AMOROSA CUMPLICIDADE
David Letterman,
conforme esclareceu, depois de ser despedido de seu antigo programa de televisão, foi trabalhar
para a Netflix. Após um período afastado, até retornar aos trabalhos, com uma inexplicável
barba de Papai Noel. Seu novo programa é também de entrevistas, recebendo um convidado
por vez, no estúdio ou na casa do entrevistado. Assisti às de Ryan
Reynolds, Barack Obama, Will Smith, duas cantoras jovens famosas e George Clooney. E foi
muito interessante conhecer a dinâmica familiar, suas influências e como a figura do pai foi
referida muitas vezes. Seja em relação a aspectos positivos, seja com um intenso sofrimento.
Um dos momento mais
comoventes foi quando Ryan Reynolds falava sobre o autoritarismo de seu pai. E o quanto
ele tentava se contrapor, para se afirmar, no auge de sua adolescência. Eram quatro irmãos, sendo
ele o caçula. Um dia comentou com eles que iria furar a orelha e colocar um brinco. Os
irmãos ficaram apavorados. Tentaram dissuadi-lo. O pai vai tirar a sua pele, diziam. Mas Ryan
estava determinado. Saindo com um amigo e a mãe desse, voltou para casa com um brinco
na orelha. Suava de medo do enfrentamento. A família estava jantando. Sentou-se em
seu lugar apavorado e quando conseguiu olhar para o pai, o viu baixando a cabeça e
falando baixinho: “Desgraçados!” Ryan olhou em volta meio confuso e descobriu que todos os
seus irmãos estavam de brinco.
Clooney recebeu em
sua casa na Itália sua futura esposa, levada por um amigo do ator. Quem estava presente no
encontro sentiu, de imediato, uma faísca entre os dois. E o agente do ator,
sabendo da visita, telefonara no dia anterior, dizendo que ele conheceria uma mulher com
a qual casaria. Amal é uma bela mulher, altíssima, magra, longos cabelos pretos
caindo pelos ombros, olhos enormes e uma inteligência maior ainda. E mais, advogada na ONU
para defesa dos direitos humanos. Famoso e um “demônio lindo,” como o chamara
Michelle Pfizer, Clooney também é um ativista dos direitos humanos. Mas foi tomado pela
timidez: ela era uma advogada conhecida, linda e mais nova do que ele 17 anos. Trocaram
notícias. Algum tempo depois, ele teria de ir a Londres para as últimas cenas de um filme. Que
iria acontecer com uma grande movimentação nas ruas. Achou que poderia
impressioná-la e telefonou convidando-a para o evento. Ela disse sim e iria quando terminasse uma
reunião com o ISIS. Grupo terrorista que ela estava enfrentando nos tribunais. Clooney
sentiu um banho de água fria. Afinal o filme nem era tão bom. E olhe o trabalho da
moça! O fato é que o dois se casaram na Itália, têm um casal de gêmeos e são muito
felizes. E quando Clooney fala sobre Amal, é com imensa admiração. Confirmada cada dia,
quando observa a mãe que ela se tornou. E completa: “daria a minha vida por ela.”
Uma das coisas mais
valiosas para o ser humano é essa amorosa cumplicidade.
A de irmãos que se juntam para
proteger o mais novo, sem avisarem. Ou uma relação se iniciando com a timidez
do famoso astro de cinema, ao encontrar sua alma gêmea. Clooney explica que
durante sua vida encontrou pessoas adoráveis. Mas permaneceu solteiro muito tempo. Até
encontrar alguém realmente capaz de preencher suas expectativas. E foi em
frente, vencendo a timidez.
A vida tem dessas
tramas, caminhos, veredas que nós, caminhantes, tentamos percorrer sem nos
perdermos. Entretanto, muitos ficam meio confusos na direção de seus passos.
Se aventuram desconhecendo para onde serão levados. Perdem a paciência, a
resiliência e falta o olhar arguto sobre o que é melhor para si. Independentemente de
qualquer circunstância.
Mas outros não. Ah!
Esses felizardos que aprenderam cedo a se afirmarem e ousados, entraram em
contato com seus sentimentos! E conseguiram coragem suficiente para
realizarem seus desejos. Benditos sejam! Tenho certeza de que em suas vidas uma amorosa
cumplicidade os abraçou ternamente, confirmando o amor. De Ryan, o carinho dos
irmãos; de Clooney, provavelmente, o orgulhoso carinho dos pais e a ternura de Amal.