A Maestrina Olga Maria Frange de Oliveira,
regente do Coral Artístico Uberabense, em artigo
sobre Myrtis Vianna Bruno
De: Reynaldo Domingos Ferreira
Data: 31 de outubro de 2017
Assunto: Artigo de Olga Frange
A Maestrina Olga Maria Frange de Oliveira,
regente do Coral Artístico Uberabense, que
atualmente se dedica a escrever a "História da
Música em Uberaba", publicou, ontem, no "Jornal
da Manhã" - um dos dois órgãos de imprensa da
cidade - um lapidar artigo, no qual rememora a
figura notável de outra artista uberabense, dos
anos de 1950, Myrtis Vianna Bruno, criadora do
Instituto Musical Uberabense e da Casa do
Artesão, a qual também muito me ajudou, como
destaca a articulista, a transformar um barracão
da municipalidade no "teatro de bolso", do
Núcleo Artístico e Cultural da Juventude,
inaugurado, em maio, de 1958, com a peça
"Cândida", de George Bernard Shaw. Leiam o
artigo...
Reynaldo Domingos Ferreira
ARTICULISTAS
Olga Maria Frange de Oliveira - 30/10/2017
Uma artista com múltiplas faces
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Myrtis de Lourdes Vianna Bruno – uma mulher
atraente, de traços harmoniosos, vaidosa,
educada e..., sobretudo, amante do belo. Sempre
cheia de planos e rodeada de amigas. Dividia
seus afazeres domésticos de esposa e mãe com sua
paixão pela arte. Sua casa era cheia de
cantinhos aconchegantes onde seu toque pessoal
na decoração era sentido em cada ambiente.
Há pessoas enviadas por Deus com a missão de
abrir caminhos, atuando como verdadeiras
desbravadoras. Myrtis foi uma dessas criaturas
especiais. A área cultural de Uberaba lhe deve
muito. Foi ela a idealizadora do “Instituto
Musical Uberabense”, escola de música fundada em
1956 e que durante mais de meio século formou
gerações de musicistas. Para concretizar esse
sonho, arregimentou duas grandes mulheres:
Walmira Peres Cardoso e D. Odette Carvalho de
Camargos. Trechos de uma carta escrita por ela
para D. Odette deixam claras suas ações em prol
da criação dessa escola, colocando como condição
“sine qua non” a anuência de D. Odette de
assumir a direção do educandário. Foi ela também
que encontrou a casa que viria a abrigar a
primeira sede do Instituto Musical, na rua Alaor
Prata, nº 35, ao lado de sua residência.
Dinâmica e entusiasmada, assumiu como ninguém o
papel de empreendedora. Enquanto Walmira e D.
Odette se lançavam ao trabalho árduo com as
alunas, Myrtis se lançou pelos caminhos não
menos árduos dos trâmites legais e da luta pelo
reconhecimento oficial e posterior equiparação
do Instituto Musical Uberabense aos
Conservatórios Estaduais. Sua atuação foi de
fundamental importância para o êxito dessa
empreitada.
Em 1958 vamos encontrá-la às voltas com o
“Núcleo Artístico Cultural da Juventude” de
Uberaba, ao lado dos agitadores culturais, Iná
de Souza e Reynaldo Domingos Ferreira, dentre
outros. Formavam um grupo de idealistas que
lutavam por um teatro que atendesse aos jovens
artistas. Conseguiram a participação do
município, através do prefeito Arthur de Mello
Teixeira, que cedeu ao Núcleo um barracão na rua
“13 de Maio”, que foi totalmente reformado para
se adequar às novas funções. Myrtis Bruno
assumiu o cargo de primeira secretária do quadro
administrativo e, numa entrevista aos jornais
locais, falando sobre a importância dessa
conquista para a juventude, assim se expressou:
“Deus se aproxima de nós através da arte”.
No entanto, seus dotes artísticos iam além da
música. Desde jovem se interessou pelo
artesanato. Habilidosa e com senso estético
incomum, foi ampliando suas ações no domínio das
delicadas peças artesanais que ela criava com
materiais nativos em nossa região e típicos do
cerrado: tocos de madeira, galhos retorcidos,
folhagens que seriam desidratadas, palhas,
sementes, raízes, cipós e cordas que seriam
transformados em objetos artísticos. Suas mãos
utilizavam os pigmentos com a sabedoria dos
artistas natos, autodidatas. Seguia à risca o
pensamento do poeta Manoel de Barros: “Deus dá a
forma... o artista desforma...”
Com o passar dos anos, seu lado artesã falou
mais alto e ela foi, aos poucos, se afastando da
música e mergulhando de cabeça no artesanato.
Mais uma vez tornou-se pioneira ligando-se a um
grupo de idealistas que fundou a “Casa do
Artesão”, onde foi atuante como artista
associada e também pertencendo ao quadro
administrativo da entidade. Até o fim de sua
vida esteve ao lado de suas companheiras
artesãs, lutando por seus interesses.
Myrtis Bruno representa a figura polivalente do
artista multifacetado. Suas criações
colocaram-na no patamar das mais refinadas e
talentosas artesãs que Uberaba possuiu. Deixou
traços de sua presença por onde passou, lançando
sementes que germinaram e frutificaram em prol
de nossa cidade. Saudades, minha querida amiga!
Olga Maria Frange de Oliveira
Pianista, professora, maestrina, regente do
Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da
História da Música em Uberaba, ex-diretora geral
da Fundação Cultural de Uberaba |