|
20/ 01/ 2006 -
cultura
Como aprender
a enxergar
Debate sobre
peça de teatro expõe a
problemática
das relações humanas e da
deficiência visual
Eduardo Cunha
Da
Assessoria de Comunicação
Camila Martins/UnB
Agência |
|
Julia Lemmertz
interpreta, pela segunda
vez, uma cega
|
Baseada em
relato de um caso verídico
atendido pelo Dr. Oliver Sacks,
a peça Molly Sweeney, um
Rastro de Luz (em cartaz no
Centro Cultural Banco do Brasil)
traz à tona a temática da
deficiência visual como pano de
fundo para aprofundar a questão
da aprendizagem do “enxergar”.
Cega desde os 10 meses de vida,
Molly, interpretada pela atriz
Julia Lemmertz, tem a
oportunidade de voltar a ver o
mundo aos 41 anos de idade. Seu
marido Frank (Orã Figueredo), um
visionário irlandês em busca de
sonhos, passa a pesquisar tudo
sobre cegueira e decide
incentivá-la a fazer uma
cirurgia que pode recuperar sua
visão.
Camila Martins/UnB
Agência |
|
Figueredo lembrou que
boa intenção, às vezes,
prejudica o outro |
Como apoio, ele
a acompanha nas consultas ao
médico Peter Rice (Ednei
Giovenazzi), que tem um
brilhante passado profissional
mas que há tempos não exercia a
profissão devido a um trauma que
o fez afastar-se da
oftalmologia. Os temas tratados
na peça foram discutidos na
manhã de sexta-feira, 20 de
janeiro, no anfiteatro 9 do
Instituto Central de Ciências da
Universidade de Brasília (UnB).
O debate, que contou com a
presença do elenco (Julia
Lemmertz, Orã Figueiredo e Ednei
Giovenazzi), lotou o auditório
em mais uma edição do encontro
mensal Pontos de Visão,
promovido pela Diretoria de
Esporte, Arte e Cultura (DEA) do
Decanato de Assuntos
Comunitários da UnB.
APRENDIZADO
– A atriz Julia Lemmertz que
já interpretou uma personagem
cega na novela O Beijo do
Vampiro explica que a
diferença entre os dois papéis é
que na televisão há mais
dificuldade em interpretar uma
deficiente visual pela
quantidade de câmeras no
estúdio. Na peça em que os
atores não chegam a contracenar,
cada um fica sentado de frente
para a platéia contando no
microfone o depoimento das vidas
de seus personagens. Ӄ como se
fosse uma CPI”, brinca Julia.
Orã Figueredo
que interpreta o marido de Molly,
explica que a história fala das
relações humanas e do cuidado
que se deve ter ao ajudar outras
pessoas. ”Às vezes, com uma boa
intenção, você pode prejudicar
os outros. Meu personagem queria
muito que a mulher voltasse a
enxergar, mas ela acabou
enfrentando muitas dificuldades
nessa nova realidade”, analisa.
Para o ator Ednei Giovenazzi,
que tem vasta carreira na
televisão, cinema e teatro
brasileiro e traz pela sétima
vez uma peça de teatro a
Brasília, o papel de Peter Rice
lhe ensinou novas coisas.
Camila Martins/UnB
Agência |
|
Apesar da carreira
longa, Giovenazzi foi
surpreendido pelo
personagem |
”Aprendi que,
às vezes, muitas pessoas fazem
um bem pensando em algum retorno
para elas próprias. O certo é
ajudarmos no sentido de tornar
quem recebe a doação
independente, mais participante
da vida e mais feliz”, afirma o
ator. Giovenazzi interpreta um
oftalmologista que, ao tentar
recuperar a visão de sua
paciente, pretende reaver seu
prestígio profissional.
DIFICULDADES
REAIS – O estudante do 6°
semestre de Serviço Social
Alexandre Pereira Fonseca, 22
anos, que possui paralisia
cerebral desde o nascimento fez
questão de subir ao palco para
fazer uma comparação da
personagem cega com os problemas
enfrentados por todos os
deficientes. ”A deficiência é
lembrada pela limitação. Porém,
o certo é levarmos em conta as
potencialidades de cada
indivíduo independente de seus
problemas”, explica.
Camila Martins/UnB
Agência |
|
Fonseca diz que foco
deve estar nas
potencialidades de cada
um |
Presente à
platéia, a vice-coordenadora do
Programa de Apoio a Pessoas com
Necessidades Especiais (PPNE) da
UnB, Eneida Bueno Benevides,
também subiu ao palco para falar
sobre sua experiência. Ela
destacou que é muito importante
para as pessoas com deficiência
serem vistas como cidadãos
comuns. ”Todos nós temos algum
tipo de limitação. E é
importante que cada pessoa
respeite o outro sem taxação”,
defende. Ex-aluna de Letras da
UnB e mediadora dos debates do
Pontos de Visão, Julianny
Mucury já assistiu à peça e
recomenda. "É 1h50 de puro
êxtase. Os personagens são todos
complexos e a história prende a
atenção do começo ao fim”,
recomenda.
SERVIÇO
A peça Molly Sweeney, um
Rastro de Luz estará no
Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB) até o dia 29 de janeiro,
sempre de quinta a sábados, às
21h, e aos domingos, às 20h.
Ingressos a R$ 15,00. Estudantes
pagam meia entrada.
|
|
PONTOS DE
VISÃO
É uma série de
debates mensais organizados pela
Diretoria de Esporte Arte e Cultura
(DEA) que leva ao público
universitário questões relevantes na
visão de convidados especiais e
conhecidos na cidade ou fora dela. O
programa existe desde 1999 e já
recebeu vários artistas e
personalidades.
O ELENCO
Julia
Lemmertz – Começou a carreira de
atriz na TV em 1981 com a novela
Os Adolescentes, na Rede
Bandeirantes, e hoje acumula
trabalhos também no cinema, teatro e
como apresentadora do programa
Revista do Cinema Brasileiro da
TVE-Brasil. Em sua carreira nos
palcos, destacam-se Orlando,
Viagem ao Centro da Terra,
Hamlet, Eu sei que vou te
amar. No cinema, protagonizou
produções como Um copo de Cólera,
Até que a vida nos separe, A hora
mágica e As três marias.
Na TV participou de 16 novelas e
minisséries. Recebeu indicação ao
Grande Prêmio Cinema Brasil, na
categoria de Melhor Atriz, por sua
atuação em Um Copo de Cólera
(1999).
Ednei
Giovenazzi - Conhecido do grande
público pela sua participação em
mais de 30 novelas e especiais de
televisão como Selva de Pedra,
Os Ossos do Barão, Que Rei
Sou Eu, Felicidade,
Tropicaliente, Sabor da
Paixão, entre outras. Além
disso, tem longa história teatral:
mais de 30 peças no repertório.
Orã Figueredo
- Formado pela Casa de Arte de
Laranjeiras (CAL), no Rio de
Janeiro, já participou de 37
espetáculos teatrais, entre eles
Os melhores de nossas vidas,
A mulher carioca aos 22 anos e
O que diz Molero (2003/2004),
trabalho com o qual recebeu o prêmio
Shell de melhor ator do ano.
|