Theresa Catharina de Góes Campos

     
O nó do julgamento de Moro - Reynaldo Domingos Ferreira // Panteão: jurisprudências desqualificam a Constituição - Aylê-Salassié F. Quintão*

De: Reynaldo Domingos Ferreira

Date: qua., 31 de mar. de 2021
Subject: O nó do julgamento de Moro

Nada de mais exato do que a afirmativa do Aylê-Salassié F. Quintão
, no artigo, em anexo, de que " oligarquicamente, banqueteia-se, 
no Poder, e cospe-se fácil no prato, depois de locupletar-se de salários e privilégios." Pois foi isso o que aconteceu - um hábito bem brasileiro - na suprema corte de justiça, quando, naquele recinto, tentou-se desqualificar a justa e honorável ação do íntegro juiz Sérgio Moro, e por consequência, da Operação Lava Jato, a qual desmontou o esquema sistêmico de corrupção, que assola o país, desde o início deste século.

 
Antecipando-se às comemorações do aniversário do estabelecimento  do estado discricionário, de 31 de Março de 1964, o STF já suspendeu as garantias constitucionais de liberdade de expressão e, na dita oportunidade de julgar a suspeição do digno juiz, com base em provas ilegais, outra coisa não promoveu a suprema corte, por seus suspeitosos integrantes, advogados de ladrões, senão decretar a dissolução do poder judiciário e enxovalhar toda a magistratura do país. 

 
A aberração foi tão grande que a imprensa internacional, estarrecida, foi  levada a estabelecer o entendimento de que o Brasil é hoje o pior país do mundo!... Sim, o pior país do mundo!... E, ao consagrar, o STF, em definitivo, o sistema de corrupção, disseminado pela organização criminosa petista, propiciando a oportunidade de seu líder de se candidatar, novamente, às eleições presidenciais, do próximo ano,  praticamente inviabiliza o país de participar do plano do governo Biden, dos EUA, de privilegiar, em seus projetos de ajuda econômica, os países da América Latina, que procederem, em sentido contrário, isto é, empreenderem esforços, como os que vinham fazendo os procuradores da Operação Lava Jato. É essa a realidade.  Reynaldo Domingos Ferreira, jornalista e escritor

Panteão: jurisprudências desqualificam a Constituição

Aylê-Salassié F. Quintão*

- Você não confia no seu Supremo? - indagou o ministro a um jornalista que o interpelava em um programa de televisão. 

Esperava ele, certamente, uma resposta contemporizadora, ao estilo mineiro. Mas o jornalista não escorregou na “casca de banana”, e respondeu:

- Não. Não confio.

Em que pese o Supremo Tribunal Federal pretender ser o pai da justiça e da moral pública, mandando punir, vez por outra, quem o critica, depois do esvaziamento sistemático da Lava Jato e do episódio Moro, não parece restar dúvida de  que se está diante de uma militância política, e não do exercício da hermenêutica jurídica.

O regime republicano nos moldes adotado é um campo propício para aventuras de todos os gêneros e modalidades. A escravidão, a discriminação, o capitalismo, o fascismo ou a etérea presença do comunismo não construíram sozinhos esse estado de confusão mental no brasileiro. Isto é fruto da corrupção histórica e da imoralidade na esfera pública 

que, de impensáveis e múltiplas formas, insiste em permanecer. Não poupam nenhuma instância política, civil ou jurídica. São aceleradores distópicos do desenvolvimento e da soberania nacional.

Oligarquicamente, banqueteia-se no Poder, e cospe-se fácil no prato, depois de locupletar-se de salários e privilégios. 

Há pouco tempo, ministros do STF, citados nominalmente, foram chamados de “frouxos” . Não reagiram.   

Outro liberou um traficante amplamente conhecido por atividades criminais. Um terceiro, contrariando os próprios tribunais. liberou um empresário que financiava autoridades. Manteve-se o foro privilegiado para parlamentares e juízes e agora abrigam também informações obtidas e transmitidas por hackers, inclusive estrangeiros. 

Lembra a “deduragem”, os julgamentos sumários, subornos e influências familiares no circuito do Estado.

