Theresa Catharina de Góes Campos

     
Revista bilíngue Nikkei Bungaku #68

Haicaístas:

Está à venda o número 68 da revista bilíngue Brasil Nikkei Bungaku, publicada pela Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil, com os haicais em português enviados por colaboradores de todo o país.

A revista Brasil Nikkei Bungaku é uma publicação quadrimestral que originalmente divulgava a produção literária em língua japonesa da comunidade nipo-brasileira. Tem seções de contos, ensaios, crônicas, tanca, haicai, senryu e poesia livre, além de traduções de literatura brasileira para o japonês.

Hoje a revista também divulga trabalhos em língua portuguesa (haicai, conto, poesia, crônica e ensaios), num espaço aberto à participação de todos os interessados.

A edição 68 tem 114 páginas em língua portuguesa. O editor da seção de língua portuguesa é o escritor André Kondo.

O editor da seção de língua japonesa é Nobuyuki Miyagawa.

Para adquirir um número avulso, solicitar pelo e-mail secretaria@nikkeibungaku.org.br

Nesta edição, foram selecionados e publicados 126 haicais de 43 autores, com temas de verão, selecionados por

Edson Kenji Iura, que seguem abaixo.

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Tarde de verão –

os pássaros se refrescam

na poça de água.


Agnes Izumi Nagashima
Londrina, PR
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Pedaço de sol

na janela aberta

manhã de verão.


Al Agus
Miami, EUA
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Ao cair da tarde

estremece o bambuzal

o canto da cigarra.


Manhã de ano novo –

Só o zumbido da mosca

na velha cozinha.


José Alberto Lopes
S. Bernardo, SP
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ao sol da manhã

a horta virou jardim

abóbora em flor


a cerca da horta

também dá gosto de olhar –

pepineiro em flor


quase meio-dia

o sombral do passarinho

este pé de couve


tarde de domingo –

ricocheteia no quarto

o zunzum da mosca


hora da partida

de carona uma lembrança –

esta joaninha


Alexander Pasqual
São José dos Campos, SP
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Imóvel no pasto

o boi apenas mastiga –

Chuva de verão


Surge sem ser vista

em algum quintal do bairro –

A dama-da-noite


Faz um calorão –

O gato dorme na cama

de pernas pra cima


Rumor na janela –

O tié-sangue ataca

sua própria imagem


Barulho das folhas –

Vento aromal atravessa

a trilha do bosque


Alvaro Posselt
Curitiba, PR
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Carrinho sem rodas

levado pelo aguaceiro –

O menino chora.


O cristal das taças

reflete o clarão dos fogos –

Feliz Ano Novo!


Crepúsculo de verão –

Sobre a ramagem das árvores

pássaros vermelhos.


Fundo do quintal –

O flamboyant centenário

coberto de flores.


Ana Welter
Toledo, PR
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Nasce o Ano Novo.

No salão do velho hotel,

o baile começa.


Noite de verão.

As vizinhas na calçada

vigiam a praça.


Cantam as cigarras

na praça da prefeitura –

Fim de expediente.


Exibe o menino

a penca de caranguejos,

à beira da estrada.


Manhã de domingo.

As flores de jambo cobrem

o chão do quintal


Antonio Seixas
Magé, RJ
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Chegada do Ano Novo –

Cada um conta seu conto

cheio de esperança.


Manhã de verão –

Acordo com as badaladas

da catedral.


Batuque dos dedos

na mesa do computador –

carnaval na rua!


Asas transparentes –

A libélula-do-rio

ao sol da manhã.


Benedita Azevedo

Rio de Janeiro, RJ
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Brotando no chão,

De mansinho, cristalina –

Água de nascente.


Tarde preguiçosa –

Na casa de veraneio,

Todos a dormir.


Areia lotada –

O casal busca refúgio

No chapéu-de-sol.


Esperança acesa

Depois de ano tão difícil –

Calendário novo.


Susto na varanda –

A lagartixa despenca

Na minha cabeça!


Carlos Alberto Bittar Filho
São Paulo, SP
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Para não marcar

ao passar o bronzeador

Laço desfeito...


