Democracia? - LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO De:
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Date: ter., 22 de ago. de 2023
DEMOCRACIA?
Perdidos em meio ao turbilhão de compromissos
e deveres frequentemente não nos damos conta de
como somos envolvidos por discursos enganadores.
Com tal frequência que nos distanciamos da
realidade nacional, tal como se apresenta no
cotidiano. É o que acontece quando ouvimos a
verborragia sobre vivermos em uma sociedade
democrática. Somos todos realmente iguais quanto
aos nossos direitos?Existem importantes questões
quanto ao “aspecto” democrático das relações
entre os Poderes da República e entre cidadão e
Estado. Imaginem, por exemplo, um sistema que
estabelece a harmonia e independência entre os
Poderes e, ao mesmo tempo, delega poder ao
Executivo de escolher os Ministros do STF.
Escolha cujo critério principal são as relações
de confiança entre o Presidente da nação e os
indicados. Aconteceu com o presidente anterior,
sr. Bolsonaro. E muito mais com o atual, sr Luiz
Inácio, que indicou para o STF seu advogado.
Quase como um prêmio pois, academicamente
falando, não há muito a explorar. Agora, com a
futura indicação de outro ministro para o lugar
da Dra. Rosa Weber, o Presidente afirmou
publicamente que o critério de escolha é ser
pessoa de sua confiança. Em que se transforma o
STF, em um clube de amigos do Chefe?
Assim com a forma como os interesses dos
menos privilegiados perpassam as decisões de
nossos representantes. Ou o modo como são
protegidos os interesses dos grupos no poder, em
detrimento da população. Um exemplo do nosso
ambiente “democrático”: o governo pretende
aumentar o teto de pagamento do Imposto de
Renda. Ou seja, uma camada maior dos mais pobres
não pagaria o imposto. Todavia, ao diminuir a
arrecadação com menos impostos pagos,
obrigatoriamente é necessário criar fontes de
arrecadação. No caso, Haddad, o Ministro da
Fazenda, sugere a tributação de impostos sobre
os investimentos feitos em paraísos fiscais por
residentes no Brasil. Conhecidos como fundos
offshore. O que parece muito justo. Desonera-se
o mais pobre e cobra-se dos mais ricos.
Naturalmente, nada que os espantem.
O Presidente da Câmara, dr. Arthur Lira, no
entanto, não concorda com a sugestão do Ministro
da Fazenda. Representante de poderosos
interesses, se atribui um poder mágico, acima de
qualquer outro. E tem o “direito” de pautar as
matérias para votação na Casa. Poder que exerce,
juntamente com líderes partidários,
desenvolvendo sobre o Executivo a maior
chantagem política explícita dos últimos tempos.
Desconhecendo a força eleitoral do Chefe da
nação e através de um processo de
governabilidade bem conhecido no Brasil -
baseado na comercialização das relações
políticas e na destituição da representatividade
parlamentar. Na medida em que o voto do eleitor,
objeto de venda, perde seu significado.
Por outro lado, uma outra questão é o quanto,
efetivamente, nosso conceito de democracia
transborda para nossas práticas, para o real. Ou
seja, para as relações entre Estado e cidadão no
cotidiano. Nos espaços mais importantes para a
qualidade de vida da população – os serviços
públicos. Estariam as condições e práticas do
atendimento comprometidas com as demandas da
sociedade e avaliadas levando em conta a voz dos
usuários, o sujeito das ações? Qual a qualidade
de nossos serviços públicos? Nos Postos de Saúde
sem médicos, no reduzido tempo das consultas
médicas, na falta de medicamentos, no
acolhimento que é dado ao usuário logo na
recepção. Da mesma forma, entre outros exemplos,
o nível de qualidade da educação pública do
país. Além da falta de um mínimo de dignidade
nas instalações físicas das escolas- em muitas
os banheiros são degradantes, os móveis
quebrados, mofo nas paredes, instalações
elétricas com sérios problemas. Que noção de
respeito a si próprio terá o nosso estudante
pobre, no ambiente que lhe é oferecido por
gestores omissos e incapazes? Lembremos ainda
das falhas estruturais e do tamanho das
habitações populares. E a insegurança de nossas
ruas com a ausência de policiais, quando se sabe
que o policiamento ostensivo é estratégia de
segurança nos países civilizados. Poderíamos
falar de transporte público também, submisso aos
interesses da indústria automotiva.
Portanto, na nossa sociedade “democrática” o
cidadão é duas vezes excluído. Primeiramente,
pelo nível ou a falta de renda, a lembrar a
perversa injustiça e desigualdade sociais. Em
segundo lugar, por não encontrar nas Políticas
Públicas uma resposta eficaz às suas
necessidades. Pois elas indicam, em seus
resultados, os preconceitos e o autoritarismo
estrutural que atravessam nossa sociedade.
Refletem, como em um espelho, as imagens da
falta de fiscalização e avaliação, a conivência
com a mediocridade das administrações. Nas quais
o mais pobre, o negro, o cidadão comum não têm
voz ou presença. São um número, uma pessoa cuja
invisibilidade diz muito do que chamamos
democracia no nosso país. (agosto/2023/luiza) |