de que fala o articulista, que conclui o seu comentário, abaixo reproduzido, com a amarga, mas verdadeira observação de que " o Brasil, nivelado por baixo, está cada vez mais distante dos índices de crescimento do mundo; da China, nem se fala". E nada se pode fazer. Com o esquema político e judiciário atual, o Brasil é, como diz o Le Monde, "um trem em marcha a ré". Uma implosão do sistema vigente, como a que acaba de ser feita, na França, pelo fenômeno Macron, aqui seria impossível, com o retrógrado, mais do que superado Código Eleitoral, que temos. Leiam o artigo.
Reynaldo Domingos Ferreira
 
Sonhos chineses, pesadelos brasileiros
 
Aylê-Salassié F. Quintão*
     
          Sentado sobre os calcanhares, fumando ainda um cigarro de palha, como um Jeca Tatu, o brasileiro assiste imobilizado à deterioração da economia e, ao  mesmo tempo, a  China, parceira do Brasil no 
BRICs, inaugurar uma ambiciosa rede de transportes, com cerca de 15 mil quilômetros de extensão,  ligando, por terra, a Ásia, a Europa, a África e o Oriente Médio, gerando emprego por todos os lados. Foram dois anos planejando a Rota da Seda (One Belt One Road), já em implantação, e preparando as cidades e as  populações para assumir as diferentes frentes de trabalho em 68 países, representados por um conjunto de potenciais consumidores  da ordem de 4,4 bilhões de pessoas, e investimentos de US$ 900 bilhões. 
 
           O mundo está  diante do desafio do “Sonho Chinês”  de  resgatar sua grandeza milenar e de transformar a China num protagonista importante no cenário de livre comércio e do antiprotecionismo.  O projeto chinês propõe-se a modernizar a indústria nacional  e  ajudar a alavancar solidariamente o desenvolvimento nos países marginais, disse o presidente, Xi Jinping, ao abrir o Fórum de Cooperação Internacional das Novas Rotas da Seda, em Pequim, nos dias 14 e 15, ao qual compareceram  29 chefes de Estado, representações de mais de 100 países e quatro mil jornalistas. No evento foram assinados acordos de cooperação com os 68 países, o FMI e outras organizações internacionais.  “A China pretende  ser na Ásia o que os Estados Unidos são no Ocidente”, disse Jinping.
 
           A Rota da Seda está prevista para chegar também à América. Por isso,  compareceram ao Fórum a socialista Michelle Bachellet, presidente do Chile – maior fornecedor de frutas frescas para a China (US$ 1,2 bi); e  o democrata Maurício Macri, da Argentina, um dos grandes concorrentes das exportações brasileiras de carnes para a Ásia.  Nesses dois países os chineses financiam um complexo sistema de transporte  entre o Atlântico e o Pacífico, com investimentos superiores a US$10 bilhões. O Brasil, onde os chineses estão investindo este ano U$ 5,7 bilhões, esteve presente ao Fórum quase como coadjuvante, através de representantes diplomáticos.
           
           O que para os chineses é um sonho que se realiza em dois anos para o Brasil é quase um pesadelo, já que a construção da ferrovia Norte-Sul, com 4.155 km, estende-se por quase 30 anos, e mal chegou a Palmas.  Não temos sonhos. A iniciativa empreendedora do povo  chinês devia ser tomada  como inspiração para os brasileiros saírem desse estado letárgico. Não se pode viver eternamente acenando para o caos. O brasileiro foi intoxicado pela irresponsabilidade, pelo cinismo  e pela hostilidade entre cidadãos.    De quatro a cinco anos para cá, pequenos grupos organizados tumultuaram politicamente a vida cotidiana, atropelaram atividades produtivas,  introduziram a insegurança pública, interromperam o funcionamento regular das escolas, contribuindo para a perda de uma enorme parcela do PIB nacional.
 
            Como se não bastasse, num momento delicado e agônico de esforços incansáveis para retomar patamares perdidos, a Justiça brasileira abre novamente uma discussão para a cassação do mandato do Presidente da República. Como agravante, agrega-se a esse quadro caótico a denúncia de que metade dos senadores, deputados federais tem dívidas diretas ou indiretas com os bancos públicos  e a Previdência em valor superior a 3 bilhões de um refinanciamento do governo anterior, não pago. Até que venha o julgamento da chapa Dilma/Temer, chantageiam o Presidente em exercício para conseguir outro Refis. Usando expedientes similares, governadores e prefeitos acabam de conseguir prorrogar, por 200 meses, um débito de R$100 bilhões com a Previdência.  Enquanto a China reconstrói o País e atropela as injustiças históricas, uma diversidade de atores e culturas agem no Brasil, com métodos diferentes e vantagens assemelhadas,  emperrando a alavancagem da economia.
 
            Nivelado por baixo, o Brasil está cada vez mais distante dos índices do crescimento do mundo; da China, nem se fala.  Alguma coisa precisa acontecer para reformular os caminhos da política e desobstruir os canais  de irrigação da economia brasileira. Estamos no fundo do poço. É urgente encontrar uma saída  que  acabe com a insegurança para retornar à vida normal. Se nada for feito logo, a produção vai cair, a violência vai aumentar, o capital fugido vai desaparecer e até mesmo a histórica unidade nacional poderá sofrer impactos. Rebaixados  ante outras nações já estamos, só falta perder a identidade nacional.
*Jornalista e professor
 

Jornalismo com ética e solidariedade.