Noite na praia

O ventilador espalha

calor pelo quarto


Embarca também

o sonho de singrar mares

Veleiro branco


Bloquinho do haijin

Manchas de bronzeador

entre os haicais


Carlos Martins
São Paulo, SP
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chuva de verão

sobre o chão encharcado

cascas e gravetos


um forte odor

vem de todo o telhado

caça ao gambá


tarde preguiçosa

mesmo com sombra e vento

o suor escorre


pequi no arroz

condimento da avó

vindo do sertão


Carlos Viegas
Brasília, DF
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Chuva de verão:

O vendaval – e uma árvore

Caída no chão


Cassio José Rodrigues Pereira
Campo Grande, MS
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manhã de verão –

no caminho dos pescadores

uma fragata


Célia Ribas
Itanhaém, SP
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fonte luminosa

na praça do interior –

lembranças da infância


no alto do morro

crepúsculo de verão –

encontro de jovens


na casa de praia

em volta dum violão

antigas canções


verdinhas cortinas –

samambaias-paulistinhas

na casa da avó


Clarice Villac
Campinas, SP
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O mundo cansado

Adormece após o almoço:

Tarde de mormaço.


Cláudio Trasferetti
São Paulo, SP
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Noite urbana –

O duelo das cigarras

com o som das motos.


Ondas do mar

levam o castelo de areia –

Verão avançado.


Caem de maduras,

as frutinhas pelo canal –

Jambo-rosa.


Manhã de sábado –

Bom para o surfista,

o mar revolto.


Cris Chinen
Santos, SP
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Manhã de verão –

A claridade mais cedo

bate na janela.


Terreno baldio –

As margaridas do campo

aqui e acolá.


Fim da caminhada.

Uma gota de suor

corre pelas costas.


Na cidadezinha

Mato saudades da infância –

Luz de vagalumes.


Uma joaninha

na velha planta da sala –

Vovó diz ser sorte.


Cristiane Cardoso
São Paulo, SP
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época chuvosa –

a sogra passa

uns dias em casa


luzes e enfeites

de volta à caixa –

Dia de Reis


Daniel Morine
Santos, SP
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doze badaladas:

o coral à meia-noite

louva o novo ano


colisão de nuvens

ressoa no céu escuro –

toró a caminho


Eduardo Hernandes
Brasília, DF
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Verão sonolento –

Balança o coqueiro

devagarinho.


Um pai e um filho –

Festejam o verão

nas águas do mar.


Fernando de Azevedo Alves Brito
Vitória da Conquista, BA
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Vento de um lado

Vento do outro lado

Ah, ventilador


Fernando Hiroki Kozu
Londrina, PR
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Acampamento –

Fogem um do outro

o lagarto e a moça


Manhã de verão –

Canto continuo do galo

anuncia o dia


Fernando Manuel Bunga
Uíge, Angola
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Tarde de verão

sob a sombra da mangueira

dorme o vira-lata


juntos, neto e avô

montam o velho presépio

faltam tantas peças


Francisco Carlos Rocha Fernandes
Brasília, DF
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Despertando o Sol,

vislumbro a aurora dourada,

Sonhos de verão!


Francisco Gabriel Ribeiro
Natal, RN
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Senhoras correm

com as bolsas na cabeça –

Chuva de verão


Casas tão pequenas

enfeitam o verde vale –

Serra de verão


E lá vai o cachorro

atrás da ovelha fujona –

Campo de verão


Calor de verão

aquece os olhos fechados –

Risadas no parque


George Goldberg
Londres, Inglaterra
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surge um arco íris

menino sai para ver

junto com seu cão


Glauciane de Oliveira
Brasília, DF
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Na festeira luz

do caminho sinuoso –

Sombra de palmeiras.


Isadora Benício de Sousa Dias
Itabuna, BA
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Manhã de sol –

Em meio àquelas folhagens

garça solitária.


Conversa animada –

Sobre a toalha estendida

formiga passeia.


Na verdura da folha

pontos vermelhos e pretos –

Descansa a joaninha.


Sentados num banco

avó e neto bem felizes –

Chupam um picolé.


Jaíra Presa
Santos, SP
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Calor escaldante:

As mulheres se abanam

Enquanto conversam.


Dia ensolarado:

O sorvete escorrendo

Pinga na camisa.


Jessé Ulisses Leal Gerez
Campo Limpo Paulista, SP
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Caminho do templo –

Descansam dois lagartos

na sombra de estátua


Não sei de onde vem,

o perfume pelo quarto...

Dama-da-noite


Entrada do sítio,

por entre os vãos da cerca

As bênçãos-de-deus


Em meio à estrada

A conversa adocicada –

Pêssegos maduros


Chuva de verão –

Perto da curva do rio

florzinhas silvestres


Jô Marcondes
Irati, PR
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Botão de flor

que a água derrama

– Chuva de verão


Julia Pantin
Indaiatuba, SP
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Chegando o sorvete

a brincadeira congela.

