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Vitória sem dignidade - Reynaldo Ferreira
repassa artigo de Aylê-Salassié Filgueiras
Quintão*
De: Reynaldo Ferreira
Date: ter., 1 de mar. de 2022
Subject: Vitória sem dignidade
Repassando : A indignação mundial contra
Vladimir Putin!...
Reynaldo Domingos Ferreira
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Adeus papai!...Adeus, filho!...
Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*
O início do fim da guerra do Vietnam foi marcado
por dois eventos impactantes. A foto da menina
vietnamita correndo nua pela estrada, tentando
escapar das bombas de napalm que explodiam atrás
dela, e o assassinato , com um tiro no ouvido de
um vietcong capturado, no meio da rua de Saigon,
em frente às câmeras de televisão, dado pelo
chefe de polícia. A opinião pública mundial foi
despertada naquele momento para a desumanidade,
a brutalidade e a insanidade das guerras.
Afinal, o respeito à vida humana e a diplomacia
teriam evoluído muito.
Há dois ou três dias, na divisa com a Ucrânia,
uma mulher assistia à orientação dada aos jovens
soldados russos, perfilados, prontos para a
ocupação da Ucrânia. Avistando o filho no meio
da tropa, não resistiu: atropelou oficiais e
guardas, invadiu a formação, abraçando-se a ele,
chorando. O soldado manteve inicialmente a
postura militar ereta, olhando para frente onde
estavam os superiores mas, de repente, também
desabou em lágrimas abraçado à mãe.
" Adeus meu filho!..."Adeus papai!...". Na
estação de Kiev, na Ucrânia, suspenso pelos
cidadãos, e passado de mão em mão, no meio da
multidão que tentava embarcar para a Romênia, um
menino ia despedindo-se do pai até alcançar a
mãe no interior do trem. Mulheres e crianças
foram recomendadas a deixar o território
ucraniano . Maridos e pais com idade entre 18 e
60 anos estavam proibidos de sair do país.
Na Ucrânia ainda, foram gravadas cenas de jovens
pais mal saídos da adolescência despedindo-se
das esposas, que partiam assustadas com bebês
nos braços. Os homens eram convocados
compulsoriamente para lutar ou morrer. Mesmo
assim, professoras de uma escola pública
armaram-se com equipamentos pesados para esperar
os russos.
Remete, de fato, a 1968, ao episódio do General
Nguyen Ngoc Loan descarregando o revólver na
cabeça do prisioneiro . O corpo do vietnamita
ficou ali, por dias exposto até que os restos
mortais fossem recolhidos por uma carrocinha,
igual à desses trabalhadores informais que
recolhem lixo nas ruas .
Conhece-se pouco do aparato militar ucraniano,
mas se isso vai ocorrer com eles, não se sabe.
Os corpos dos ucranianos mortos parece que terão
uma solução mais próxima dos vietnamitas.
Continuarão abandonados pelas ruas ou coletados
coletivamente por carroças para serem enterrados
ou incinerados anonimamente.
Os russos, não. O Exército está levando para a
frente de batalha crematórios volantes para os
cadáveres dos soldados . Os mortos serão
transformados em cinzas, que poderão chegar em
uma urna aos familiares. Esses fornos, de
invenção nazista, intimidam os soldados,
induzindo os soldados a lutar pela vida, ao
mesmo tempo que alimentam menos esperanças de
que voltarão a ver esposas, filhos e mães .
A despedida do Pai daquela criança apoiada nos
braços da mãe, em lágrimas de desespero na porta
do trem, prenunciava a possibilidade de ser
aquela a última visão da família . Ocorreria
tanto de um lado quanto do outro. A Rússia
bombardeou mais de 270 pontos de resistência dos
ucranianos, atingindo portos, aeroportos,
gasodutos, mas também escolas e prédios
residenciais civis e, por cima, proibiu a
imprensa de dar tratamento de "guerra"ao
confronto, e tem evitado revelar o número de
mortos. Sim, porque os ucranianos estão usando
coquetéis molotov e os próprio corpos (como
noTiananmen), por todos os lugares, como os
estudantes fizeram na invasão de Praga e de
Budapeste, no passado contra esses mesmo russos,
para conseguir parar os tanques de guerra.
Segundo a versão de Putin, a Ucrânia é o berço
étnico da Rússia. A sua criação como país teria
sido um erro de Lênin. Ele, senhor de si,
aparenta ser mais um sujeito traumatizado .
Assistiu in loco à derrocada de Berlim Oriental
e, por consequência, à destruição da União
Soviética, agindo como espião dentro da
Alemanha. Considerou o fato mais desastroso do
século passado. É possível que tenha guardado
aquela imagem, e venha tentando resgatar a União
Soviética (URSS), acreditando poder manter a
Rússia hegemônica na região, como na Guerra
Fria.
A realidade tem mostrado que, todos os vizinhos
que se recusam a dobrar-se à liderança da
Rússia, ou de Putin, são colocados no mesmo
saco. Já invadiu o Afeganistão, a Chechênia, a
Geórgia, a Moldávia, Belarus, tomou a Criméia, e
quer a Ucrânia, parte da qual já ocupou. Para
não deixar por menos, ameaça a Suécia, a
Finlândia e os países bálticos. Sua geopolítica
não respeita as etnias, nem os cidadãos civis.
Para Putin, são pessoas que não pertencem a
lugar nenhum (Bjorn Berge, 2021). São todos
russos. Pretenderia ele corrigir os caminhos da
história, restaurando a URSS como uma Federação,
liderada pelos russos. Pensando
estrategicamente, Putin pode até ter um pouco de
razão, que é alimentada por verdadeiras
provocações do Ocidente, em particular os EUA e
pela própria imprensa, anunciando guerra todos
os dias.São desafios que não resultam de
consultas públicas internas.
A guerra tem um cenário real fora dos gabinetes
dos governantes e estrategistas militares, que
parecem desdenhá-lo. É lá onde está a sociedade
civil , ignorada em todos os lugares. ´Tem sido
ela a maior vítima dos conflitos bélicos no
mundo. Portanto, assim como aconteceu nos
Estados Unidos durante a guerra do Vietnam, na
Rússia grupos de pessoas estão saindo às ruas
para protestar contra a invasão da Ucrânia,
considerado um país irmão - e não mais um
satélite.
No mundo todo há uma indignação crescente contra
a atitude de Putin, que virou meme entre
cidadãos . E, por último, talvez fosse bom
lembrar que a guerra como solução, em pleno
século 21, estaria refletindo, provavelmente, o
obsoletismo dos modelos diplomáticos e
desvendando, mais uma vez, os riscos de
governantes insanos. Não existe mérito em
conseguir a paz pela guerra.
* Jornalista e professor |
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