Theresa Catharina de Góes Campos

     
Reynaldo Domingos Ferreira comenta: Uberaba dos anos 60

De: Reynaldo Ferreira
Date: sex., 11 de fev. de 2022
Subject: Uberaba dos anos 60

UM LEGADO DO LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA: ABANDONO

Repassando: Um artigo emocionante do amigo Luiz Gonzaga de Oliveira, que recentemente, nos deixou, vitimado pelo Covid-19, a mim enviado pela também grande amiga, advogada Mirtô Fraga. Uma fulgurante, poética lembrança da nossa Uberaba, nos anos turbulentos de 1960, em que a Avenida Leopoldino de Oliveira, ornada pela poesia do Córrego das Lages, antes de ser sepultado, bem como pelo brilho intermitente das luzes, a neon, e dos letreiros do Cine Metrópole, nos propiciavam grande prazer, em por ali ficar, conversando, cogitando de planos futuros!...

Hoje, como clama Luiz Gonzaga, no artigo em anexo, tudo acabou!... É pura solidão. O calçadão, que surgiu, sufocando as águas do córrego, que nos sussurravam segredos aos ouvidos, hoje é só desolação. O esqueleto do edifício que abrigava o hotel e o cinema - por sinal, uma bela casa de espetáculo - lá está, abandonado, como vários casarões da Praça Rui Barbosa, sem telhado, sem pintura, como os barracões lá do morro, citados nos versos de uma canção de Herivelto Martins, sem serventia alguma. Ah, como são tristes essas lembranças!.... A nossa Uberaba não existe mais!... Grato, gratíssimo, pela leitura.
Reynaldo Domingos Ferreira

" Noite dessas resolvi dar um “rolê” pelo centro da cidade. Queria lembrar a minha Uberaba dos anos 60; rua Artur Machado, avenida Leopoldino, os bares e restaurantes que frequentava com os amigos, muitos deles, hoje, já no plano espiritual, ao lado direito do Criador. Queria sentir um pouco de saudade, reminiscências dos longos “bate papos”, as casas comerciais, ver de novo, a vitrine iluminada de “A Noiva”, do Primo Ribeiro, o “vai e vem” chamado “footing” das lindas moças de sorriso aberto, cabelos esvoaçantes, subindo e virando para o Metrópole, os moços na beirada da calçada, dirigindo-lhes frenéticos e saudáveis elogios... a pequena parada
no bilhar “Atlântico”, do Valdemar Vieira, subir as escadarias da Associação Esportiva e Cultural; descer e saborear o cheiroso cafezinho do “Café Uberaba", fazer a “ rodinha” no “Ramon Rodrigues, ” e gozar da alegre companhia do Renatinho Frateschi, “barman” por excelência.


Pensei:-“ Viro a esquina, cumprimento o Toninho e o Ernani Camanho, no “Guarani” e faço uma pequena parada no “Buraco da Onça”, encontro o Perigoso, o Netinho e o Zito Sabino , “encho o saco” do Romeu e dou um “cascudinho” no “Cebolinha”. Dou uma olhada no “Galo de Ouro”, sempre cheio, cumprimento os garçons, Jesuíno, Zezinho e Cacildo, dou um “alô” para o Alaor Carlos, cinqüenta anos, gerenciando as firmas do Hugo Rodrigues da Cunha (Cinema, restaurante e hotel). Sigo em frente, abraço o “Quinzinho, do Tip-Top”, bebo a “Antártica” que o Drummond sabe que eu gosto, sento com o Ramon Rodrigues, que me espera já com a “Caracu” pela metade...
No Metrópole, acaba o filme e o comentário é a beleza da Gina Lollobrigida...

Meu Deus ! Vocês já foram no“calçadão” e Leopoldino, depois das oito da noite ? Que decepção! A Artur Machado, outrora fulgurante, fervilhante e iluminada, gente prá lá e prá cá, bares abertos, ficou apenas nos meus pensamentos. O “calçadão” ,à noite, é de dar medo!

Um convite à depressão. Fiquei desesperado!... Parecia um lugar de fantasmas! Nenhuma "vivalma" nem para cumprimentar o lixo amontoado no início do “calçadão”, a iluminação parecia “tomate seco”. A solidão fez morada no trecho. Assustado, vejo tudo fechado! De repente, passa um carro na avenida. Freia rápido, um grande “quebra molas”, liga a avenida a Artur Machado. Ninguém por perto. O “pisca-pisca” do farol, me alerta. Vem chegando um ônibus. É o tal de BRT. No meio da avenida, uma ”cerca de fazenda”, divide aquele trecho...

Não tem “Marabá”, ”Guarani”, Buraco da Onça”, “Galo de Ouro”,”Tip-Top”, “Metrópole”, “A Noiva”, Bilhar Atlântico”...nada ! O córrego sumiu, o balaústre acabou, o “footing’, já era... Em seu lugar, um “monstrengo” tubular, escuro, sem ninguém dentro. Estação BRT, me contaram. Passos largos e apressados, cheguei na praça dos Correios. Era um “miolo” de cidade assustada, prédios pichados, alguns poucos coitados, “noiados”, me pedem uns trocados . De táxi, um único estacionado na praça, me leva pra casa. Sem querer, enxuguei as lágrimas que corriam no meu rosto. Decepção ? Mais que isso. Fui no centro da cidade, que tanto amo e que não era mais a minha Uberaba, meu amor... (Luiz Gonzaga de Oliveira)"
 

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