UBERABA hoje - REYNALDO DOMINGOS FERREIRA e
LUIZ GONZAGA OLIVEIRA
De: Reynaldo Domingos Ferreira
Data: 29 de agosto de 2017
Repassando: Estão fazendo tudo para dar fim à
cidade de Uberaba, ou transformá-la numa Detroit
brasileira. Melhor dizendo, uma cidade fantasma,
sem empregos, sem nada. Ainda bem que temos um
cronista consciente, Luiz Gonzaga de Oliveira,
que, ao contrário de outros escribas, de nariz
empinado, que lá vivem, não fecha os olhos para
o que está ali acontecendo. Leiam o relato dele
sobre a visita de um amigo, também nascido na
cidade, mas que reside hoje, em São José do Rio
Preto, o qual se decepcionou amargamente, ao
levar o filho a conhecer aprazíveis lugares de
outrora, que o encantavam, em criança e, mesmo
na juventude, tudo agora em decadência.
Não foi outra a minha impressão, quando, mais
uma vez, eu lá estive, no início deste mês. O ar
seco, provocado pelo abate indiscriminado das
árvores, que ornavam ruas, praças e avenidas,
tornou-se irrespirável, dada a poluição, causada
pela queimadas nas plantações de cana-de-açúcar,
que cercam a cidade. O que se compreende é que
nada é feito pela ineficiente administração
municipal pela preservação do meio ambiente,
visando ao bem-estar da população, como também -
nem é preciso dizer - pela vida cultural dos
uberabenses.
Pois será possível que uma cidade, que abriga
duas universidades, por causa de um feriado
municipal, na terça-feira, mantenha sua única
biblioteca fechada, de sábado a quarta feira?
Será possível? Foi isso o que li num
aviso, exposto na fachada do edifício da
Biblioteca Municipal " Bernardo Guimarães ",
quando lá fui, pretendendo fazer doação de
alguns livros, que trouxe de volta para doar a
bibliotecas de Brasília. Mas isso ainda,
infelizmente, não é tudo. As reclamações dos
parentes, que lá resistem, são muitas, nos
campos de assistência social, médica e
comercial, essa decorrente do fechamento - como
acontece em quase todo o país - de vários
estabelecimentos, atingidos pela atual crise
econômica, que não se sabe até quando vai
perdurar.
Leiam agora o texto de Luiz Gonzaga de Oliveira.
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Oi,turma !
( A vida é bela quando não se tem medo dela...)
AINDA A VISITA DO AMIGO 2 –
Estava eu posto em sossego, no último sábado, no
“barboteco” do Filó, na rua Espanha, quando
chegou, esbaforido, o Faria, meu amigo
uberabense ausente, morando em S.José do Rio
Preto, há anos. Tinha levado os filhos no
“Bosque Jacarandá” que conhecera na juventude.
Falou maravilhas às crianças do local. Em lá
chegando,” que decepção!”,contou-me.O bosque
está sujo, mal cuidado, fedendo a fezes de
animal, poucos bichos, quase morrendo, um
horror!”. Sentado ao meu lado, bebendo da minha
cerveja, continuou nas suas lamúrias: - “fui ver
os Produtos Céres, em outros tempos, honra e
orgulho da indústria uberabense. Que nada ! vi
apenas a chaminé...”, falou, desolado. –“Fui até
as barrancas do rio Uberaba, ver o que restava
da Fábrica de Papel “S.Geraldo”. Mais decepção.
Apenas um amontoado de tijolos velhos carcomidos
pelo tempo...”
Eu ali, ouvindo seu desabafo. -“Sabe”,disse
ele,”quis ver a fábrica de cosméticos da Skala,
no alto da Abadia.Tristeza...galpões
abandonados, janelas e portas quebradas,
moradores de rua drogados , misturados com
cobras, escorpiões, baratas, ratos e ratões.
