Chá com as damas
De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Date: seg., 3 de jul. de 2023
Subject: damas
CHÁ COM AS DAMAS
No jardim ou dentro de casa, aquelas senhoras se
revezam em conversas sobre a vida, experiência
profissional, fracassos, sucessos, o modo como
encaram a velhice e o relacionamento entre elas.
Todas são inglesas, atrizes de teatro, cinema e
televisão, com mais de oitenta anos e ganhadoras
de importantes prêmios internacionais. Este papo
descontraído, como se não estivessem sob o olhar
da câmara, faz parte de um documentário de Roger
Michell, realizado em 2018. Durante o qual se
tem o prazer de ver, paralelamente, a
apresentação de alguns dos trabalhos que elas
realizaram.
Uma delas é Joan An Plowright com 89 anos, que
recebeu dois Globos de Ouro e um Tony Award e
tem cerca de sessenta anos de carreira. Foi
casada por 28 anos com Laurence Olivier, um dos
mais aclamados atores britânicos. Ela está,
atualmente, praticamente cega. Mas é autêntica a
sua alegria e faz as companheiras rirem com suas
observações. Judi Dench com 84 anos ganhou o
Oscar de atriz coadjuvante e o BAFTA. É
considerada a que mais consegue atuar, apesar da
idade. As amigas caçoam que ela não deixa papéis
para ninguém. É a mais bonita do grupo e um de
seus trabalhos mais atuais foi a atuação em
filmes de James Bond e do Tom Cruise. Do qual
recebeu um beijo na boca em uma das cenas. Tem
um riso fácil, no entanto, aparentemente,
demonstra uma certa inquietude nessa reunião.
Eileen Atkins tem 84 anos, é atriz e roteirista,
trabalhando na televisão e no cinema desde 1953.
É a que fala menos, observadora e tímida. Maggie
Smith, 83 anos, é a mais atuante do grupo. Ainda
muito presente em filmes e séries, destila uma
ironia sarcástica sobre tudo e todos. Quase ao
final das filmagens, reclama vigorosamente da
presença de um estranho no set.
Essas quatro atrizes enriqueceram o cinema, a
televisão e, principalmente, o teatro na
Inglaterra. Foram requisitadas pelo cinema
americano em muitos filmes. Este caminhar na
arte em suas mais variadas formas e detalhes de
sua vida são comentados no grupo, que parece ter
se fortalecido ao longo do caminho. Há
cumplicidade, naturalidade, segurança, entrega.
Um rico relacionamento de mulheres inteligentes,
decididas e fortes. A apresentação de alguns de
seus trabalhos, desde a juventude, demonstra o
incontrolável e irremediável resultado do tempo
em seus rostos e corpos. Eram todas lindas!
Foram casadas duas vezes, e têm filhos e netos.
Com exceção de Judi, com um só casamento.
Com um humor ferino, riem abertamente de seus
fracassos e das várias personalidades com as
quais tiveram de se relacionar. Joan comenta
sobre as dificuldades de seu casamento com Sir
Olivier. Aceitando as críticas que as amigas
fazem em relação ao autoritarismo dele no
trabalho. Entre risadas e comentários irônicos
não escondem a melancolia diante da passagem do
tempo. Apontam com realismo a dor dos limites da
velhice e da invisibilidade que ela acarreta.
Aqui o peso de nossa humanidade está claro. E
toda transcendência é suspeita.
Nos instantes finais do documentário, Joan, a
viúva de Laurence Olivier, fala da sua morte. E
diz que ela havia viajado, estava longe. E seus
filhos chamaram Judi para ficar perto dele nos
minutos finais. Há um silêncio constrangedor.
Ninguém faz comentários. Judi apenas confirma, e
se inquieta ainda mais na cadeira.
“Chá com as damas” é uma justa homenagem a
quatro famosas e lindas atrizes de teatro,
cinema e televisão. Hoje velhas senhoras, a quem
nos rendemos quanto à inteligência, talento e
consciência da vida. (12/ 2018 /luiza)
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Ver também:
http://www.filmeb.com.br/calendario-de-estreias/cha-com-damas
https://www.papodecinema.com.br/filmes/cha-com-as-damas/ |