Uma comentarista de
política da Globo News afirmava dias
atrás que recursos públicos eram
necessários para financiar as eleições,
como um apoio ao processo democrático.
Humildemente, discordo da ideia. Ao
contrário: o dinheiro de nossos
impostos, ao manter os Fundos Eleitoral
e Partidário, contribuem para a
proliferação criminosa de partidos
sem nenhuma substância política; é fonte
de corrupção com inúmeros casos
comprovados. Entre outros, as diárias
em hotéis de luxo, constantes aluguéis
de jatinhos, compra de mansões de luxo
pelos partidos; enriquecimento
ilícito dos chefes partidários, com
salários altíssimos.
E, por fim, o
parasitismo de nossa vida política. Ou
seja, os recursos provenientes dos
impostos de uma população extorquida em
Políticas Públicas e sem meios de vida,
são usados em um significativo quinhão,
para aumentar a distância entre os
eleitores e os políticos interessados em
manter privilégios. Salvo engano, as
relações políticas ficaram imediatistas,
reativas. Não há um processo permanente
de conquista e sensibilização dos
eleitores para os objetivos partidários.
Como diz o povo, com ou sem emenda
parlamentar, como se fosse um mantra:
político só aparece em tempos eleitorais
para prometerem o que não vão cumprir.
Aprofundando a exclusão de muitos da
vida pública partidária,
pela centralização dos meios e decisões
nas mãos dos velhos caciques. Afinal, de
qual democracia estamos falando?
Ao criar o sistema de
manutenção da vida partidária através
dos Fundos Partidário e Eleitoral, o STF
abriu um imenso caminho no qual os
políticos se locupletam sem esforço. A
essência da vida política democrática
como os debates, a competição, o
trabalho de arregimentação de eleitores
- tudo perdeu o sentido. Partidos
deveriam prover as suas despesas. Manter
uma estrutura administrativa que
permitisse a organização de suas
finanças, a identificação de meios de
subsistência, programas destinados a
arrecadação de fundos como palestras,
seminários, atividades para receber
doações. Trabalhar para uma vida
partidária intensa na relação com seus
eleitores. O que diminuiria os
gastos com a propaganda eleitoral. Além
de fazer campanhas baratas, com a
cooperação de especialistas que não
sejam os conhecidos de sempre, com uma
remuneração estratosférica. Mas o STF
preferiu jogar a criança com a água do
banho. E sem um serviço de fiscalização
que dê conta do universo a ser
fiscalizado, o que se vê não pode ser
chamado de democracia. Na verdade, é
exclusão.
E, por todos os
santos deuses, não venha nos dizer o sr.
Arthur Lira (PP-Al), Presidente da
Câmara Federal, que a medida é legítima.
Ele afirmou: “É necessário que fique
claro que o Poder Legislativo, na
condição de representante da
vontade popular, dimensionou as
necessidades de financiamento para a
campanha eleitoral das eleições gerais
de 2022”. Primeiramente, a maioria de
nós não se sente representada pelos
senhores. E os senhores sabem os
motivos. Fizeram do Poder Legislativo a
casa da mãe joana. Onde toda a série de
privilégios e mordomias transformam o
Parlamento brasileiro no segundo mais
caro do mundo. Sem querer me alongar,
ainda resta um outro argumento: como me
sentir representada se os seus votos são
vendidos por emendas ou cargos no
Executivo, independentemente dos desejos
dos eleitores? E quem lhes afirmou que
nós queremos financiar Partidos ou
eleições?
O autoritarismo e o
cinismo de muitas lideranças, contudo,
não consegue dominar a tudo e a todos.
Assim, o Partido Novo propôs uma ação ao
STF, alegando que a Lei Orçamentária no
tocante ao Fundo Eleitoral é de
competência do Poder Executivo.
Parlamentares têm a função de executar
correções no Orçamento Federal. Não de
se apossar de recursos criando fontes de
despesas como as emendas parlamentares e
os Fundos Partidário e Eleitoral. Muito
menos emendas do Relator, que os
senhores queriam livres de qualquer
controle por parte do Poder Público.
Feitas na surdina. Como toda corrupção.
O aumento do Fundo
Eleitoral para 2022, segundo o Dr. André
Mendonça, relator do caso no STF, foi
mais de 200%. De R$ 2,1 bilhões para R
$5.7 bilhões. Que os senhores acharam
prudente diminuir para R $4.9 bilhões
depois da revolta da sociedade. Verdade?
Acharam uma boa diminuição? É
deplorável que somente o Partido Novo
tenha se dado conta da corrupção e
da profunda injustiça da questão. Na
verdade, era necessário extinguir os
Fundos Eleitoral e Partidário. Se
fôssemos uma sociedade corajosa e de
brios, reconheceríamos a necessidade de
uma vida partidária autêntica,
participativa, não enxovalhada pelo
dinheiro público ou privado. Mas pelo
esforço de todos. O Governo daria o
horário eleitoral em rádios e televisão.
E bastava.
Mas não, eles querem
muito mais. Quando o sistema de saúde é
precário, negando remédios importantes
para doentes graves; quando a educação
carece de recursos; quando não
implantamos nem a boa gestão dos
serviços públicos. Quando nunca
desenvolvemos um processo permanente e
sério de fiscalização e avaliação das
Políticas Públicas. Quando o desemprego
continua alto e a renda média do
trabalhador brasileiro é de menos de R
$3.000,00. Temos de financiar
com nossos parcos recursos os Partidos,
as campanhas eleitorais, mordomias e
privilégios? Isso é democracia? E ainda
consideram que nos representam? Nos
julgam palhaços ou burros? (02/2022/luiza)
(Fonte: Correio Braziliense,
24/02/2022)