Crianças sem pressa.


Lizziane Negromonte Azevedo
João Pessoa, PB
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Tá extinto o dia:

despertada a saparia,

o brejo em concerto!
Lucio Kume
São Paulo, SP
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Relógio de cuco

marca o sol das três –

Nem pássaros piam.


Na água da enchente,

um chinelo do garoto –

Cadê o outro pé?


Devora os insetos

da lâmpada do jardim

o sapo-ferreiro.


Na noite clara

uma silhueta se move –

Tesoura-do-campo.


Lucrecia Welter Ribeiro
Toledo, PR
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Quietude na praça –

Ao findar a tarde o canto

de algumas cigarras.


Sutil claridade –

No movimento das nuvens

lua de verão.


Nesta mesma rede

meu pai também cochilava –

Noite de verão.


Mal anoitece...

Na luz fosca da pracinha

tantas mariposas!


Ah... este perfume

por toda a estrada do sítio –

Flores de eucalipto.


Mahelen Madureira
Santos, SP
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O Ano fenece –

Um velhinho animado

faz compras na feira


Noite de verão –

As risadas das vizinhas

se ouvem daqui


Dias de toró –

A infância relembrada

ao som do telhado


De repente, o susto:

a correria do gato

com a trovoada


Marco Aurélio Goulart dos Santos
Itapecuru Mirim, MA
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Saudades ficaram

Dos frutos do cajueiro

Castanhas assadas


Marcos Antonio Campos
Natal, RN
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Da minha janela

pontinhos brilham no campo.

Um... dois pirilampos.


No meio da tarde

balanço na velha rede

Bicho-preguiça.


As crianças brincam

na escada da capela.

Dia do ano bom


Marilena Budel
Irati, PR
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Baixou a maré.

O caranguejo-vermelho

desfila no mangue.


Em frente ao mar

conversa despreocupada...

Noite de verão.


Tarde modorrenta.

O cachorrinho no colo

em sonhos distantes.


Não encontro água

no terreno do vizinho.

Mas tem ipomeias.


Férias de verão.

Escrevo um haicai na areia

como lembrança.


Matsuki
São José dos Pinhais, PR
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Estrada noturna –

Em torno do caminhante

bailam vaga-lumes


Ao som de um bolero,

o idoso ensaia uns passinhos

Tarde de verão


Murmúrio das águas

em meio aos meus pensamentos –

Velho chafariz


Na entrada da casa,

a placa Seja Bem-Vindo –

Caminho de Hortênsias


Surfista menino

com os cabelos ao sol

Luz do entardecer...


Mônica Monnerat
Santos, SP
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De repente o vento

toca as folhas da palmeira –

Um pássaro voa


Hoje abandonado,

o casebre onde nasci

Cercado de dálias


Hora do crepúsculo –

Uma cigarra estridente

parece tão perto


Bem alto na cerca,

quase não consigo ver

A flor do algodão


Cores variadas

nos vasos sobre a tábua –

Gerânios em flor


Matusalém Dias de Moura
Iúna, ES
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botas e sapatos

encharcados na soleira

dia de toró


vai a corredeira

no leito de pedras brancas

tenho que seguir


da carroceria

papai mostrava o Pintado

fim da pescaria


sorriso no rosto

uma traíra no anzol

arremata o dia


Norma Shirakura
Curitiba, PR
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Calor na pracinha.

O casal toma sorvete

junto ao chafariz.


Paulo Roberto de Oliveira Caruso
Niterói, RJ
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gritos no quintal

uma piscina colorida

férias de verão


Rogério Alves
São Paulo, SP
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Almoço garantido –

À beira do Paraíba,

lambaris na cesta.


Surfista e seu cão –

Numa prancha colorida

enfrentam as ondas.


Férias de verão –

Eu me divirto imitando

o canto dos pássaros


Sylvia Mercadante
Salvador, BA
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que estranho barco

navegando no aguaceiro –

um saco de lixo


porta envidraçada –

a lagartixa imóvel

agarra-se bem


Vilma Ávila Vianna
Pelotas, RS
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Abraços,

---

Edson Kenji Iura
kakinet@gmail.com
www.kakinet.com
 

Jornalismo com ética e solidariedade.