Theresa Catharina de Góes Campos

     
 PARCIALIDADE

Imaginem o que não seria revelado, se os personagens envolvidos nos diálogos gravados ilicitamente, fossem os corrompidos e os corruptores! Imaginem o que seriam entre a turma que se organiza para derrubar a Lava Jato. Enquanto isto, até hoje, os diálogos da equipe da Lava Jato e o então juiz Sérgio Moro, revelam um cuidado com as provas, um interesse em dirimir dúvidas, um questionamento quanto a estratégias que poderiam funcionar melhor na obtenção de resultados. Envolvendo, como é normal no judiciário brasileiro, uma ação mais ativa do juiz.

Todavia, vale lembrar: com que lidavam estes profissionais da Lava Jato? Com a montagem estratégica, sistêmica, estruturada de um amplo trabalho de corrupção nos subterrâneos do Estado, espoliando os recursos públicos para enriquecimento pessoal. Envolvendo quase todas as empresas estatais e Ministérios. Tratava-se de enfrentar a elite da sociedade brasileira. Os maiores grupos de poder do país: grandes empresários, principais figuras do governo, parlamentares, entre outros.

E de que parcialidade estamos falando? De sentimentos, frustrações, interpretações e iniciativas dos profissionais envolvidos na Lava Jato? Em que momento os curtos diálogos, travados sem a menor preocupação, falsearam provas e fatos, induziram depoimentos, mascararam situações? Levando-se em conta que, após tantos recursos, tantos julgamentos em diversas instâncias, os envolvidos foram presos. Assim como retornaram ao Tesouro, somas de dinheiro inacreditáveis, até de pessoas físicas. E os casos não foram questionados. Somente a defesa do ex presidente Lula insiste. Até para justificar seus ganhos. E, apesar de todas as instâncias, não conseguiu provar sua inocência. Impossível, por outro lado, ao questionar o juiz Sérgio Moro, não questionar também todas as outras instâncias condenatórias que compactuaram com seu julgamento.

É inacreditável a soma de recursos que um réu pode impetrar na justiça brasileira. O que a torna um joguete de manipulação. Enquanto isto, a Controladoria - Geral da União (CGU), a Advocacia-Geral da União (AGU), o Ministério Público Federal (MPF) e o Departamento de Justiça Norte americano, anunciaram o final da primeira negociação global no âmbito da Operação Lava Jato. O total envolve um acordo de leniência no valor de R$ 1.13 bilhão, a ser pago pelas empresas Technip Brasil e Flexibras, por contratos fraudulentos que utilizaram verbas públicas para concessão de vantagens indevidas. Desse total, R$ 819 milhões serão destinados a Petrobrás.

LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
28 de jun de 2019
 

Jornalismo com ética e solidariedade.