*O caso de Deltan Dallagnol é a prova de que o
país virou do avesso* Por J.R. Guzzo
O Brasil, definitivamente, juntou-se a um dos
piores clubes a que um país pode pertencer no
mundo de hoje: aquele dos que, em pleno século
XXI, tem presos e perseguidos políticos. O mais
recente deles, para piorar as coisas, nem é um
militante político que age em grupos de
“direita”. É um funcionário do Estado que está
sendo hostilizado por cumprir o seu dever
funcional de acusar perante a justiça indivíduos
que considera autores de infrações ao Código
Penal Brasileiro. Trata-se do procurador Deltan
Dallagnol, um dos principais membros da equipe
de acusação na Operação Lava Jato – a maior,
mais corajosa e mais eficaz operação de combate
à corrupção jamais executada pelo sistema
judiciário brasileiro em toda a sua história.
A situação, como se sabe, ficou de cabeça
para baixo: por ação direta do Supremo Tribunal
Federal e do alto aparelho de justiça que opera
logo abaixo dele, os criminosos condenados pela
Lava Jato foram transformados, por razões
políticas que nada têm a ver com a ciência do
Direito, em vítimas e heróis da sociedade. Os
promotores e juízes que os condenaram, ao
contrário, se viram jogados ao papel que deveria
ser dos condenados – passaram a ser o bandido.
Num primeiro momento, essa guerra santa em favor
dos corruptos e da corrupção se preocupou em
salvar a ladroagem. Assim que os autores dos
crimes tiveram a sua liberdade garantida,
passou-se à fase atual: a vingança contra os que
combateram os ladrões.
O procurador Dallagnol é um caso extremo.
Inventaram, contra ele, a acusação de que teria
gastado verbas oficiais de maneira indevida, em
viagens e conferências durante a Lava Jato. Ele
foi inocentado de todas as acusações na primeira
instância, na justiça do Paraná. Sua inocência
foi confirmada na instância imediatamente
superior, o Tribunal Federal Regional de Porto
Alegre. O próprio Ministério Público isentou
Dallagnol de qualquer procedimento incorreto.
Mas o Tribunal de Contas da União, que
normalmente abençoa os escândalos mais
espetaculares deste país – o “consórcio do
Covidão”, por exemplo, para se ficar no caso
mais agressivo – não larga o osso. Escolhido
como o instrumento dos vitoriosos para “pegar” o
procurador, o TCU recorreu de cada decisão, e
agora está no STJ. Esse tribunal, que já foi
capaz de confirmar por 5 a 0 a condenação de
Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, hoje
funciona como uma área de serviço do Supremo,
encarregada de cuidar das suas sobras.
Num primeiro momento, essa guerra santa em
favor dos corruptos e da corrupção se preocupou
em salvar a ladroagem. Assim que os autores dos
crimes tiveram a sua liberdade garantida,
passou-se àfase atual: a vingança contra os que
combateram os ladrões.
Dallagnol foi escolhido pelo PT como o
inimigo preferencial de Lula, da esquerda, do
“progressismo” em geral – é ele, depois do juiz
Sérgio Moro, que tem de pagar pelos maus
momentos que passaram na época em que foi
exposto à luz do dia o sistema de corrupção que
comandavam, o maior da história do Brasil. Lula
lhe exige uma “indenização” – e o público, em
poucas horas, doou ao procurador 750 mil reais
para a sua defesa. Agora, estão atrás dele no
STJ. É a hora da forra. Um dos peixes graúdos do
PT, o mesmo que queria o fechamento do STF na
época em que Lula foi preso e hoje é amigo de
infância dos ministros, diz que os combatentes
contra a corrupção devem preparar “o bolso” e
“os punhos” para receberem o castigo que a
esquerda vai lhes aplicar. É o mundo virado do
avesso.
Gazeta do Povo - 27/06/2022
https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jr-guzzo/o-caso-de-deltan-dallagnol-e-a-prova-de-que-o-pais-virou-do-avesso/ |