Theresa Catharina de Góes Campos

 
Universidade de Brasília
terça-feira, 31 janeiro, 2006
 

20/ 01/ 2006 - cultura

Como aprender a enxergar

Debate sobre peça de teatro expõe a problemática
das relações humanas e da deficiência visual

Eduardo Cunha
Da Assessoria de Comunicação

Camila Martins/UnB Agência
Julia Lemmertz interpreta, pela segunda vez, uma cega

Baseada em relato de um caso verídico atendido pelo Dr. Oliver Sacks, a peça Molly Sweeney, um Rastro de Luz (em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil) traz à tona a temática da deficiência visual como pano de fundo para aprofundar a questão da aprendizagem do “enxergar”. Cega desde os 10 meses de vida, Molly, interpretada pela atriz Julia Lemmertz, tem a oportunidade de voltar a ver  o mundo aos 41 anos de idade. Seu marido Frank (Orã Figueredo), um visionário irlandês em busca de sonhos, passa a pesquisar tudo sobre cegueira e decide incentivá-la a fazer uma cirurgia que pode recuperar sua visão.

Camila Martins/UnB Agência
Figueredo lembrou que boa intenção, às vezes, prejudica o outro

Como apoio, ele a acompanha nas consultas ao médico Peter Rice (Ednei Giovenazzi), que tem um brilhante passado profissional mas que há tempos não exercia a profissão devido a um trauma que o fez afastar-se da oftalmologia. Os temas tratados na peça foram discutidos na manhã de sexta-feira, 20 de janeiro, no anfiteatro 9 do Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília (UnB). O debate, que contou com a presença do elenco (Julia Lemmertz, Orã Figueiredo e Ednei Giovenazzi), lotou o auditório em mais uma edição do encontro mensal Pontos de Visão, promovido pela Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA) do Decanato de Assuntos Comunitários da UnB.

APRENDIZADO – A atriz Julia Lemmertz que já interpretou uma personagem cega na novela O Beijo do Vampiro explica que a diferença entre os dois papéis é que na televisão há mais dificuldade em interpretar uma deficiente visual pela quantidade de câmeras no estúdio. Na peça em que os atores não chegam a contracenar, cada um fica sentado de frente para a platéia contando no microfone o depoimento das vidas de seus personagens. ”É como se fosse uma CPI”, brinca Julia.

Orã Figueredo que interpreta o marido de Molly, explica que a história fala das relações humanas e do cuidado que se deve ter ao ajudar outras pessoas. ”Às vezes, com uma boa intenção, você pode prejudicar os outros. Meu personagem queria muito que a mulher voltasse a enxergar, mas ela acabou enfrentando muitas dificuldades nessa nova realidade”, analisa. Para o ator Ednei Giovenazzi, que tem vasta carreira na televisão, cinema e teatro brasileiro e traz pela sétima vez uma peça de teatro a Brasília, o papel de Peter Rice lhe ensinou novas coisas.

Camila Martins/UnB Agência
Apesar da carreira longa, Giovenazzi foi surpreendido pelo personagem

”Aprendi que, às vezes, muitas pessoas fazem um bem pensando em algum retorno para elas próprias. O certo é ajudarmos no sentido de tornar quem recebe a doação independente, mais participante da vida e mais feliz”, afirma o ator. Giovenazzi interpreta um oftalmologista que, ao tentar recuperar a visão de sua paciente, pretende reaver seu prestígio profissional.

DIFICULDADES REAIS – O estudante do 6° semestre de  Serviço Social Alexandre Pereira Fonseca, 22 anos, que possui paralisia cerebral desde o nascimento fez questão de subir ao palco para fazer uma comparação da personagem cega com os problemas enfrentados por todos os deficientes. ”A  deficiência é lembrada pela limitação. Porém, o certo é levarmos em conta as potencialidades de cada indivíduo independente de seus problemas”, explica.

Camila Martins/UnB Agência
Fonseca diz que foco deve estar nas potencialidades de cada um

Presente à platéia, a vice-coordenadora do Programa de Apoio a Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE) da UnB, Eneida Bueno Benevides, também subiu ao palco para falar sobre sua experiência. Ela destacou que é muito importante para as pessoas com deficiência serem vistas como cidadãos comuns. ”Todos nós temos algum tipo de limitação. E é importante que cada pessoa respeite o outro sem taxação”, defende. Ex-aluna de Letras da UnB e mediadora dos debates do Pontos de Visão, Julianny Mucury já assistiu à peça e recomenda. "É 1h50 de puro êxtase. Os personagens são todos complexos e a história prende a atenção do começo ao fim”, recomenda.

SERVIÇO
A peça Molly Sweeney, um Rastro de Luz estará no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) até o dia 29 de janeiro, sempre de quinta a sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h. Ingressos a R$ 15,00. Estudantes pagam meia entrada.

 
 

PONTOS DE VISÃO

É uma série de debates mensais organizados pela Diretoria de Esporte Arte e Cultura (DEA) que leva ao público universitário questões relevantes na visão de convidados especiais e conhecidos na cidade ou fora dela. O programa existe desde 1999 e já recebeu vários artistas e personalidades.

O ELENCO

Julia Lemmertz – Começou a carreira de atriz na TV em 1981 com a novela Os Adolescentes, na Rede Bandeirantes, e hoje acumula trabalhos também no cinema, teatro e como apresentadora do programa Revista do Cinema Brasileiro da TVE-Brasil. Em sua carreira nos palcos, destacam-se Orlando, Viagem ao Centro da Terra, Hamlet, Eu sei que vou te amar. No cinema, protagonizou produções como Um copo de Cólera, Até que a vida nos separe, A hora mágica e As três marias. Na TV participou de 16 novelas e minisséries. Recebeu indicação ao Grande Prêmio Cinema Brasil, na categoria de Melhor Atriz, por sua atuação em Um Copo de Cólera (1999).

Ednei Giovenazzi - Conhecido do grande público pela sua participação em mais de 30 novelas e especiais de televisão como Selva de Pedra, Os Ossos do Barão, Que Rei Sou Eu, Felicidade, Tropicaliente, Sabor da Paixão, entre outras. Além disso, tem longa história teatral: mais de 30 peças no repertório.

Orã Figueredo - Formado pela Casa de Arte de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro, já participou de 37 espetáculos teatrais, entre eles Os melhores de nossas vidas, A mulher carioca aos 22 anos e O que diz Molero (2003/2004), trabalho com o qual recebeu o prêmio Shell de melhor ator do ano.

 

Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.


Página inicial

Sobre o site

Histórico

UnB em números

Cadastre-se
 

Jornalismo com ética e solidariedade.