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Explicando o Brasil em Davos - Reynaldo Domingos
Ferreira /
“Terra Brazilis”: terra de ninguém, ou
todo mundo é dono disso aqui ? Aylê-Salassié F.
Quintão
From: Reynaldo Domingos Ferreira
Date: ter, 22 de jan de 2019
Subject: Fwd: Explicando o Brasil em Davos
Repassando: Muito bom esse artigo do
Ayle-Salassié Quintão. Realmente, é uma missão
difícil essa do nosso novo presidente da
República, a de explicar o inexplicável, isto é,
o que é o Brasil de hoje - na verdade, o que
restou do país, depois de dois governos daquele
que foi considerado
" Estadista do Mundo" - , no mais do que
esvaziado, desta vez, Fórum Econômico, de Davos,
nos Alpes suíços.
Ontem, foi a vez de Christine Lagarde, Diretora
do FMI, dar o tom sombrio inicial do encontro,
quando mostrou as nada promissoras perspectivas
econômicas mundiais para os próximos anos. O que
dirá, hoje, Jair Bolsonaro, naquele sodalício,
para ver se atrai a confiança dos investidores
para um país de povo preguiçoso, que não quer
nada com nada, ou melhor, só pensa em vida
fácil, dinheiro roubado, carnaval e outras
danças? O que ele dirá?...
“Terra Brazilis”: terra de ninguém, ou
todo mundo é dono disso aqui ?
Aylê-Salassié F. Quintão
“He’s the guy!”, ???.... Como o
pragmático Bolsonaro está explicando à
comunidade internacional, em Davos, o fato de
Luís Ignácio da Silva ser hoje um prisioneiro,
em Curitiba, condenado a doze anos, em regime
fechado , por corrupção ? Há nove anos ele
recebeu, ali mesmo, o prêmio “Estadista do
Mundo” . Os messiânicos fantasiaram logo a ideia
de colocá-lo na Secretaria Geral da Organização
das Nações Unidas (ONU).
Na América Latina, de povo místico, cordial, mas
preguiçoso, as tentativas de identidades ou de
assumir um posicionamento autônomo no mundo
sempre fracassaram. Faltam convicções. No
interior de cada país forças enormes e estranhas
cruzam as nações explorando suas riquezas ou com
o propósito explícito de interromper os
processos civilizatórios. Perto delas, o
coronelismo é folclore .
Cada governo, cada chefe político quer contar a
sua própria versão da história e fazer suas
predições. Com isso, estão sempre confundindo
aqueles que acreditam ser possível uma avaliação
séria de futuro ou descrever a direção e o ritmo
em que se dá o desenvolvimento regional. Os
indicadores de crescimento flutuam desigualmente
entre o Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e até
pela Bolívia. Brasil e Argentina estão sempre
complicando o continente, com recessões
frequentes, a maioria não confessa.
Os dados oficiais carregam uma caminhão de
informações manipuladas pelas conveniências e
pelas ideologias da vez. Daí os investidores
recorrerem ao FMI ou ao Banco Mundial. Em todo o
continente há uma sistemática confusão sobre
liberdade, democracia e multiculturalidade. Cada
um que abre a boca para explicar, complica ainda
mais. Não são fake news .São dificuldades mesmo
para compreender.
Estudos de política revelam que a América Latina
sempre foi tratada – e aceitou - como uma terra
de ninguém, embora tenha chegado a abrigar mais
de 600 nações indígenas nativas e distintas em
usos, costumes e crenças. Grande parte foi
destruída logo pelos invasores portugueses e
espanhóis no processo de colonização. Na esteira
surgiu, entretanto, no continente, um punhado de
empresários e empresas inglesas, alemãs,
norte-americanas, japonesas , agora chinesas,
gerando ou destruindo riquezas . Era o
famigerado imperialismo.
Mas, no meio dos estrangeiros, acolhidos alegres
e gentilmente, podem ser encontrados muitos
agindo no continente como se estivessem no país
de origem: Personagens das mais variadas
nacionalidades, tipos e intenções caminhando
pelas ruas. Só a Argentina de Peron chegou a
abrigar, no pós-guerra, 298 oficiais nazistas
fugidos. Entre eles estava o braço direito de
Hitler, Martim Bormann, o próprio Eichman e
outros do mesmo naipe. Paraguai, Bolívia,
Colômbia, Chile, todos haviam acolhido nazistas.
Com raras exceções, eram refugiados que
alimentavam a ideia de restauração do Terceiro
Reich no continente e até da criação de um
Quarto Reich na América. E o Brasil, com suas
colônias alemãs, se viu também envolvido
diretamente nisso.
Mas, esse tipo de personagem não era só alemão,
nem apenas nazista. Fugido da Rússia por causa
da perseguição de Stalin, Leon Trotski foi
acolhido no México, onde usou e abusou dos
gentis anfitriões. Ex-companheiro de Lênin,
ex-chefe do exército vermelho, defendia a
revolução permanente e ampla, descrevendo, com
clareza, a relação entre países centrais e
satélites, destacando a ideia do imperialismo
como inimigo comum. Daí a pregação da revolução
proletária mundial. Suas reflexões teóricas
reproduzidas na América pelo esotérico argentino
Juan Posadas, espalharam um rastro insurrecional
por todo o continente. Seus vestígios estão aí
dando forma para algumas organizações e partidos
políticos. Ele trouxe a ideia de que a tomada do
Poder em uma região seria suficiente para a
ocupação de todo um continente. Che Guevara iria
, no fim, seguir seus conselhos. Mas, nossos
marxistas-leninistas resistiram. Eles queriam
fazer a própria revolução brasileira.
Nesse cenário, o Brasil sempre se apresentou
como uma porta aberta para os imigrantes. Que o
digam os japoneses. O Império era simpático à
ideia do “branqueamento da população” . A marca
mais forte por aqui foram os italianos. Do meio
deles surgiram grandes empreendedores e
intelectuais, como os Matarazzo, Ometto, Gazzola,
Giannechini, Chiarelli, mas também Gino
Meneghetti, que ficou conhecido como “o bom
ladrão”, os mafiosos Tomazzo Buscheta, Marco
Morabito, até chegar a tipos controversos como
Cesare Battisti, membro do Partido Operário
Revolucionário Italiano. Na realidade, já era
condenado, na Itália, por crimes comuns
anteriores à sua filiação, e fugira.
Esse fluxo migratório terminou acolhendo por
aqui, no final do Império, o contestado chefe
anarquista Giovanni Rossi (1859-1943) e seus
seguidores. Ele fundou no município de Palmeira,
no Paraná a primeira comuna anarquista no mundo
(1889): a Colônia Cecília . Os anarquistas
defendiam a substituição do Estado pela criação
de pequenos núcleos comunitários, a abolição da
propriedade privada, com a adoção da produção
coletiva. A experiência durou quatro anos e, ao
se desintegrar, espalhou anarquistas pelas
periferias das grandes cidades brasileiras,
alimentando as manifestações
anárquico-sindicalistas do início do século XX,
que iriam desembocar na criação do Partido
Comunista em 1922, este mesmo que resistiu às
investidas trotskistas.
Nossa democracia multi-étnica e multicultural
nos dá a liberdade de um zoológico: cada um
grita e age como quer. Ninguém se lembra dos
legítimos habitantes da terra: os índios. Evo
Morales, ao tratar do caso Battisti, foi quem
teve maior bom senso: quem te pariu que te
compre. No Brasil, a hora e a vez está com o
pragmático Bolsonaro. Cabe a ele dar
explicações. Conseguiria? O que ele estaria
prometendo em Davos? |
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