“ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA”Este é o título
do artigo da jornalista Cida Barbosa no Correio
Braziliense de hoje, 13 de julho. Cida é uma
lutadora pelo direito das crianças serem felizes
e, portanto, uma incansável ativista contra os
abusos e a violência sexual infantil. Seu artigo
de hoje é de uma imensa lucidez e se os pais
deste país o lessem com atenção, estariam mais
preparados para lutarem pelo amadurecimento e
felicidade de seus filhos. Não os deixando
passar por experiências ignóbeis e totalmente
destrutivas para seu amadurecimento como pessoa.
Cida analisa o mais recente caso de abuso e
violência infantil. Cada vez mais frequentes no
DF: o do catequista e treinador de futebol, sem
emprego, vivendo às custas da mulher, que há 26
anos abusava de crianças. A começar as da
família. E, depois, as da Igreja e dos times de
futebol. Todo mundo estranhava sua convivência
frequente com aos meninos, mas se deixavam
impressionar pelas aparências. Além disto, ele
abordava as crianças afirmando que o que fazia
era brincadeira. As maiores
poderiam desconfiar de que algo estava errado.
Porém as menores não tinham noção de que eram
abusadas. Embora pudessem sentir desconforto.
Os pais precisam reconhecer quando estão
diante destas situações. Que incluem, parentes,
professores ligados ao esporte e babás, entre
outros. Ninguém deve estar excluído de uma
investigação, antes de serem incluídos no
círculo de cuidados das crianças. Quem é esta
pessoa, quem pode atestar sua capacidade e
honestidade profissional, sua experiência. Quem
é sua família? É bem constituída ou apresenta
problemas sérios?
Cida explica com objetividade que os pais devem
estar atentos aos sinais que as crianças podem
apresentar e que, muitas vezes, podem ser
confundidos com birra, manha ou manipulação.
Elas, mesmo as menores, sentem que algo não está
bem. São estimuladas sem seu pequeno corpo estar
preparado. E de uma forma abjeta. E serem
convencidos de que se trata de uma brincadeira.
Que não deve ser dita aos pais e responsáveis.
Estejam atentos, portanto, não se omitam por
ignorância ou arrogância. Crianças abusadas
ficam agressivas, têm reações incontroláveis de
frustração, podem roer unhas de ansiedade,
mostram-se tímidas, sofrerem de insônia ou falta
de apetite. Se alguém mais próximo as aborda
para saber alguma coisa, elas podem negar.
Controladas pela figura que as abusa com ameaças
veladas sobre as “brincadeirinhas”.
Cida alerta para o fato de que os pais têm de
manter diálogo com suas crianças. Para
orientá-las na prevenção ou na descoberta das
violações. ”Pais ou responsáveis devem explicar
para elas, por exemplo, quais as partes do corpo
que podem ou não ser tocadas por outras pessoas
e questionar se alguém as trata de forma
inadequada. Tem de ser conversas frequentes, mas
cautelosas, é claro. ” No trato com os pequenos
ninguém é confiável, até prova em contrário. E é
nossa obrigação identificar as origens e o
comportamento de quem cuida ou transita ao lado
de nossos filhos.
É importante lembrar que uma criança feliz
não rói unhas, não tem crises violentas de
frustração. Ela é calma, tranquila, afável,
desinibida, respondendo com naturalidade as
perguntas que são feitas, dorme bem e mantém um
apetite relativamente estável. Claro que isto
não significa um mar de rosas. Ela vai ter seus
momentos de testar limites, de se revoltar, de
brigar pelo que quer. A depender de seu
temperamento. Mas isto é saudável! Faz parte de
seu amadurecimento. É diferente de sentir o tipo
de tristeza, frustração e raiva dos pequenos,
quando expostos a situações de estresse e abuso.
Cida faz um trabalho excelente!
Principalmente porque, além de sua capacidade
profissional, tem um espírito profundamente
sensível ao sofrimento infantil. E não quer
sucumbir à desesperança. Acredita que a
sociedade considere prioridade absoluta o olhar
e cuidar de suas crianças. E que pais se tornem
cada vez mais responsáveis pelo desenvolvimento
de seus filhos, atentos aos sinais de
sofrimento, raiva, frustração e medo. Ignorar
estes sinais é prejudicar seus filhos por toda a
vida.
Lembrando, por fim, que a última vítima do
pedófilo deste caso tinha quatro anos. Mas há
relatos de abusos de bebês. Justamente pelos que
estão próximos. Portanto, trata-se de uma
guerra, na qual devemos descerrar nossos olhos
da ignorância, da boa-fé excessiva. E
despertarmos uma atenção infinda para nossos
pequenos.
07/2019/ LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO |