Haicaístas:
Está à venda o número 65 da
revista bilíngue Brasil Nikkei
Bungaku, publicada pela
Associação Cultural e Literária
Nikkei Bungaku do Brasil, com os
haicais em português enviados
por colaboradores de todo o
país.
Em 2020, excepcionalmente,
apenas dois números foram
publicados em consequência das
restrições decorrentes da
pandemia do COVID-19.
A revista Brasil Nikkei Bungaku
é uma publicação quadrimestral
que originalmente divulgava a
produção literária em língua
japonesa da comunidade
nipo-brasileira. Tem seções de
contos, ensaios, crônicas, tanca,
haicai, senryu e poesia livre,
além de traduções de
literatura brasileira para o
japonês.
Hoje a revista também divulga
trabalhos em língua portuguesa
(haicai, conto, poesia e
crônica), num espaço aberto à
participação de todos os
interessados.
A edição 65 tem 79 páginas em
língua portuguesa. O editor da
seção de língua portuguesa é o
escritor André Kondo.
A editora da seção de língua
japonesa é Michiyo Nakata.
Para adquirir um número,
solicite pelo e-mail secretaria@nikkeibungaku.org.br
Nesta edição, foram selecionados
e publicados 97 haicais de 25
autores, com temas de outono,
selecionados por Edson Kenji
Iura, que seguem abaixo.
***
beiral em silêncio –
a borboleta de outono
num gesto de asas
estrela cadente –
em minha terra natal
quem a terá visto?
noite na fazenda –
com o inseto cantador
inspiro e expiro
ainda no cais
aves e homens de pesca –
noite enluarada
diante da igreja
mais lento o sinal da cruz –
dia de outono
Alexander Pasqual
São José dos Campos, SP
***
Passa a correnteza –
O reflexo da libélula
o rio não leva
Na encosta do muro
o abacateiro estremece –
Um ploct no chão
Noite de luar –
Sob o teto de vidro
a cama arrumada
Domingo de sol –
A capivara caminha
no parque vazio
Um som de apito –
O vigia segue a lua
noite adentro
Alvaro Posselt
Curitiba, PR
***
Tempo de quaresma –
As imagens na Matriz
cobertas de roxo.
Silêncio na rua –
Só, sentado na varanda,
contemplo o luar.
Ao cair da tarde,
um bando de periquitos
pousado na antena.
À beira do córrego,
filhotes de capivara
no banho de sol.
Vigília Pascal.
A luz do círio, enfim,
rompe a escuridão.
Antônio Seixas
Magé, RJ
***
Domingo outonal –
Fecho os olhos para ouvir
barulho da chuva.
Friozinho de outono.
O barulho da goteira
atravessa a noite.
Um ventinho fresco
balança toalhas no varal –
folhas amarelas.
A chuva de vento
feito ondas no telhado...
noitinha de outono.
Barulho de lata
rolando pelo quintal –
Rajada de outono.
Benedita Azevedo
Magé, RJ
***
Ninguém mais nas ruas,
Em plena noite de sexta –
Outono avançado.
Céu azul profundo –
Apenas algumas aves
Ao longe esvoaçam.
Na trilha, após horas,
O alívio dos mochileiros –
Água transparente.
Logo ao despertar,
Brilho nos olhos da filha –
Ah, ovos de Páscoa.
Em toda a cidade,
Lembranças vivas da infância –
Flores-da-quaresma.
Carlos Alberto Bittar Filho
São Paulo, SP
***
Noite estrelada
Enfim, o Cruzeiro do Sul
no céu da metrópole
Cheiro de queimado
e ela de celular na mão
Arroz com quiabo
Também curvada
a minha mãe no jardim
Chuva-de-ouro
Para lá, para cá...
Aponta o bico indeciso
o beija-flor
Caqui marrento
A idosa discretamente
faz uma careta
Carlos Martins
São Paulo, SP
***
imensa tristeza
pela capoeira seca
vaga a cutia
maritacas passam
numa grande gritaria
o dia nublado
manhã de surpresa
flutuam nas poças d’água
flores da paineira
invade meus olhos
a lua cheia de outono
solidão imensa
casal de idosos
debruçados sobre a janela
tarde de outono
Carlos Viegas
Brasília, DF
***
Noite alongada...
Nostálgicas lembranças
dos que já se foram.
Enorme no céu...
Sob um profundo silêncio
Lua-desta-noite.
Janela entreaberta –
A iluminar os meus sonhos
a noite estrelada.
Estrela cadente!
Penso no que gostaria
e ela já se foi.
Acompanho outra
despedida de andorinhas.
Ah, voltem logo...
Cristiane Cardoso
São Paulo, SP
***
na casa do vizinho
o hino do time rival –
canto do papagaio
Domingo de Ramos –
vovó assiste à missa
pelo celular
porções de pinhão –
entre um assunto e outro
os potes vazios
a criança pergunta
o nome da árvore –
folhas amareladas
retorno do treino –
no meio do abacate
um pouco de mel
Daniel Morine
Santos, SP
***
Ilumina a noite,
Lua cheia no outono.
