De: Reynaldo Ferreira
Date: sex, 18 de out de 2019 às 19:41
Subject: Fwd: Artigo do Guzzo que não foi
publicado
Repassando:
Artigo do jornalista José Roberto GUZZO que não
foi publicado ...
a Veja rechaçou, e ele pediu o boné:
“Um dos grandes amigos do Brasil e dos
brasileiros de hoje é o calendário. Só ele, e
mais nenhum outro instrumento à disposição da
República, pode resolver um problema que jamais
deveria ter se transformado em problema, pois
sua função é justamente resolver problemas – o
Supremo Tribunal Federal. O STF deu um cavalo de
pau nos seus deveres e, com isso, conseguiu
promover a si próprio à condição de calamidade
pública, como essas que são trazidas por
enchentes, vendavais ou terremotos de primeira
linha. Aberrações malignas da natureza, como
todo mundo sabe, podem ser resolvidas pela ação
do Corpo de Bombeiros e demais serviços de
salvamento. Mas o STF é outro bicho. Ali a chuva
não para de cair, o vento não para de soprar e a
terra não para de tremer – não enquanto os
indivíduos que fabricam essas desgraças
continuarem em ação. Eles são os onze ministros
que formam a nossa “corte suprema”, e não podem
ser demitidos nunca de seus cargos, nem que
matem, fritem e comam a própria mãe no plenário.
Só há uma maneira da população se livrar
legalmente deles: esperar que completem 75 anos
de idade. Aí, em compensação, não podem ser
salvos nem por seus próprios decretos. Têm de ir
embora, no ato, e não podem voltar nunca mais.
Glória a Deus.
Demora? Demora, sem dúvida, e muita coisa
realmente ruim pode acontecer enquanto o tempo
não passa, mas há duas considerações básicas a
se fazer antes de abandonar a alma ao desespero
a cada vez que se reúne a apavorante “Segunda
Turma” do STF – o símbolo, hoje, da maioria de
ministros que transformou o Supremo,
possivelmente, no pior tribunal superior em
funcionamento em todo o mundo civilizado e em
toda a nossa história. A primeira consideração é
que não se pode eliminar o STF sem um golpe de
Estado, e isso não é uma opção válida dos pontos
de vista político, moral ou prático. A segunda é
que o calendário não para. Anda na base das 24
horas a cada dia e dos 365 dias a cada ano, é
verdade, mas não há força neste mundo capaz de
impedir que ele continue a andar. Levará embora
para sempre, um dia, Gilmar Mendes, Antônio
Toffoli, Ricardo Lewandovski. Antes deles, já em
novembro do ano que vem e em julho de 2021, irão
para casa Celso de Mello e Marco Aurélio – será
a maior contribuição que terão dado ao país
desde sua entrada no serviço público, como
acontecerá no caso dos colegas citados acima. E
assim, um por um, todos irão embora – os bons,
os ruins e os horríveis.
Faz diferença, é claro. Só os dois que irão para
a rua a curto prazo já ajudam a mudar o
equilíbrio aritmético entre o pouco de bom e o
muitíssimo de ruim que existe hoje no tribunal.
Como é praticamente impossível que sejam
nomeados dois ministros piores do que eles, o
resultado é uma soma no polo positivo e uma
subtração no polo negativo – o que vai acabar
influindo na formação da maioria nas votações em
plenário e nas “turmas”. Com mais algum tempo,
em maio de 2023, o Brasil se livra de
Lewandovski. A menos que o presidente da época
seja Lula, ou coisa parecida, o ministro a ser
nomeado para seu lugar tende
a ser o seu exato contrário – e o STF, enfim,
estará com uma cara bem diferente da que tem
hoje. O fato, em suma, é que o calendário não
perdoa. O ministro Gilmar Mendes pode, por
exemplo, proibir que o filho do presidente da
República seja investigado criminalmente, ou que
provas ilegais, obtidas através da prática de
crime, sejam válidas numa corte de justiça.
Mas não pode obrigar ninguém a fazer aniversário
por ele. Gilmar e os seus colegas podem rasgar a
Constituição todos os
dias, mas não podem fugir da velhice.
O Brasil que vem aí à frente, por esse único
fato, será um país melhor. Se você tem menos de
25 ou 30 anos de idade, pode
ter certeza de que vai viver numa sociedade com
outro conceito do que é justiça. Não estará
sujeito, como acontece hoje, à ditadura de um
STF que inventa leis, censura órgãos de imprensa
e assina despachos em favor de seus próprios
membros.
Se tiver mais do que isso, ainda pode pegar um
bom período longe do pesadelo de insegurança,
desordem e injustiça que
existe hoje. Só não há jeito, mesmo, para quem
já está na sala de espera da vida, aguardando a
chamada para o último voo. Para estes,
paciência. (Poderiam contar, no papel, com o
Senado - o único instrumento capaz de encurtar a
espera, já que só
ele tem o poder de decretar o impeachment de
ministros do STF. Mas isso não vai acontecer
nunca; o Senado brasileiro é algo geneticamente
programado para fazer o mal). Para a maioria, a
vitória virá com a passagem do tempo.”
Relembrando:
https://chiquinhodornas.blogspot.com/2018/06/deboche-com-o-brasil-decisao-de-toffoli.html |