Nômades digitais: trabalhando no
mundo inteiro, sem se preocupar com Covid - Aylê-Salassié
Filgueiras Quintão*
De: Reynaldo Domingos Ferreira
Date: qua., 21 de jul. de 2021
Subject: Nômade digital
Repassando: Agora, já existem também os nômades
espaciais!...
Nômades digitais: trabalhando no mundo inteiro,
sem se preocupar com Covid, CPI ou sucessão.
Aylê-Salassié Filgueiras
Quintão*
Os anos 60 do século passado
foram marcados por uma intensa
mobilização jovem pelo mundo . Entre eles
apareceram os caroneiros e os mochileiros, assim
chamados aqueles adolescentes, viajantes
solitários, que cruzavam fronteiras nacionais,
não necessariamente fazendo turismo ou buscando
algo. A simples inquietação existencial os
movia em diferentes direções, sem limite de
tempo ou propósitos específicos.
Entre os ícones daquela
juventude estava Ernesto Guevara de la Sierna,
um jovem argentino, estudante de medicina que,
antes de concluir o último semestre do
curso, decidiu (junto com um amigo, Alberto
Granato) fazer uma viagem pela América Latina,
em uma velha motocicleta, que o(s) deixou no
meio do caminho. Continuou a aventura
pedindo carona . Foi parar no México. No
submundo da capital mexicana, Guevara conheceu
um grupo de estudantes conspiradores cubanos.
Terminou induzindo aqueles jovens
revolucionários nacionalistas em direção ao
socialismo, o despertar neles o poder de
transformação que carrega a juventude.
De lá para cá, aconteceu a
revolução cubana, Guevara foi morto, o regime
soviético , que dava sustentação ao
grupo, desapareceu e o mundo se abriu para um
estranho protagonismo: o das novas tecnologias
eletrônicas, espaciais e digitais.
Elas introduziram habilidades e habilitações
desconhecidas, estimulando a criatividade,
tornando instantâneas as comunicações,
encurtando as distâncias e, em consequência, as
diferenças culturais.
A onda motivadora da
revolução digital abrigara-se, entretanto, na
alma de uma geração que veio a ser chamada
de nômades digitais: gostam de viajar à busca de
aventuras e de conhecimento. Mas não são os
mesmos mochileiros dos anos 60, nem os
blogueiros cubanos rebelados. Essa é outra
história. São jovens habilitados
tecnologicamente, e que oferecem seu
virtuosismo em trabalhos remotos. Itinerantes,
estão em qualquer lugar, no Brasil ou no
exterior .
No caminho, prestam serviços à
distância para empresas em Londres,
em Johanesburgo ou em Pequim, muitas vezes, até
sem sair de Gravataí (RS), Taubaté (SP) ou Pedra
Branca(CE).
Como trabalhadores remotos são
reconhecidos como influencers – que
ajudam a formar opiniões publicitárias,
políticas ou profissionais - ou developers, que
prestam serviços de administração,
reestruturação e alimentação informativa
para empresas no mundo todo, ao mesmo tempo em
que estão se deslocando de um país, para o
outro, de uma cidade para outra, não importando
se estão em um hotel, em um parque, uma
praia ou no meio da rua em Moscou ou em
Alexandria.
O número cresce rapidamente .
É um trabalhador do mundo, com ou sem carteira
assinada, sem filiação partidária, sindical ou
ideológica. Não faltam demandas, empregos, nem
salários. São muitos os exemplos de brasileiros
já embarcados nessa onda. O Governo do Brasil
tenta enquadrá-los. A reforma trabalhista no
Brasil , Lei 13.467 /2017 , tipificou a
atividade nômade como teletrabalho que, quando
prestado para empresas no exterior, é regulado
como “contratos internacionais”.
É muita areia para o meu
caminhãozinho.
Embora alguns países já
tomaram iniciativas similares, a insurgência do
nômade digital tende a afetar a divisão
social do trabalho, a organização sindical, as
estruturas e os currículos na educação
, configurados pelos Conselhos de Educação. O
aprendizado digital conduz uma pedagogia
informal e uma cultura digital empoderadora
de habilidades e de uma nova consciência social
que, se não pode ser chamada de revolucionária -
não parece ser o caso dos youtubers cubanos
- , impregna, inevitável, o espírito sobretudo
das novas gerações em direção a rupturas com o
mundo analógico.
O nômade digital apareceu da
fusão do jovem errante com aquele sujeito cheio
de virtudes tecnológicas e até
indisciplinado, que prefere trabalhar em casa(home
office) ou à distância. Embora
um aventureiro terrestre, ele ainda tem uma
identidade de origem, mas digitalmente começa
a desterritorializar-se. Reúne-se virtualmente
com os patrões e companheiros em todo o mundo,
pontualmente ou a qualquer hora, até mesmo para
se divertir , sem nunca tê-los conhecido
pessoalmente.
Não buscam e não precisam de
diploma, nem estão amarrados à tradicional
divisão social do trabalho. Podem
aprender, prestar serviços e resolver os
próprios problemas, inclusive trabalhistas,
remota e informalmente, sem nenhum registro, nem
endereço. Seus objetivos não são propriamente a
prestação de serviços, mas viajar, conhecer o
mundo. Se vão influenciar, em algum momento, uma
revolução social é imprevisível, mesmo porque a
cultura digital nada tem a ver com as atitudes,
atividades ou ideologias analógicas. O trânsito
pelo mundo situa-se em outras esfera, para além
das superestruturas dadas pela organização
política e social dos Estados Nacionais.
Como se tornar um nômade digital,
conhecendo o mundo, trabalhando remotamente? Aí recomendo
ao
interessado informar-se no endereço abaixo
com o Neil Patel ( https://neilpatel.com/br/blog/nomades-digitais/).
Os nômades
digitais estão numa boa, sem angústias, sem se
preocupar com Covid, com a CPI ou com a sucessão
presidencial. Honi
soit qui mal y pense, ou seja: envergonha-se
quem nisto vê malícia. Está aí a liberdade, a
libertação em curso.
*Jornalista
e professor |