Falta respeito ao cidadão
Quando as coisas vão mal, “ é a economia,
estúpido”; ou quando é necessário investigar a
corrupção, “siga o dinheiro”. Quando o Governo
permanece no descalabro das Políticas Públicas,
“ identifique os motivos”. E então nos deparamos
com um nó difícil de ser desatado. Mesmo quando
os gestores são honestos e capazes, há
dificuldade de reconhecer o usuário como
“sujeito “dos serviços públicos. E, deste modo,
não são identificadas: suas demandas, os
problemas ao procurar atendimento e sua opinião
sobre a qualidade dos resultados.
Avaliações podem incluir o estudo do custo x
benefício, da qualidade e quantidade do
investimento, das entranhas burocráticas de
governo e seus entraves à vida do cidadão. No
entanto, elas não deveriam suprimir, invalidar,
dispensar, a opinião daqueles que foram
atendidos em escolas, hospitais, creches, órgãos
públicos de modo geral. Ao perderem seu tempo, e
até a vida de familiares, os cidadãos ainda
permanecem silenciosamente oprimidos ou ausentes
nas avaliações dos serviços públicos.
Deste modo, os erros e a baixa qualidade do
atendimento público se eternizam. Assim, por
exemplo, as próteses colocadas criminosamente,
sem indicação ou de qualidade inferior. Os
serviços funerários, perseguindo famílias ou
tratando indignamente a preparação dos corpos.
Além do preço extorsivo das urnas funerárias,
que deveriam ser gratuitas. Feitas em
cooperativas de bairro ou prisões e fiscalizadas
pelo governo. E vendidas a partir de um preço
simbólico. Do mesmo modo, a espera infindável
para ser atendido nas emergências ou
consultórios de unidades públicas de saúde, na
constante ausência dos médicos. As casas do
Programa “Minha casa e minha vida”, entregues
com material de terceira qualidade e com
defeitos estruturais. Ou no “volte outro dia” de
tantos serviços burocráticos.
Rigorosamente falando, não vivemos em uma
democracia. Falta respeito ao cidadão mais pobre
e um imenso abismo entre ele e o Estado.
Trata-se, de fato, de um processo de dominação e
extorsão, do tempo e da qualidade de vida do
usuário dos serviços públicos. Feita
cotidianamente, continuamente, extensivamente,
nos labirintos de um atendimento no qual ele,
usuário, não tem voz. Um governo que dedicasse
um esforço efetivo para resgatar a dignidade dos
serviços públicos, teria muito o que comemorar.
A nossa democracia também.
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
31 de mai de 2019 |