Estimado leitor:
Em 11 de julho passado, um
domingo, eu estava na casa de
amigos tentando espairecer um
pouco quando o telefone tocou: “Você
viu o que está acontecendo? Isto
está em chamas”. A
princípio pensamos que fosse um
exagero. Mas começaram a
aparecer na tela do celular as
imagens dos protestos na pequena
cidade de San Antonio de los
Baños, na região de Havana, e
imediatamente notícias e vídeos
de outras manifestações em
várias cidades e vilas do país,
onde as pessoas saíram às ruas
para expressar seu
descontentamento pela situação
de penúria que estão vivendo.
Depois, a internet caiu. E eu
fui para Havana Velha, onde
milhares de pessoas protestavam,
gritavam “liberdade” e houve
confrontos com a polícia. Podiam
bater em qualquer um. Não
parecia Cuba.
Embora muitas das manifestações
tenham sido pacíficas, outras
não: carros da polícia foram
virados e houve saques de lojas
e violência de ambos os lados.
“Isso era previsível. Não sei
como os surpreendeu”, me disse
um amigo de um dos bairros
pobres que se revoltaram.
Nas quase duas semanas
transcorridas desde então,
quando se faz uma análise uma
coisa fica clara: os
manifestantes eram em sua
maioria jovens; a
explosão marca um antes e um
depois, algo se rompeu.
E se o Governo deseja que os
incidentes não se repitam, não
bastam as soluções policiais, é
preciso fazer coisas urgentes no
campo econômico para aliviar a
situação da população. É verdade
que os Estados Unidos poderiam
ajudar na evolução de Cuba
flexibilizando a sua política de
sanções, mas não parece ser o
que vai acontecer, depois de
ouvir as primeiras reações de
Joe Biden. O país está em
choque. E a gente também. |