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O mito da caverna - LUÍZA CAVALCANTE
CARDOSO
(...) é no mundo do cinema que encontramos
lições de vida. Como no livro “O que Sócrates
diria a Woody Allen”
(cinema e filosofia) de Juan Antonio Rivera no
capítulo intitulado “A preferência ética por
viver em um mundo real” (pág. 237). O autor
analisa os filmes Matrix e O Vingador do Futuro
sob a ótica dos ensinamentos de Platão quando
falava no Mito da Caverna. Ele nos estimula a
ver a humanidade " como prisioneiros amarrados
com grilhões pelas pernas e pelo pescoço, de tal
maneira que só podem olhar para a frente, para
um muro de pedra” (pág. 237). Por cima e atrás
um fogo projeta figuras no muro, objetos
carregados por homens. Que são interpretadas
como coisas reais, as únicas que conhecem. Se um
deles se libertar e for para fora da caverna,
levará um certo tempo
para se acostumar a ver a realidade. E o sol
iluminará o mundo exterior em sua totalidade.
Como explica o autor, aparecem duas realidades:
a do mundo sensível e o único que a maioria de
nós
reconhece. E a do mundo inteligível, acessado
por filósofos e aqueles que desejam enxergar a
realidade autêntica:
as formas das coisas, os objetos universais.
Neo, personagem de Matrix, intui que não está
vivendo no mundo real,
mas em um sonho. E ele escolhe tomar a pílula
vermelha, dada por Morfeu, para compreender e
conhecer esse
mundo. Que se revela desolador. Mas proporciona
contrastes de ânimo sem os quais a vida seria
insuportável.
“A felicidade é o resultado da viagem, efêmera
no tempo, de uma situação de incômodo e
mal-estar para
outra de comodidade”. O contrário seria viver em
um estado de atonia emocional a partir da
realidade utópica.
Erro, afirma o autor, no qual estão atados
muitos teóricos da política.
Para completar o nosso olhar amador sobre o
universo fascinante da análise de Rivera, cabe
lembrar que a Neo
caberia o papel de um Messias, o redentor para
salvar o povo. Ao comentar a traição de Cipher o
autor afirma
que considera a parte mais importante do filme
em seu momento filosófico. Pois ele escolheu
retornar ao
gozo e a inconsciência, a uma vida suntuosa.
Mesmo que, por exemplo, comer um filé não seja
real, apenas
a impressão, ele prefere a irrealidade. E eis a
questão para todos nós: conhecer o mundo real é
fazer
uma adaptação de nossas possibilidades a nossos
desejos. Um compromisso prévio de fazer com que
elas não transgridam o que desejamos. Evitando
condutas futuras prejudiciais, como Ulisses se
acorrentando diante do canto da sereia. Um
segundo aspecto, e o contrário do primeiro, é
eliminarmos os
desejos que estejam fora de nosso alcance. Fica
claro que desejamos viver em um mundo real,
apesar das
exigências e da necessidade de certa rigidez
para a adaptação.
A segunda questão é: e se desejarmos permanecer
como Cipher, num mundo irreal? Nesse mundo
tumultuado
e intenso no qual estamos inseridos significa
que limites serão desconsiderados,
possibilidades não serão
avaliadas em sua relação com os desejos. E esses
se sobreporão a tudo e a todos. E ao tentarmos
fazer uma
relação entre o mundo da política e seus
resultados, a alienação funesta dos responsáveis
criarão fraturas
irremediáveis. Como figuras de sombra no muro de
pedra da caverna, mantendo agrilhoados os
cidadãos
quanto à capacidade de se libertarem e
progredirem. Pois, “Os despertos compartilham um
mundo único
e comum, enquanto cada um dos que dormem se
encerra em seu mundo particular.” Como dizia
Heráclito
(pag.242).(...)
(04/08/ 2021/luiza) |
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