Theresa Catharina de Góes Campos

     
Falta respeito ao cidadão

Quando as coisas vão mal, “ é a economia, estúpido”; ou quando é necessário investigar a corrupção, “siga o dinheiro”. Quando o Governo permanece no descalabro das Políticas Públicas, “ identifique os motivos”. E então nos deparamos com um nó difícil de ser desatado. Mesmo quando os gestores são honestos e capazes, há dificuldade de reconhecer o usuário como “sujeito “dos serviços públicos. E, deste modo, não são identificadas: suas demandas, os problemas ao procurar atendimento e sua opinião sobre a qualidade dos resultados.

Avaliações podem incluir o estudo do custo x benefício, da qualidade e quantidade do investimento, das entranhas burocráticas de governo e seus entraves à vida do cidadão. No entanto, elas não deveriam suprimir, invalidar, dispensar, a opinião daqueles que foram atendidos em escolas, hospitais, creches, órgãos públicos de modo geral. Ao perderem seu tempo, e até a vida de familiares, os cidadãos ainda permanecem silenciosamente oprimidos ou ausentes nas avaliações dos serviços públicos.

Deste modo, os erros e a baixa qualidade do atendimento público se eternizam. Assim, por exemplo, as próteses colocadas criminosamente, sem indicação ou de qualidade inferior. Os serviços funerários, perseguindo famílias ou tratando indignamente a preparação dos corpos. Além do preço extorsivo das urnas funerárias, que deveriam ser gratuitas. Feitas em cooperativas de bairro ou prisões e fiscalizadas pelo governo. E vendidas a partir de um preço simbólico. Do mesmo modo, a espera infindável para ser atendido nas emergências ou consultórios de unidades públicas de saúde, na constante ausência dos médicos. As casas do Programa “Minha casa e minha vida”, entregues com material de terceira qualidade e com defeitos estruturais. Ou no “volte outro dia” de tantos serviços burocráticos.

Rigorosamente falando, não vivemos em uma democracia. Falta respeito ao cidadão mais pobre e um imenso abismo entre ele e o Estado. Trata-se, de fato, de um processo de dominação e extorsão, do tempo e da qualidade de vida do usuário dos serviços públicos. Feita cotidianamente, continuamente, extensivamente, nos labirintos de um atendimento no qual ele, usuário, não tem voz. Um governo que dedicasse um esforço efetivo para resgatar a dignidade dos serviços públicos, teria muito o que comemorar. A nossa democracia também.

LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
31 de mai de 2019

 

Jornalismo com ética e solidariedade.