Vastidão do céu.
Danielle Ferreira Czmyr
Curitiba, PR
***
a casca se rompe:
aromas da mexerica
perfumam as mãos
Eduardo Hernandes
Brasília, DF
***
Surgem no horizonte
sob a luz da lua nova –
Tropeiros na estrada
Galhos a vergar
Cheios de café maduro –
Debulha está próxima
Praia abarrotada
em pleno meio da tarde –
Dia do Trabalho
Cheia de presentes
família chega de longe –
Sexta-feira Santa
Papagaio late
pra perturbar os cachorros –
Termina o silêncio
George Goldberg
Londres, Inglaterra
***
Renques de espatódeas,
cálices de boas-vindas –
Portal da fazenda
Robalo no espeto!
Alegres participantes –
"novelas" de pesca.
Uma linha móvel –
sombra no espelho marinho!
Aves de arribação.
Manacá-da-serra
em três cambiantes cores –
Perfumosas flores!
Vetusta paineira –
espinhos mil, flores raras!
O tempo esvaece...
Irene Fuke
São Paulo, SP
***
Lua de outono
no tronco da velha árvore
Nossas iniciais
Neste outono
o branco em meus cabelos
Nem percebi
Outro outono
na imagem do espelho
Vejo minha mãe
Lento entardecer
réstias do sol de outono
Nos pelos do cãozinho
Tardinha de outono
meus pés já quase sem ritmo
Seguem a trilha
Jô Marcondes
Irati, PR
***
Ruela esquecida
(ladra o cão, luar outonal)
alçapão às vezes
Lúcio Kume
São Paulo, SP
***
A chuva outonal
sobre a campa dos meus pais –
Também as lágrimas.
Subida da serra –
Somente os faróis dos carros
no denso nevoeiro.
Madrugada afora –
O cricrilar do grilo
e o ronco do avô.
Jardim abandonado –
No cântaro quebrado
flores de bonina.
Varanda do asilo –
Afaga as faces enrugadas
o vento de outono.
Mahelen Madureira
Santos, SP
***
Na varanda,
o descanso da leitura –
Última lua cheia.
No fundo da gaveta,
a receita da vovó –
Bolinhos de milho.
Aurora na praia –
Cortina balança ao sopro
do vento de outono.
As rugas da face
dourada por um instante –
Pôr do sol de outono.
Cai uma lágrima,
no álbum de fotografias –
Chuva outonal.
Maria Cristina Chinen Robertson
Santos, SP
***
Lago de outono...
no reflexo das nuvens
Casal de marrecos
Outro outono –
Na imensidão do campo
somente bois brancos
Sol de outono –
brilha sobre a pedreira
filete d’água
À porta da casa
a borboleta de outono –
discreta entre as flores
Manhã de outono,
desalinha os penteados
O forte vento
Matusalém Dias de Moura
Iúna, ES
***
Banco no quintal:
meu avô treme de frio
sob o sol do outono.
Maurício Cavalheiro
Pindamonhangaba, SP
***
Céu azul profundo –
Assobia sem querer
o velho ranzinza...
Reluz a manhã –
O som do sanhaço arisco
tão breve, tão claro...
Folhas amareladas –
O homem varre a calçada,
Pensamento longe...
Em torno das árvores,
a leveza das libélulas –
Nasce a manhã.
Cachepô antigo
na entrada do casebre –
Branca flor-de-maio...
Mônica Monnerat
Santos, SP
***
Olhos rasos d’água
procurando o filho ausente –
Dia das Mães no asilo.
Frio leve de outono –
Aquecimento mais forte
antes da corrida.
Paulo Cezar Tórtora
Rio de Janeiro, RJ
***
Canoa no mar –
Na rede do pescador
o brilho da Lua
Noite de outono –
Da cadeira na calçada
olhar de saudade
Colheita de arroz –
A canção dos camponeses
ecoa na aldeia
Noite de insônia –
No silêncio da varanda
o canto do grilo
Barraca na feira –
O maço de soja em rama
para o tira gosto
Regina Alonso
Santos, SP
***
De seu helicóptero,
fazendeiro sobrevoa
arrozal de outono.
Renata Paccola
São Paulo, SP
***
Sob o céu de outono
na superfície do lago
ocaso dourado
Início de outono
a natureza agradece
um caqui no chão
Vento leva as folhas
que enfeitam o jardim
lembranças do outono
Solange Firmino de Souza
Rio de Janeiro, RJ
***
A folha amarela
no meio de tantas outras –
belo envelhecer.
As cores do outono
Alegram o entardecer –
Hora de devaneio.
Sonia Rodrigues
Santos, SP
***
Abraços,
---
Edson Kenji
Iura
kakinet@gmail.com
www.kakinet.com