|
|
|
|
|
|
CULPA - O HOMEM E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS
Era seu último dia de trabalho atendendo
telefone no setor de Emergência do Departamento
Policial. Sua angústia lhe entalava o peito,
pois sua esposa saíra de casa. Além disto, no
outro dia, ele iria responder a um processo na
justiça, por um grave ato, cometido em sua ronda
de policial. Obrigando ainda seu parceiro a
mentir para livrar sua pele. Estava
desconfortável e nervoso. Suas respostas eram
secas, objetivas demais. Ele parecia distante e,
o que é pior, atendendo aos pedidos, mencionava
a culpa dos envolvidos nos episódios. Até
receber o telefonema dela. O que se passa a
seguir é uma série de acontecimentos nos quais
ele se envolve, sem parar para pensar. Até
descobrir que a realidade era outra. Totalmente
diversa. E é um puro golpe de sorte poder mudar
o rumo dos acontecimentos, salvando o que
restava para salvar. Mesmo que para isto, ele
tivesse de revelar o seu segredo. Lembrando a
ela que ambos haviam cometido o mesmo ato. Com
uma circunstância: ele sabia exatamente o que
estava fazendo, ao passo que ela não tivera esta
consciência.
Asger Holm parece se dar conta que a vida não dá
trégua. Poderemos ter um caminho relativamente
calmo. Ou estarmos sujeitos aos mais dolorosos
sofrimentos. As circunstâncias e nossas
especificidades ditarão os rumos. E, neste caso,
ele percebe o quanto estava distante de tudo,
sem aceitar a própria culpa ou se
sobrecarregando com ela. Sem perceber o mundo a
sua volta. Como a agonia costuma fazer com todos
nós, nos alienando. Então, a loucura e o
sofrimento do Outro e a consciência de sua
responsabilidade pessoal, o despertam daquela
alienação. O conectam novamente com a vida, a
humildade, a aceitação.
Durante 86 minutos deste filme, a câmara
focaliza em close o rosto do ator. Sem grandes
transformações, as linhas de sua face demonstram
cada sentimento. As vozes daqueles que telefona
completam o cenário deste estupendo roteiro
sobre dor, loucura, culpa, redenção e
continuação da vida. E a tensão e o envolvimento
do espectador são permanentes, a partir de um
único cenário, com poucos elementos e
ferramentas de montagem. A excelência da direção
e o estupendo roteiro nos envolvem e excitam a
imaginação.
Este filme é da Dinamarca, com o premiado
diretor Gustav Moller. Roteiro de Moller e Emil
Nygaard Albertsen. Foi produzido e lançado em
2018 e está candidato ao Oscar. Com grandes
possibilidades. Tem como atores Jacob Cedergren
no papel principal do policial Asger Holm, em
maravilhosa interpretação. Além de Jacob Ultrick
Lobmann e Laura Bo. O filme atinge nossos
nervos, nos deixa cansados. E parece apontar
para uma saída: a atenção ao outro e a nós
próprios, aos sentimentos que nos cercam, a
consciência de como carregamos nossas culpas e a
necessidade terapêutica de compartilhar.
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Dezembro, 2018 |
|
|
|