Construção “ caindo aos pedaços!”... Ele (Faria)
ia acumulando decepções. –“Pelo menos a
Copervale está funcionando. Era o nosso orgulho,
esparramando produtos para todo o Brasil. Leite,
iogurte, manteiga, queijos..... Qual o quê!
Quando me deparei, um monte de prédios vazios,
abandonados.. não agüentei, começaram a cair as
primeiras lágrimas”, limpando o rosto com a
palma da mão.
Faria seguiu sua “via crucis”. Engasgado,
contou-me: -“Lá nos Estados Unidos,pelo menos
vejo as fábricas dos doces “Zebu” e das balas
“Thori”e “Oriente”. Quebrei a cara ! não existem
mais... Bebeu a segunda latinha e prosseguiu:-
“No S.Benedito, vou ver o Rodoviário
Uberaba,aquele “mundão de caminhão” rodando pelo
Brasil. Cadê? nem roncar dos motores nem cheiro
do óleo diesel..” Atravessou a rodovia, rumo ao
parque S.Geraldo.-“Vejo pelo menos a Líder dos
Barsam e do Gilvan.Tinha, não tem mais...o local
virou depósito de ferro velho.
Voltou pro S.Benedito.”Crente” que passaria pela
porta da fábrica das botinas “Zebu” de renome
internacional. Chorou,outra vez! Os galpões
servem de morada dos morcegos e dos fantasmas.
Seu coração foi apertando de amargura. No
Distrito Industrial I, viu os escombros da
fábrica da centenária fábrica de tecidos. Ao
lado, dois desolados curtumes ... Lágrimas
desciam nas avenidas do seu rosto, incrédulo e
patético do que via...
No centro da cidade, ”pirou” de vez. O ex-Regina
Hotel, pouso dos viajantes, em ruínas !...Não
quis crer quando lhe contaram que o “Metrópole”,
o “Galo de Ouro” e o lendário “Grande Hotel” só
recebem almas penadas !...Um pouco à frente,
ainda na Leopoldino, o ex-imponente prédio da
Caixa Federal, vazio, está sendo depredado,
albergue de ratos, baratas e escorpiões...
Caminhando, trôpego, sem lenço e sem documento,
Faria, triste, abobalhado, abismado e
decepcionado, viu, em pensamento, uma Artur
Machado, ”centro nervoso” da cidade, exuberante!
Abriu os olhos, do quarto quarteirão em diante,
viu uma Artur Machado com casas em ruínas,
portas fechadas, quase à míngua, como em fim de
feira...
Eu ali, na minha terceira latinha, com a mesma
vontade de chorar ao lado do Faria. Ele
levantou-se. Até pensei que ia fazer discurso.
Qual nada ! Soltou o “verbo”. Esbravejou:
-“Porra! Será que na minha terra não tem mais
homem de brio? São covardes e frouxos? Todo
mundo está vendo a cidade degringolar e ninguém
faz nada ? Cadê o Prefeito? Onde estão os
deputados ? Os empresários? Tá todo mundo
acomodado?”
O “barboteco” do Filó, cheio de fregueses,
olhando uns para os outros, quietos. Mudos e
calados. Pedi a conta e convidei-lhe para irmos
embora. A cancela da Mojiana estava fechada. O
trem de carga ia demorar pelo menos 10 minutos.
Faria teve um acesso de raiva! -“Cacete! Não
conseguiram até hoje construir uma passagem
nesse trecho? Vejo isso há 40 anos e ninguém se
mexe?”
Ontem, ele me telefonou.Estava na Festa do Peão
de Boiadeiro, em Barretos, com 100.000 pessoas
no recinto. Nem me perguntou se ainda existe a
Exposição de Gado na terrinha...
Desculpem-me pelo texto longo. O desabafo de um
uberabense morando longe da cidade, numa outra e
progressista urbe, não me permitiu
“cortá-lo”...Abraços do”Marquez do Cassú”.
De: Monaliza Arruda
Data: 29 de agosto de 2017
Uma pena, lamentável!
Obrigada por repassar.
(...)
Monaliza Barbosa Arruda |