Theresa Catharina de Góes Campos

     
SOS CRIANÇA

A hora foi sempre adiada. Mas agora poderemos seguir adiante no trabalho de mudar a realidade de nossas crianças. É isto que o Correio Braziliense, com reportagens de Cida Barbosa, propõe para a sociedade brasileira. Em 2017, das 307.367 vítimas de violência no Brasil, 126.230 eram crianças e adolescentes (41%). Em 2018 houve um aumento, um total de 152.178 casos. Com resultados dramáticos: crianças e adolescentes arredios, de baixa autoestima, falta de esperança na vida, agressividade, ansiedade, culpa, entre outros sintomas. Além dos relacionados à violência física, como por exemplo, dor de cabeça, fratura, manchas pelo corpo. E até a morte, com requintes de crueldade, como foi a de Rhuan.

Os números demonstram que não estamos diante de fatos isolados. Estamos diante de uma sociedade doente, de pais e mães que nunca leram sobre educação infantil, que banalizaram a violência como forma de controle, que extravasam nos filhos as frustrações de suas vidas. Ana Cristina Melo Santiago, delegada chefe da DPCA, explica nossa mentalidade ainda subdesenvolvida sobre a criança. Para muitos de nós trata-se de alguém imperfeito, a ser reconhecido quando crescer. Ocorre, diz ela, que a criança é um sujeito de direitos e deveres. O que ela vai ser quando crescer? Ela já é hoje um ser completo, indiscutivelmente único, incrivelmente fascinante, a exigir antes de mais nada, respeito.
A violência é uma doença crônica, diz Marco Antônio Chaves Gama, presidente do Departamento Cientifico de Segurança da SBP. Ela é abrangente, profunda, extensa. Eu diria que fruto de uma sociedade mal alfabetizada, emocionalmente burra, passiva e pouco atenta ao seu redor. Em 2017, o DATASUS informa que houve 126.230 registros de violência contra crianças. Desse total, 10% foram contra crianças de menos de 4 anos de idade. Os agressores são do núcleo familiar, preferencialmente. Os que, como aquela mãe presa em flagrante, afirmava que batia no filho porque tinha direito. “O filho é meu, quem educa sou eu! ” Educa? Você somente educa pelo exemplo, pela compreensão e formas adequadas de lidar com o comportamento Infantil. Esta violência inclui os abusos sexuais. Os exemplos das reportagens demonstram que estes eram desconhecidos pelos pais. Que não estavam atentos às pessoas que cercavam as crianças e aos sinais de sofrimento emitidos pelas vítimas.

O problema da violência infantil é extremamente sério. É grave, prejudicando o futuro de nossas crianças. E se estende a todas as camadas da sociedade. Há um trabalho a ser feito junto aos familiares. E o lugar mais apropriado é a escola, onde os professores deveriam estar atentos aos sinais de sofrimento intenso de seus alunos. E os pais pudessem ser capacitados a compreenderem e a lidar com a educação de seus filhos. Serviços bem estruturados e profissionalmente especializados de Psicologia e Serviço Social, seriam essenciais a este trabalho. Inclusive através de grupos Operativos. Com o encaminhamento para recursos da comunidade, quando necessário.


Os esforços dos Ministérios ligados ao tema e o trabalho agora iniciado pelo Correio Braziliense, podem construir uma unidade propositiva em relação à violência infantil no Brasil. Para usar o termo utilizado por Cristovam Buarque. Unidade propositiva nas políticas e estratégias e na ação propriamente dita. Na qual devemos todos estar comprometidos, como pais, parentes, organizações, voluntariado e a própria justiça. Como explica Chaves Gama, a violência contra a criança é repetitiva e domiciliar. E o caminho da mudança passa pelo conhecimento da gravidade do problema, pois os números são alarmantes e não se fala disso. Não podemos nos esquecer. (09/2019)

LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO

 

Jornalismo com ética e solidariedade.