|
|
|
|
|
|
Eleições municipais: águas pra lá de pantanosas
- Aylê-Salassié F. Quintão* / Comentário de
Reynaldo Domingos Ferreira
Eleições municipais: águas pra lá de pantanosas
- Aylê-Salassié F. Quintão*
Comentário de Reynaldo Domingos Ferreira
De: Reynaldo Domingos Ferreira
Date: ter., 13 de out. de 2020
Subject: Fwd: Eleições municipais
Repassando: O artigo em anexo, de Aylê-Salassié
F. Quintão*, mostra, com clareza, o quadro da
bandalheira, em que vivemos, neste país: em
novembro (15), uma turba de enganadores, de
corruptos, liberados pela justiça, e um grande
número de pessoas, com dupla personalidade vão
se eleger para os cargos de prefeito,
vice-prefeito e vereadores, em 5.568 municípios.
A disputa será ferrenha.
Com a falta de emprego, os pretendentes aos
cargos públicos cresceram, este ano, em 27%, em
relação aos inscritos nas eleições anteriores.
Como acontece, na alta cúpula do governo, esses
candidatos, que se habilitam aos cargos
públicos, no âmbito dos municípios, não têm
competência específica para as funções que vão
exercer.
E muito menos estão preocupados com a queda de
produção, com o aumento exorbitante dos
alimentos, com a falta de perspectivas para os
jovens, bem como para os pais de família,
desempregados. Só querem defender os seus
interesses e os de suas respectivas famílias. O
cidadão comum não tem como se defender. Tem que,
obrigatoriamente, a cada eleição, de chancelar a
bandalheira!... Leiam o artigo:
Eleições municipais: águas pra lá de pantanosas
Aylê-Salassié F. Quintão*
As eleições municipais estão aí prontas para
eleger novos prefeitos, vices e vereadores em
5.568 municípios.
Tudo indica que não haverá avanços. Frases
lapidares de lideranças políticas consagradas em
votos populares - “Eu não pretendo enganar mais
as pessoas” ou “ Consegui desmontar a
Lava-Jato”- , dão uma ideia da imaturidade
persistente da democracia brasileira – esse
orgulho nacional-pequeno-burguês - , do baixo
nível de compreensão do eleitorado e dos
candidatos sobre a prática na política .
Informados precariamente sobre o tema ou
ignorantes mesmo, 140 milhões de brasileiros vão
ter a oportunidade, no dia 15 de novembro, de se
defrontar, nas urnas, com milhares de
enganadores célebres, corruptos liberados pela
Justiça e um grande número de pessoas com dupla
personalidade. Eles estão aí desfilando
diariamente no rádio, na tv, na internet,
repetindo promessas delirantes e insanas,
críticas e ameaças aos concorrentes .
Sem quaisquer constrangimentos, depois das
investigações da Lava-Jato terem revelado grande
número de corruptos em seus quadros, o MDB pediu
registros para 44 mil candidatos no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). O PT, nadando no
financiamento público eleitoral, e o PSDB, com
perfis similares ao do MDB, mas em processo de
encolhimento, não ficam para trás. O PSD,
surgido na eleição de 2016, inscreveu 38.975
candidatos; o Partido Progressista (PP), 37.745,
ou seja, 30% a mais do que 2016. O Podemos
(Pode), saltou de 10.280, em 2016, para 20.071,
aumentou em 104,99% o número de candidatos
inscritos. O PSL, Sociais Liberais, inscreveu
21.667, número 105,8% superior ao da eleição de
2016. O DEM (Democratas) , que esteve para ser
extinto, saltou de 10.583 inscritos na eleição
passada para 32.536. Partidos tradicionais
considerados de esquerda, encolheram .
A Democracia Cristã lidera com uma redução de
candidaturas: de 7.607 para 4.635. Caiu 39,07%.
Em 2020, conforme o Tribunal Eleitoral, houve um
aumento de 27% no número de candidatos inscritos
em relação às eleições anteriores. Em 2016, só
nas 26 capitais estaduais foram registrados
18.934 candidatos a prefeito e a vereador . A
eleição passou a ser, no Brasil , um paradigma
para o jogo de interesses e da má fé . O campo é
cada vez mais fértil para as virtuais
polarizações. Os confrontos retóricos são vazios
e os desmascarados sentem-se à vontade para
fazer ameaça aos concorrentes em diversos
municípios do interior.
Não emerge ninguém com competência específica
preocupado com a queda constante da produção,
com o aumento da inflação, com o crescente
número de jovens e pais de família
desempregados, nem com o equilíbrio fiscal nos
orçamentos públicos, da União, dos Estados e dos
Municípios. Para os políticos, o negócio é
gastar. Não existem também projeções de futuro:
parece não pertencer sequer a Deus. Em 2021 já
se espera um estouro das contas públicas e
problemas gravíssimos para os governantes e para
a população. A solução de todos os governos é a
privatização do patrimônio público.
O quadro que aí está encobre uma distinção entre
os agentes do mal e da maldade nos 5.568
municípios. Difícil apontar um defensor de uma
união cidadã – a identidade de nacional está
indo para o brejo - o Estado como instituição, e
o destino das políticas públicas voltadas para o
desenvolvimento e a justiça social.
A culpa é, sem dúvida dos dirigentes políticos
encravados no Executivo, no Legislativo e no
Judiciário. O STF libera criminosos conhecidos e
condenados, afrontando a lei da Ficha Limpa. O
Congresso aprova leis convenientes para
deputados e senadores, e o Executivo se esconde
atrás das crises para ignorar o abandono das
políticas públicas. Tudo é cinicamente
justificado com sendo o exercício da democracia
que vai abrigando conveniências, interesses
ideológicos e familiares. O cidadão comum não
tem como reagir.
As eleições no Brasil se transformaram em uma
disputa por emprego público e em um espaço de
enriquecimento de aparentados. O candidato
honesto, se existir, torna-se apenas mais um na
multidão dos 540 mil inscritos no TSE. Nesse
cenário vagueiam celebridades identificadas com
as vulgaridades da vida social. É uma quase
perda de tempo o Manual do Prefeito para
orientar a gestão municipal e os interesses
públicos locais, em que milhares sobrevivem dos
repasses feitos pela União.
Ninguém tem medo do Tribunal de Contas, cujos
membros nadam tranquilos nessas águas pra lá de
pantanosas, nem se assusta com a nova
presidência do Tribunal Eleitoral.
A que ponto a democracia nos conduziu. Conseguiu
desarrumar o País e dividir a Nação em pequenos
guetos particulares, sob a proteção dos partidos
políticos. As eleições deste ano terão o maior
número de concorrentes dos últimos 20 anos.
Provavelmente, aproveitando a desculpa da
disseminação da pandemia, vai-se ter também a
maior abstenção de todos os tempos. É uma pena
porque nem a abstenção, a única arma do eleitor,
poupa-o de eleger uma nova safra de maus
políticos. Tudo é contado proporcionalmente.
*Jornalista e professor |
|
|
|