Theresa Catharina de Góes Campos

     
Comentários de REYNALDO DOMINGOS FERREIRA sobre texto de IVES GANDRA MARTINS

A primeira observação que faço sobre o texto, abaixo reproduzido, de autoria do sr. Ives Gandra Martins, a mim enviado por um amigo, é a de que a intolerância nunca é boa conselheira. " O gênio é a paciência!...", já dizia Buffon, muito citado por Machado de Assis. É, digo eu, a compreensão. Temos de ser compreensivos para com a verdade de cada um, como recomendava Pirandello, em uma de suas peças mais geniais, " Cosi e, se vi Pare". Um péssimo exemplo atual de intolerância, quem dá ao mundo é o sr. Donald Trump, que o Congresso, americano, infelizmente, retarda em mandar embora da Casa Branca. E quando for - se for -, como disse o procurador Muller, esta semana, no Congresso, será certamente processado, na justiça, por infringência às leis do país.

A segunda observaçao é estribada, em apropriadas ponderações do poeta Carlos Drummond de Andrade - em uma de suas crônicas para o extinto " Correio da Manhã -, de que o Brasil é como se fora um pai desnaturado, que quer que seu filhos cresçam logo e que, cada um cuide de sua vida, como lhe aprouver, e puder, ou simplesmente, que desapareçam. Então, os filhos, como manda, por sinal, o figurino atual, muito disseminado, entre nós, pagam ao " pai", com a mesma moeda, isto é, torcem para que ele se dê mal. Que se arruíne!...

Sim, porque os brasileiros, que são muitos, percebem, claramente, que qualquer progresso, que o país consiga obter, de acordo com os prognósticos alvissareiros do governo atual, os beneficiários dele serão poucos... Muito poucos. Uma elite desavergonhada, como temos testemunhado, há anos. Aqui, a lei só existe para alguns. Todos os demais a desrespeitam. Essa é a triste realidade. Então, os brasileiros só torcem pela seleção de futebol, quando, em disputa, com países estrangeiros, a qual lhes proporciona, coletivamente, por igual, um prazer imediato, não importa, que reles, e passageiro.

Da última vez, em que estive em Portugal, vindo da Espanha, enquanto, no aeroporto de Lisboa, aguardava o meu voo de retorno ao país, sentei-me, ao lado de uma brasileira, natural de Goiás, com uma criança, no colo, pela qual, logo, fiquei sabendo, que ela aguardava o marido, vindo de Angola, onde se encontrava trabalhando. Ela se queixou da ausência do esposo, mas observou, que isso seria por pouco tempo, pois ele estaria apenas fazendo um estágio, em Luanda, para depois trabalhar, em definitivo, na empresa, que tem sede, em Lisboa.

No prosseguimento da conversa, a brasileira revelou-me, que o filho, era portador de uma doença rara, sem me dar, entretanto, maiores detalhes sobre ela, mas observando, que, sem ter plano de saúde, tinha toda a assistência médica, gratuita, dada pelo Estado, além de medicamentos e de internamentos, se fosse o caso. E completou: - Eu sinto saudades dos meus familiares, que lá residem, em Goiás. Mas voltar ao Brasil, nunca mais!... Se eu estivesse lá, o meu filho já teria morrido, sem assistência alguma, como a que tenho aqui. Eu amo Portugal!...

Então, sr Ives Gandra Martins, essa é a questão!...
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Começo a ficar intolerante com os que se alegram com o fracasso do país

24 de julho de 2019

Por Ives Gandra da Silva Martins

Toda manhã, ao ler os jornais, hábito que os mais jovens criticam como próprio da velhice, consumo minha dose de irritação com o desenvolver dos acontecimentos e por ver que a periferia do que é relevante é sempre a matéria de maior destaque nas manchetes jornalísticas.

Leia-se, por exemplo, o caso do ex-presidente Lula. Toda a defesa daquele ex-mandatário concentra-se em ter, o julgador, conversado de forma inapropriada com os promotores federais, o que, de rigor, não alterou o amplo direito de defesa que lhe foi assegurado durante todo o processo nas quatro instâncias. As provas, todavia, constantes dos autos, que serviram à condenação nas quatro instâncias, não são objeto das manchetes, tendo-se, inclusive, a impressão de que os diálogos criminosamente obtidos e conivente e convenientemente veiculados, se verdadeiros, valeriam mais que o fato material objeto da condenação. Como advogado há 61 anos, sempre entendi que a advocacia não tem sido bem tratada por magistrados, imprensa e população, que não percebem a importância do direito de defesa numa democracia.

No caso, todavia, o que menos se discute na imprensa é se haveria ou não prova material condenatória, o que levou um juiz, três desembargadores, cinco ministros do STJ e seis do STF a entender que haveria crime na conduta do ex-presidente.

