ESTAMOS SOZINHOS!
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Dois episódios violentos marcaram os últimos
dias: a morte de Moise, o rapaz congolês de 24
anos, barbaramente assassinado no Rio de
Janeiro, sob pauladas, covardemente atacado por
quatro brutamontes. Quando ia receber um
dinheiro que lhe era devido, por trabalho em um
quiosque no Rio de Janeiro. Estranhamente, o
dono do quiosque não se encontrava presente,
segundo as notícias. E o crime, dizem,
permaneceu algum tempo sem providências.
Estranho o suficiente para investigações.Em
Brasília, dona de casa é assassinada na rua com
golpes de facão, por um ex-namorado da filha.
Ele ameaçava de morte a família, que pedira
medidas protetivas. Assim, era proibido de
chegar junto delas. Não sei, de fato, que
resultados objetivos possuem essas medidas. O
fato é que ele marca um encontro com a sogra
para “entregar documentos.” E ela,
inocentemente, aceita. Recebe os documentos,
entra no ônibus e percebe que ele entrou também.
Ela telefona para a filha que pede para ela não
saltar do ônibus. Seu destino, um bairro de
classe alta de Brasília, onde trabalhava como
doméstica. Ela insiste em saltar e é atacada
violentamente. Ela subestimou o perigo.
Há uma característica comum em todos os
episódios de violência de rua nas cidades
brasileiras: não temos nenhuma força policial
por perto para evitar ou a quem pedir ajuda. Em
qualquer cidade no exterior, policiais estão
passeando pelas ruas. Atendem inclusive a
turistas. E com muita gentileza, como em
Londres. A qualquer problema, em tempo recorde,
chegam os carros de polícia. Como se tudo
estivesse sendo monitorado. Não no Brasil. E
quando surgem mudanças que a comunidade aprova,
outros governos tratam de acabar. Porque parecem
ir contra os interesses da tropa. Como em
Brasília, os pequenos Postos de Polícia nas
comunidades. Envidraçados, víamos os policiais e
nos sentíamos mais tranquilos. Sendo a ajuda
permanente colocada ao nosso alcance. Sob os
mais funestos argumentos, acabaram com eles.
Também houve uma época em Brasília que duplas de
policiais andavam pelas quadras residenciais.
Tudo acabou. Mas em solenidade de formação do
curso de treinamento de policiais, o Governador
Ibaneis Rocha falava de seu orgulho em estar na
solenidade. Mencionou o efetivo total de 10.6
policiais, como “pessoas preparadas que vão às
ruas fazer abordagens dignas e honram a farda
que vestem”. Disto não tenho a menor dúvida.
Merecem nosso respeito. Mas nunca os vejo nas
ruas. E quando falam na diminuição da violência
urbana, uma dúvida: em tempo de pandemia,
doenças e mortes, a violência urbana não
diminuiria naturalmente? Sem ser unicamente por
ação policial? Se houvesse policiais fazendo a
segurança das ruas no Brasil, Moise e a dona de
casa de Brasília teriam morrido? Ou teriam uma
chance de viver? Deveria haver uma Lei que
obrigasse um quantitativo de policiais
ostensivamente nas ruas, apoiados por unidades
de segurança. Imediatamente acionadas quando
necessário. Ruas monitoradas e acompanhadas. E
que voltassem os postos policiais nos bairros.
Afinal, como fazer segurança trancados em carros
afastados das pessoas? Porque policiais
militares são a nossa segurança primeira. São o
nosso anteparo. Se nos faltam, se deixam nossas
ruas desertas, nos sentimos órfãos.
E o país continua um dos mais violentos do
mundo.
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
(02/2022) |