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PEDOFILIA NA IGREJA
A manchete dói nos olhos e, principalmente, no
coração: “França descobre 2.9 mil religiosos
pedófilos.”
(Correio Braziliense – 04/ 09). Descobertos por
uma Comissão independente que investigou os
casos de pedofilia
na Igreja Católica, desde 1950. Quem passou por
abuso sabe que a vida das crianças, vítimas da
crueldade, se transformará para pior. O
sofrimento é irreversível. Elas são vulneráveis,
as mais frágeis, as que começaram a aproveitar
as alegrias e as dificuldades em uma fase de
desenvolvimento primordial. Até serem
aprisionadas por uma agressão dessa gravidade.
Nada será mais igual. Uma tristeza surda lhes
acompanhará sempre, até quase o fim de seus
dias.
Como responsáveis diretos os pais precisam estar
atentos, cercando de cuidados seus filhos. E por
isso muitas mães deixam o trabalho por um tempo,
para cuidar dos filhos menores. É a idade da
formação do caráter, de olhar a vida como uma
dádiva, de ser uma pessoa integrada a si mesma.
A atenção nunca será demais, porque o ataque
pode vir de onde não será pressentido: desde
parentes, médicos, empregadas e babás, padres e
outros. Enfim, de seres humanos abomináveis,
canalhas, assassinos. Cuja covardia os levam a
se aproveitarem de quem menos tem condições de
se defender.
O filme "Spotlight" é a história verídica da
investigação feita sobre o assunto, pela equipe
de jornalismo do jornal The Boston Globe, que
recebeu o prêmio Pulitzer de Serviço Público em
2003. Foi grande a surpresa dos repórteres com o
número de casos que chegou à redação: mais de
mil. A Igreja, aproveitando-se de seu poder,
sempre colocou uma pedra sobre o assunto,
criminosamente. Com amplo apoio da classe
política e dos dirigentes. Embora, desde sempre,
fosse uma prática disseminada no mundo todo. Por
quê? É possível que a causa do problema esteja
no processo de seleção, avaliação e formação
daqueles que se candidatam a padre e se internam
em Seminários. É nesse período que deveria se
dar uma rigorosa avaliação dos que seriam
realmente capazes. Tendo em vista os sérios e
quase impossíveis desafios postos pela Igreja. O
problema demonstra o quanto é falha a preparação
dos futuros padres.
E apenas um homem, com coragem e determinação
suficientes, verdadeiro seguidor de Cristo,
tomou todas as providências para desvendar a
verdade e punir os responsáveis: o Papa
Francisco. Que se colocou contra a corrupção
também. E tentou abrir a Igreja para menos
burocracia e ostentação e mais caridade.
Infelizmente, no Brasil, o assunto continua
encoberto e exalando profundo mau cheiro. Salvo
engano, nem o caso do interior de Alagoas, com a
apresentação de vídeo do abuso, foi levado a uma
verdadeira investigação. Não sei se temos uma
imprensa investigativa cuja ação seja capaz de
desvendar esse mundo infame. Por outro lado,
precisávamos da divulgação de nomes e fotos de
todos os pedófilos. De modo que as pessoas
possam se precaver.
Lembro o último caso que saiu nos jornais, no
qual a vítima escreveu uma carta e deu para o
irmão ler para toda a família. Coragem e
perspicácia. Mas até chegar a essa decisão o
medo fez a adolescente aguentar um tempo de
abusos. A educação nas escolas, abordando o
problema, protege as crianças e adolescentes com
informações, discute estratégias de ação e
facilita a identificação dos casos. Isso é
urgente, imprescindível.
E deve se estender aos pais, através de grupos
operativos.
Às vezes parecemos estar anestesiados. Ou
profundamente alienados. Sem falar naqueles que
enchem a boca para falar de Deus e semeiam o
ódio, a insensatez, e se cercam de crianças
usando-as como objeto para fins eleitorais. Dos
políticos. nada a esperar. Enquanto isso, no
mundo civilizado, um empresário famoso foi preso
por fazer festas com menores. Suicidou-se na
prisão. Seu companheiro de festas, um dos filhos
da rainha da Inglaterra, será chamado a depor. E
na Califórnia, em Berkeley, no condomínio dos
estudantes estrangeiros da Universidade,
policiais dedicavam um tempo a ensinar as
crianças a se defenderem dos assédios. Foi assim
que uma criança gritou e correu, quando uma van
parou ao seu lado oferecendo carona. E nós, o
que estamos fazendo quanto às políticas de
prevenção? (09/2021/luiza)
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com> |
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