Há poucos dias, um dos ministros reconheceu que havia dentro do Supremo uma articulação para desqualificar a Operação Lava Jato, essa corajosa  e pioneira iniciativa por meio da qual  esperava-se interromper o fluxo de imoralidades que conduz a História do Brasil,  confundindo o público com o privado, e impedindo o desenvolvimento do País. Agora a retórica vazia quer fazer acreditar que foi a Lava Jato que fez surgir Bolsonaro. 

Não acredite nisso: foi o silêncio dos inocentes, a “espiral do silêncio da opinião pública” (Noelle-Neuman,1995). 

Preste-se atenção: para esse povo, Bolsonaro representaria bem mais do que se vê.

Os deuses estão aí.  Os  do Panteão nacional  não surgiram do fundo do mar ou da imensidão do universo, nem de vitórias sobre fantasmas e monstros, de contribuições revolucionárias , da superação pessoal de desafios públicos - a pobreza, a fome, a injustiça, a discriminação - ou ainda de contribuições acadêmicas relevantes. Não lutaram e não lutam em lugar algum, jogam. Atuam nos tapetões, com ar condicionado,  conchavos e conveniências, degustando, se possível, lagosta fresca.

“Nunca antes neste País”. O bordão está aí  para ser usado convenientemente pela polaridade artificializada nos porões da  Política e da Justiça, com qualquer sentido. Move-se a história de um lado para o outro,  em nome das tais jurisprudências, meras interpretações pessoais, flexíveis, sobre rigorosas disposições constitucionais. 

Mudam-se votos e opiniões a todo momento,   beneficiando claramente transgressões e transgressores. O quadro real revela uma quantidade – não tudo, R$5 bilhões – de dinheiro desviado dos cofres públicos do Brasil e devolvidos pelos bancos internacionais . Que vergonha para o País!...

A Polícia Federal, a Receita Federal e a Procuradoria Geral da República identificaram atos criminosos grassando por toda a máquina do Estado, agora desqualificados por esse universo de deuses , sacralizado nos bastidores, destruidor das virtudes nacionais.

Agora vem as desqualificações do juiz Moro e do procurador Dallagnol, ambos instrumentos  em instâncias protetivas dos superiores da justiça brasileira. Os procedimentos processuais - pelo que se acompanhou -  seguiram ritos, métodos e os trâmites recomendados e partilhados pelo STF e o STJ. No STF era acompanhado por um severo ministro 

- Teori Zavascki – morto, sem explicações convincentes, e que foi  substituído por um imaginário sábio do Direito, Edson Fachin, cujas interpretações flutuam entre o bem e o mal. Lá atrás, Joaquim Barbosa já denunciara: “É muito mais profundo do que se imagina”.

Pretende-se lembrar que todos os processos que transitaram por Curitiba e no Rio, pela Procuradoria Geral subiram para instâncias e tribunais superiores, chegando ao próprio Supremo, onde cada um dos 11 ministros tem uma penca de advogados, juízes e até oficiais militares, excelentemente remunerados,  assessorando-os juridicamente. 

A Nação vai se ver agora diante da procrastinação, para o esgotamento dos prazos,  e para a criminalização da própria Justiça. Ninguém pergunta, nem quer responder, pelos bilhões em dinheiro público que desapareceram dos cofres da Nação e, muito menos, sobre os pedidos de indenização que podem ainda vir com o reconhecimento da inocência no mundo de transgressões confessas A teia, conduzida por brasileiros, chegou a levar ao impeachment de presidentes e autoridades em outros países.

 Cabe ao abestalhado cidadão  o silêncio e a História apagar tudo. Não se consegue penetrar nesse algo misterioso entranhado no sistema.  Entre os criminosos que conduziram o País até aqui só tem heróis. Para o brasileiro não resta sequer recorrer aos deuses do Olimpo. Precisa trabalhar para pagar a conta, cujo déficit histórico vai fazendo desaparecer também o respeito pela soberania do País.

*Jornalista e professor

 

 

Jornalismo com ética e solidariedade.