Vive-se hoje em dia, no Brasil e no mundo, uma nova era, como foram a Era do Gelo ou a Era dos Descobrimentos — é a Era da Mentira Universal.” As primeiras linhas do artigo de capa desta edição, assinado por J.R. Guzzo, é a síntese perfeita desta época. As agressões à verdade são tantas, e ditas de forma tão natural, que gente normal chega a duvidar da própria sanidade.
É assim com assuntos de política, é assim com a pandemia de coronavírus, é assim com o agronegócio. “De todas as mentiras de primeira grandeza que estão hoje em circulação no Brasil e no mundo, provavelmente nenhuma se compara ao complexo de falsificações montado para sustentar que o agronegócio brasileiro, e em especial a pecuária, está ameaçando a sobrevivência ‘do planeta’”. Habitantes da França e dos Estados Unidos orgulham-se da agricultura de seus países. Enquanto isso, brasileiros fecham os olhos ao que é visível a um palmo do nariz e acreditam em baboseiras importadas.
O agronegócio é o motor que há anos empurra o Brasil para a frente. Em 2022, o país produzirá quase 300 milhões de toneladas de grãos, o que corresponde a mais de 35 quilos por habitante do planeta. Com cerca de 220 milhões de cabeças, a pecuária nacional ostenta o maior rebanho bovino do mundo. Tudo isso preservando 66% do território brasileiro — e com mais de 25% dessas áreas dentro dos limites das propriedades rurais. Greta Thunberg, Emmanuel Macron, Leonardo DiCaprio, Madonna, Anitta e outras sumidades que jamais pisaram no Brasil profundo decididamente não sabem o que falam.
Na Era da Mentira Universal, é permitido dizer uma coisa e em seguida afirmar o contrário sem que haja contestações. Nesta quinta-feira, por exemplo, a apresentadora de um programa radiofônico informou que o primeiro brasileiro morto pela variante Ômicron tomara três doses da vacina. Na sequência, acrescentou que a vítima tinha problemas pulmonares e era hipertenso. Concluiu com um apelo aos ouvintes: “Não se esqueçam de se vacinar. A vacina salva vidas”.
Na Era da Mentira Universal, proibir a discordância não basta. É preciso calar quem diverge da verdade oficial. É o que pretende o Sleeping Giants Brasil, “uma organização de covardes enrustidos que atua tentando organizar linchamentos enquanto finge defender a bondade”, define Guilherme Fiuza. O jornalista foi alvo de uma campanha organizada pelo grupo para que o Twitter banisse a conta de Fiuza na rede social. “Por que fizeram isso?”, pergunta o colunista de Oeste. “Porque a vida de um covarde é juntar outros covardes para tentar momentaneamente uma sensação de potência.”
Perto de onde estamos hoje, como resumiu Guzzo, a Idade Média foi um momento de luz.