Se todos os homens menos um partilhassem a mesma opinião, e apenas uma única pessoa fosse de opinião contrária, a humanidade não teria mais legitimidade em silenciar esta única pessoa do que ela, se poder tivesse, em silenciar a humanidade.” A frase do pensador inglês John Stuart Mill é um dos destaques do artigo de Rodrigo Constantino, que sintetiza alguns dos princípios irrevogáveis do pensamento liberal.
“Um liberal de verdade”, observa Constantino, “adotará postura humilde diante dos temas polêmicos e jamais se colocará como o detentor da palavra final sobre assuntos controversos, buscando silenciar críticos ou céticos”. Tal lição é olimpicamente ignorada pela esquerda que se autodenomina progressista. Vista de perto, o que se vê é a vanguarda do atraso.
Incapazes de praticar o convívio dos contrários, sem o qual não há democracias genuínas, eles tratam como inimigos a erradicar quem tenta expor alguma ideia discordante da verdade oficial que defendem aos berros. No caso da pandemia de covid-19, qualificam quem divirja de suas certezas de “negacionista-fascista-terraplanista”. Os insultados pelos militantes do PT poderiam lembrar que não existe negacionismo mais absurdo do que negar os escândalos do Mensalão e do Petrolão, ou acreditar no que Lula diz a seus discípulos. Ele se declara, por exemplo, a alma viva mais pura do Brasil. Para a seita, é proibido duvidar da palavra do mestre, mostra o artigo de capa desta edição, assinado por Augusto Nunes.
Embora a direita formada por conservadores e liberais seja constantemente chamada de negacionista, a realidade escancara o oposto. A esquerda, por exemplo, continua defendendo a eficácia do lockdown, já implodida pela Universidade Johns Hopkins num estudo divulgado recentemente.
A esquerda também se recusa a ouvir qualquer argumento que conteste a obrigatoriedade da vacinação infantil. Nas grandes democracias do mundo, contudo, o assunto é o tema do momento. E, em inúmeras nações, como mostra a reportagem de Cristyan Costa, a imunização de crianças é considerada desnecessária.
É a esquerda, enfim, que finge não enxergar o sonho de Lula, José Dirceu e companhia: transformar o Brasil numa cópia mambembe das ditaduras ainda existentes. “A China tem um partido que tem poder, que tem um Estado forte, que toma decisões e que as pessoas cumprem, coisa que nós não temos aqui”, afirmou o ex-presidente, num vídeo de junho de 2021. “Ela só conseguiu combater o coronavírus com a rapidez que ela combateu porque tem um partido forte, porque tem um Estado forte, tem pulso, voz de comando.”
Quem não identifica as reais intenções do ex-presidente e seus comparsas é mais do que negacionista. É gente incapaz de enxergar um palmo na frente do nariz.