Theresa Catharina de Góes Campos

     
 MANCHESTER À BEIRA – MAR por LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO

Quando juntas estão a tristeza da culpa e da saudade e elas são grandes demais, é possível que se desista de viver. Ou, talvez, forças sejam reunidas para continuar em frente. Ou, simplesmente, é possível permanecer na vida, mas sem sentir nada. Exatamente como ele afirmou para ela: “Eu não sinto nada”. Com isso ele queria acalmá-la, pois ela estava emocionada, pedindo desculpas por tudo quanto, desesperada, dissera a ele tempos atrás. Quando os dois haviam sofrido imensa perda, em episódio do qual ele se julgava culpado. Ouvindo a resposta dele, ela julgara que de nada adiantara ter pedido desculpas. No entanto, suas palavras talvez tenham sido como um perdão. Despertando-o para o vazio no qual se afundara, vivendo como um morto vivo. Atento aos que ainda amava, mas distante. Distante de tudo. Apenas como um observador, sem se envolver com a vida.

“Manchester à beira-mar” é um filme acerca das várias formas sob as quais se pode viver as dores da existência. No Condado de Essex, um homem traumatizado foi designado tutor do sobrinho, após a morte do irmão. Que ao estabelecer essa condição em testamento, o obrigara a retornar a sua cidade de origem. Da qual havia saído depois do trauma. Voltar e permanecer na cidade, estava fora de suas possibilidades de superação. Ele retorna para as providências e a história é de tentativa de superação do sofrimento e de como os dois, tio e sobrinho, se descobrem e desenvolvem suas relações.

A história é narrada com uma enorme sensibilidade do diretor e dos atores. E acompanhada por cenas externas de grande beleza. Beleza que se derrama pelas estradas e pela beira mar, assim como por casarios e ruas da pequena comunidade. Um melancólico cenário, das cores claras e cinzas do inverno. Embalado por uma trilha sonora excelente! Que nos lembra a todo momento o quanto o filme tem a oferecer ao espectador. Na riqueza dos detalhes, nas minúcias da interpretação dos atores e no tempo. Principalmente no tempo que preside a forma como são ditas as palavras, como são vividas as emoções e a perfeição dos gestos.

“Manchester a beira – mar” fala também da redenção na dor. De poder um dia olhar a vida e se fazer presente aos poucos. Mas deixa claro, mais uma vez, a importância do tempo de cada um. E a delicadeza da espera diante do imprevisível, do inescrutável. Uma atenta e imprescindível paciência com a dor e seus limites.

O drama foi lançado em 2017, dirigido por Kennet Lonergan, 57 anos, diretor, roteirista e autor do argumento. Dirigiu e elaborou o roteiro. Estrelado por Casey Afleck, Michelle Williams, Kyle Chandler. Recebeu seis indicações ao Oscar e outras tantas, nas mais variadas instituições ligadas ao cinema. Do National Board of Review venceu as categorias de melhor ator, roteiro, filme e performance masculina. Casey ganhou vários prêmios de melhor ator.

LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
20 de maio de 2020
 

Jornalismo com ética e solidariedade.