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OS OLHOS DE RHUAN
Seu retrato tem aparecido no jornal. Aparência
franzina, seus olhos redondos e escuros, de
olheiras profundas, aparecem tristes e
inquiridores. Como a perguntar por que nada
fizemos em relação ao seu sofrimento. Um longo
sofrimento, nas mãos de duas macabras e
perversas mulheres. Na reportagem afirmam que
dor, humilhação e tortura marcaram os últimos
cinco anos da vida de Rhuan Maycron. Sem escola,
sem amigos, sem sair de casa, submetido
diariamente a uma morte lenta. Durante a qual
teve pênis e testículos cortados. Por fim, foi
morto a facadas. Seu corpo esquartejado. A irmã,
submetida a maus tratos. Sem ninguém perceber.
Foram cinco longos anos, durante os quais, as
duas marginais permaneceram incólumes a ação de
familiares e da Polícia. Mesmo dando golpes em
cada casa que ocupavam, deixando o aluguel por
pagar. Mesmo sendo duas mulheres enormes,
fisicamente bem visíveis, estranhas no
comportamento. Incrivelmente, não foram notadas
nem na Igreja que frequentavam todos os
domingos. Que Igreja é essa? A família parou de
procurar Rhuan e sua irmã. Todos desistiram. Os
familiares e a sociedade. Todos permaneceram
cegos e eles invisíveis, a sofrerem na carne um
sofrimento renovado a cada dia. Essa mesma
indiferença estava presente nas instituições
abordadas pela reportagem. Como o Conselho
Tutelar, preocupado em se justificar, numa
atitude defensiva. Sem avaliação crítica de sua
atuação. Sem assumir responsabilidades. Apenas
apontando as próprias carências. E esquecendo os
casos que se somam, diariamente, de maus tratos,
violência contra as crianças e assassinatos.
Não temos mais tempo. Muitas crianças já
morreram por nossa indiferença.
Onde estão as Políticas Públicas, cujos
objetivos e estratégias procurem prevenir este
quadro horripilante da sociedade brasileira? A
Avaliação e a Supervisão do que vem sendo feito?
O serviço comunitário que permita visitas
domiciliares, sempre que novos habitantes da
comunidade chegarem sem colocar os filhos na
escola? Ou um serviço de Emergência que receba
denúncias, mesmo as anônimas? Voltado
essencialmente para a violência contra as
crianças; atento, fiscalizador, com ação
imediata sempre que algo pareça estranho e
anormal. Com poder de entrar em residências e
observar as crianças em situação de risco?
Grupos de voluntários nas escolas para
identificar essas situações? Por fim, uma
pergunta: os três irmãos que restaram, depois do
assassinato de um deles, foram entregues à mãe,
dependente de drogas e sem recursos?
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
14 de jun de 2019 |
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