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De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Data: 5 de novembro de 2017
Assunto: Processo de exclusão
PROCESSO DE EXCLUSÃO
As razões são, no fundo, indecifráveis. Nós
estamos à margem; andamos à deriva; meio
confusas. É mais ou menos do que fala a
reportagem da Revista do Correio Braziliense
deste domingo (5/ 11) sobre as mulheres com
sobrepeso. Uma luta constante, até a aceitação
de seu corpo, tal como lhe foi apresentado pela
natureza e suas circunstâncias. Um processo
intenso e sofrido de questionamentos sobre a
autoestima, no reconhecimento de uma realidade
de críticas e rejeição.
Se tratamos de beleza e moda, pesquisa da
Associação Brasileira de Vestuário atesta que
somente 17,5% de lojas vendem tamanhos maiores.
E unicamente 4% são especializadas neste
mercado. Embora haja uma crescente demanda. O
que atesta a incrível burrice do empresariado
ligado ao setor e a sua preguiça criativa. A
maioria das lojas só trabalha até o número 44 a
46. E estes não se encontram dentro do padrão
internacional de medidas. São sempre menores.
Logo, comprar no exterior é mais fácil e barato,
pois todos os tamanhos são encontrados. Com as
mesmas medidas, estilo, beleza e qualidade.
Trata-se de um capitalismo inteligente, buscando
os lucros da produtividade, para um mercado
permanente e em crescimento.
No entanto, nossa sociedade não compreende nem
aceita os dessemelhantes. O processo de exclusão
é entendê-los como desiguais. Ou seja,
superiores ou inferiores. No caso, inferiores
aos magros, a partir do domínio de uma indústria
de moda incompetente. Que se nega a colocar a
criatividade a serviço da humanidade; do homem,
do gênero humano. Estilistas com antolhos que os
impedem de ver a diversidade do real. Mais
preocupados com seus órgãos ovoides. Nada além
do próprio umbigo.
Reconhecer o processo de exclusão, do qual somos
objeto e sujeito, é redimensionar a nossa
realidade, a nossa vida. Libertação para
compreender o mundo que nos cerca, nossos
semelhantes e dessemelhantes. Foi que fizeram as
personagens da reportagem. Sem abdicar de um
posicionamento que debate, questiona e exige
mudanças. E cuja assertividade nos aproxima, nos
distanciando das margens. Lugar onde, quem sabe,
estão estes rostos cadavéricos, estas pernas
magras e estes bustos invisíveis!
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO |
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