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MANCHESTER À BEIRA – MAR por LUÍZA
CAVALCANTE CARDOSO
Quando juntas estão a tristeza da culpa e da
saudade e elas são grandes demais, é possível
que se desista de viver. Ou, talvez, forças
sejam reunidas para continuar em frente. Ou,
simplesmente, é possível permanecer na vida, mas
sem sentir nada. Exatamente como ele afirmou
para ela: “Eu não sinto nada”. Com isso ele
queria acalmá-la, pois ela estava emocionada,
pedindo desculpas por tudo quanto, desesperada,
dissera a ele tempos atrás. Quando os dois
haviam sofrido imensa perda, em episódio do qual
ele se julgava culpado. Ouvindo a resposta dele,
ela julgara que de nada adiantara ter pedido
desculpas. No entanto, suas palavras talvez
tenham sido como um perdão. Despertando-o para o
vazio no qual se afundara, vivendo como um morto
vivo. Atento aos que ainda amava, mas distante.
Distante de tudo. Apenas como um observador, sem
se envolver com a vida.
“Manchester à beira-mar” é um filme acerca das
várias formas sob as quais se pode viver as
dores da existência. No Condado de Essex, um
homem traumatizado foi designado tutor do
sobrinho, após a morte do irmão. Que ao
estabelecer essa condição em testamento, o
obrigara a retornar a sua cidade de origem. Da
qual havia saído depois do trauma. Voltar e
permanecer na cidade, estava fora de suas
possibilidades de superação. Ele retorna para as
providências e a história é de tentativa de
superação do sofrimento e de como os dois, tio e
sobrinho, se descobrem e desenvolvem suas
relações.
A história é narrada com uma enorme
sensibilidade do diretor e dos atores. E
acompanhada por cenas externas de grande beleza.
Beleza que se derrama pelas estradas e pela
beira mar, assim como por casarios e ruas da
pequena comunidade. Um melancólico cenário, das
cores claras e cinzas do inverno. Embalado por
uma trilha sonora excelente! Que nos lembra a
todo momento o quanto o filme tem a oferecer ao
espectador. Na riqueza dos detalhes, nas
minúcias da interpretação dos atores e no tempo.
Principalmente no tempo que preside a forma como
são ditas as palavras, como são vividas as
emoções e a perfeição dos gestos.
“Manchester a beira – mar” fala também da
redenção na dor. De poder um dia olhar a vida e
se fazer presente aos poucos. Mas deixa claro,
mais uma vez, a importância do tempo de cada um.
E a delicadeza da espera diante do imprevisível,
do inescrutável. Uma atenta e imprescindível
paciência com a dor e seus limites.
O drama foi lançado em 2017, dirigido por Kennet
Lonergan, 57 anos, diretor, roteirista e autor
do argumento. Dirigiu e elaborou o roteiro.
Estrelado por Casey Afleck, Michelle Williams,
Kyle Chandler. Recebeu seis indicações ao Oscar
e outras tantas, nas mais variadas instituições
ligadas ao cinema. Do National Board of Review
venceu as categorias de melhor ator, roteiro,
filme e performance masculina. Casey ganhou
vários prêmios de melhor ator.
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
20 de maio de 2020 |
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