Um dia a mais... ou o primeiro de
todos os dias? -
Lúcia Helena Galvão, professora da Nova Acrópole
De: Nova
Acrópole Lago Norte
Date: qui., 9 de jun. de 2022
Subject: #2 – Um dia a mais... ou o
primeiro de todos os dias?
#2 – Um dia a mais... ou o primeiro de
todos os dias?
"É
bom amar tanto quanto possamos, pois
nisso consiste a verdadeira força, e
aquele que ama muito realiza grandes
coisas e é capaz, e o que se faz por
amor está bem feito." - Van Gogh
Eu entendo a sua situação: um dia
cansativo, mas ainda é cedo para se
deitar. A televisão fala sozinha, num
canto, as coisas de sempre, ditas do
mesmo jeito, e você procura algo que
valha a pena no jornal do dia, que só
deu tempo para ler agora. Algum ruído na
casa do vizinho: alegria? dor? Não é
problema seu. Qual problema é o seu,
então? Por que algo te diz que as coisas
não vão bem, embora tudo corra dentro da
aparente “normalidade”?
Observe a poltrona à sua frente: para os
objetos materiais, basta resistirem
firme em seus lugares enquanto puderem,
e a sua missão está cumprida. A planta
no canto da sala: assimilar nutrientes
da terra e do sol, gerar alimento... e
está tudo perfeito. O cachorrinho que
dorme aos seus pés: instintos atendidos,
um pouco de afago dado e recebido, e a
vida segue.
Mas você... precisa de mais do que isso.
Precisa compreender. Não exatamente os
mistérios da radiação do universo, ou da
propagação da luz (embora eles não
estejam excluídos), pois, estes
complexos mistérios, há quem trabalhe
para entendê-los, e eles não respondem
às suas perguntas imediatas. Mas há algo
de uma natureza um pouco diferente, cujo
entendimento corresponde a todos os
homens, e não apenas a uma classe, e do
qual você necessita agora: as razões da
vida, da morte e daquele que contracena
com ambas: você. Quem é, realmente,
você? O que veio realizar no mundo? O
que realizou, até agora? Por que, afinal
de contas, deve deixar que o tempo
simplesmente passe, sem te deixar nada
senão velhice, sem te dar explicações
sobre o sentido disso tudo? Por que
cargas d’água o que ocorre com o
vizinho, um ser humano tão parecido, em
tudo, contigo, nada tem a ver com você?
A glória ou a dor do outro: nada que se
possa fazer a respeito, nada a
compartilhar?
Sim, dá para esquecer tudo isso e ir
dormir; amanhã é outro dia. Cumprir
hoje, a inércia da poltrona, e amanhã, a
busca do pão, como a planta e, por fim,
a busca de algum afago, como o cão,
e...”that’s it !” Vamos em frente.
Frente? Na verdade, desta forma, não
vamos a lugar nenhum, nunca. Ouse, pelo
menos, imaginar algo diferente! Pense em
como seria ir realmente “em frente”:
romper as “paredes” que te separam dos
demais: ir pela vida comprometendo-se em
crescer para encontrar respostas para as
dores próprias e alheias, buscando o
caminho da realização humana
(desbravando-o, se ele tiver se fechado
por abandono), procurando notícias
absolutamente novas dentro de si: quais
são seus sonhos mais humanos, aqueles
que te fazem sentir que a vida pode ser
algo mais que sobreviver com o maior
conforto possível? Se isto fosse
verdade, por que é que exatamente o
“desconforto” interno é o seu melhor
conselheiro, hoje? Dialogar com os fatos
diários e arriscar interpretá-los,
entender suas mensagens; aprender
daqueles que já se fizeram perguntas
sobre a vida, e tentar aplicar as
respostas que acharam. Expandir,
experimentar o sabor da honra, da
bondade sem segundas intenções, da
liberdade que se sente ao vencer o
egoísmo. Respirar, enfim... como ser
humano: inalar luz, exalar luz!
Cansar, também, no final do dia, e
buscar o “sono dos justos”, em seu
travesseiro. E, é claro, agradecer a
Deus, e também pedir, por que não? Já
que estou mesmo dando palpites, se tiver
que pedir algo a Deus, quer uma sugestão
de um ótimo pedido? Peça um segundo de
luz para todos. Consciência nasce do
contraste: se todos tiverem este segundo
de luz, este “flash”, descobrirão que
vivem na escuridão, e... quem sabe?
Imagine sete bilhões de seres humanos
com luz: a Terra seria, por um precioso
segundo, mais brilhante que qualquer
estrela!
Filósofos sempre são seres muito
imaginativos. Gosto de imaginar que,
talvez, meu momento de luz (e quem sabe
o seu, também?), que quebrou minha
inércia e me fez dar alguns passos em
direção ao humano, pode ter sido
resultado do pedido de alguém a Deus...
Lúcia
Helena Galvão, professora da Nova
Acrópole
Livro: Observações
matinais, crônicas filosóficas – Lúcia
Helena Galvão
Filme: Um
lindo dia na vizinhança, drama
biográfico, protagonizado por Tom Hanks,
107 min, Estados Unidos, 2020.