Outra das minhas irritações reside nas turbulências destes primeiros meses. Aspectos positivos não têm repercussão na mídia, como o da maior safra de grãos, o da entrada do capital estrangeiro na casa de quase US$ 100 bilhões, a existência de saldos altos na balança comercial, a inflação abaixo da média estabelecida, a possibilidade de queda dos juros, o fato de as reservas serem superiores a US$ 380 bilhões, o relatório favorável do FMI sobre o estado das contas públicas, o sucesso nas programações de infraestrutura, a assinatura de um acordo emperrado há 20 anos entre Mercosul e União Europeia, o avanço e a liderança entre as nações na defesa dos valores familiares, a manutenção do combate à corrupção, inclusive até no que demonstra, na linguagem popular, ser pé quente, a vitória da seleção brasileira na Copa América, após anos de insucesso internacional. Até a boicotada reforma previdenciária avança.

Reconheço que a equipe presidencial, sem o traquejo político da anterior, está aprendendo a “andar de bicicleta andando”, mas a busca, da imprensa, por desacertos em cada um dos menores incidentes, que ganham, assim, proporções descomunais, parecem torná-los mais importantes do que alguns dos aspectos relevantíssimos da evolução do país. De longe, para tais caçadores de insucessos, vale mais o que vale menos e vale menos o que vale mais.

Começo a ficar intolerante com os que se alegram com o fracasso do país e que se vangloriam em ver a nação afundar por força de suas, quase sempre, infundadas críticas.

Outra das minhas irritações diz respeito à fantástica cobertura que se dá ao crime cibernético. Um gangster digital invade a privacidade das pessoas, regiamente financiado, utiliza-se do sigilo da fonte para que um jornalista, a conta-gotas, vá revelando o produto de seu crime e tal crime e tal parceiro do criminoso são alcandorados pelos que dizem que a mídia vive das más notícias, pois as boas não vendem jornal. De tal maneira, nenhuma cobertura se dá à investigação dos delinquentes da privacidade alheia. Não compartilho da teoria de que os fins justificam os meios, pois gera uma enorme insegurança jurídica, e o ideal de justiça, que é o desiderato maior do Direito, fica pisoteado, transformando-se em uma briga mesquinha pelo poder entre amigos e inimigos.

Tudo isso para um velho advogado de 84 anos gera desconforto, pois, neste final de vida, percebo que o país terá ainda que evoluir muito para viver a democracia que desde os bancos acadêmicos minha turma almejava para o Brasil.

“The last but not the least”, impressiona-me a crítica cerrada de determinada imprensa a ter o presidente declarado que não financiará um filme que enaltece a prostituição como meio de vida, por entender que a família é a base da sociedade e o filme ser corrosivo e deletério aos valores da família. Ora, o que o presidente declarou é o que está na Constituição, ao dizer que a família é a base da sociedade (artigo 226 caput) e que os meios de comunicação deverão ser utilizados para a defesa dos valores éticos da família e da sociedade (artigo 221, inciso IV). Não tem o menor sentido gastar dinheiro do povo para divulgar prostituição. É de se lembrar que a queda das grandes civilizações deu-se quando os costumes se deterioraram, com as mulheres prostituindo-se nos templos da Babilônia para conseguirem dotes para seus casamentos, assim como com o relaxamento dos costumes em Atenas, que terminou perdendo a guerra do Peloponeso para Esparta, e com a degradação familiar no Império Romano Ocidental, como Políbio referiu-se em seus escritos. Ora, ao cumprir o que determina a Constituição, valorizando a família — criou, inclusive, uma Secretaria Nacional da Família —, está o governo cumprindo rigorosamente a lei suprema. É preferível gastar dinheiro do povo com a saúde e educação do que com filmes dessa natureza.

Concluo estas linhas afirmando que em nenhum momento defendo preferências de magistrados pelos membros do Ministério Público ou desequilíbrio de tratamento entre o parquet e advocacia, como demonstrei no livro que coordenei com Marcos da Costa, intitulado A Importância do Direito de Defesa para a Democracia e a Cidadania, com a colaboração de ilustres advogados e juristas brasileiros. Toda a verdade deve ser apurada. Entendo, todavia, que os brasileiros deveriam dar aos fatos conhecidos a sua devida relevância, sem riscos de manipulação, seja pelos criminosos cibernéticos, seja pelas autoridades dos Três Poderes, pela mídia, por partidos políticos ou pelos formadores de opinião. Só assim poderemos entregar a nossos filhos e netos um país melhor do que o que recebemos de nossos ancestrais.
 

Jornalismo com ética e solidariedade.