Profissão: roteirista de cinema
de 19
a 31 de julho de 2005
O roteiro é peça
básica do trabalho cinematográfico. Da mesma forma que
montadores, fotógrafos ou cenógrafos, o roteirista é elemento
familiar da maquinaria complexa do cinema e, tão importante
quanto estes profissionais anônimos - dos quais certamente
depende o êxito maior ou menor de uma obra cinematográfica -
nela se imiscui em favor de um objeto final e aglutinador: o
filme. A confecção de um roteiro é o primeiro estágio de
elaboração de um filme. Nesta etapa inicial, geralmente ao lado
de um diretor, o roteirista - já ciente dos muitos limites às
vezes impostos por questões externas como, por exemplo,
restrições de orçamento - constrói as personagens, elabora os
diálogos e planos, idealiza ações, imagens e sons; compõe,
enfim, a narrativa e, ao mesmo tempo, um guia capaz de orientar
a filmagem. A partir daí, submetido a leituras específicas, o
roteiro torna-se um instrumento: é lido, dissecado, anotado e
finalmente descartado. Neste ponto do processo, o roteirista tem
de abandonar inevitavelmente a devoção por seu trabalho e
transferir seu entusiasmo para a realização efetiva do filme:
idealizado no papel, o roteiro é submetido à concretude das
filmagens e assim, exposto à prática, uma metamorfose
indispensável o espera.
Quanto à natureza de
seu ofício, dois traços parecem caracterizá-lo: o mais conhecido
e divulgado diz respeito a seu status de narrador, geralmente
associado à figura do dramaturgo ou escritor de romances. Há,
porém, um segundo aspecto fundamental que muitas vezes perdemos
de vista: o necessário conhecimento das peculiaridades da
linguagem cinematográfica; é preciso saber como os filmes
são feitos; qual é o papel de cada técnico e seus instrumentos;
estar atento aos elementos que compõem a mise-en-scène.
Escrever para o cinema é uma atividade específica e o bom
desempenho de um roteirista depende de sua destreza em combinar
narrativa e técnica cinematográfica.
A trajetória do
roteirista na história do cinema é marcada por períodos
oscilantes em que esteve ou não no foco das atenções. Em alguns
momentos, sobretudo no cinema francês dos anos 50, a influência
do roteirista foi tão forte que alguns diretores limitavam-se a
formalizar o roteiro em imagens. O auge de sua posição está
ligado ao processo de industrialização do cinema, responsável
por motivar, em grande escala, a formação de roteiristas
profissionais; seu declínio, ao surgimento do cinema de autor
que, nos finais da década de 50, subverteu violentamente o
formalismo e a monotonia aos quais havia se acostumado o cinema.
Paralelamente, o novo conceito jogou os roteiristas no
esquecimento ao insistir na idéia de que cada filme trouxesse a
marca distintiva do autor. No final dos anos 60, o roteirista
volta à cena.
Com o intuito de
expor o papel decisivo que os roteiristas exerceram e atualmente
exercem sobre a concepção da obra cinematográfica, a Cinemateca
Brasileira oferece, de 19 a 31 de julho de 2005, a mostra
"Profissão: roteirista de cinema", composta por 22
títulos nacionais e estrangeiros, roteirizados por grandes nomes
como Kogo Noda, Suso Cecchi d’Amico, Alinor Azevedo, Miguel
Torres, Carl Mayer, Ody Fraga, Agenore Incrocci e Furio
Scarpelli, Leopoldo Serran, Jean-Claude Carriére, Sergio Amidei,
Thea von Harbou, entre outros. Para completar o ciclo, estão
programadas para o próximo ano uma segunda edição da mostra e
uma retrospectiva de Jean-Claude Carrière.
Núcleo de Programação
Sala Cinemateca
Largo Senador Raul
Cardoso, 207 - Vila Mariana
próxima ao Metrô Vila
Mariana
Maiores Informações
pelos telefones: 5084-2177 (ramal 210) ou 5081-2954
ingressos: R$ 8,00
(inteira)
R$ 4,00
(meia-entrada)
Atenção: Estudantes
do Ensino Fundamental e Médio de Escolas Públicas têm direito à
entrada gratuita mediante a apresentação da carteirinha.
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Fichas técnicas
e sinopses:
O assassinato do
Papai Noel (L’assassinat du Père Noël), de Christian-Jaque
França, 1941, 35mm,
pb, 105’
Roteiro: Charles
Spaak
Elenco: Harry Baur,
Raymond Rouleau, Marie-Hélène Dasté, Renée Faure
Sinopse: Clássico do
cinema francês da década de 40. Num vilarejo nas montanhas, em
todo Natal, o pároco Cornusse fantasia-se de Papai Noel e
encanta a criançada. Naquele ano, porém, um crime inesperado
acontece: o cadáver do Papai Noel é encontrado, mas, o corpo,
não é o de Padre Cornusse.
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Aurora (Sunrise: a
song of two humans), de F. W. Murnau
Estados Unidos, 1927,
16mm, pb, 106’ - silencioso; intertítulos em inglês
Baseado na novela "Die
Reise nach Tilsit", de Hermann Sudermann
Roteiro: Carl Mayer
Elenco: George
O´Brien, Janet Gaynor, Bodil Rosin, Margaret Livington
Sinopse: Uma atraente
mulher, em férias, vai a uma pequena vila do interior e seduz um
jovem fazendeiro casado. Maliciosa, sugere a ele que sua esposa
se afogue acidentalmente. Ao embarcar com a esposa para Tilsitt,
o fazendeiro tenta afogá-la, mas, apavorado, abandona a idéia.
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Belíssima (Bellissima),
de Luchino Visconti
Itália, 1951, 35mm,
pb, 115’
Roteiro: Suso Cecchi
d’Amico, Luchino Visconti e Francesco Rosi
Elenco: Anna Magnani,
Walter Chiari, Tina Apicella, Alessandro Blasetti
Sinopse: Em Roma, uma
companhia produtora coloca um anúncio à procura de uma garota
para um filme a ser rodado em Cinecittà. Obcecada por cinema e
pela idéia de tranformar sua filha numa estrela, uma mulher
decide participar do concurso que escolherá a protagonista do
filme. Numa sala de projeção, revolta-se ao ver o diretor e sua
equipe escrachando o jeito esquisito e desengonçado da filha.
(...)
Meu tio da América (Mon
oncle d'Amérique), de Alain Resnais
França, 1980, 35mm,
cor, 125’
Roteiro: Jean Gruault
Elenco: Gérard
Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre, Pierre Arditi
Sinopse: Um professor
e sociobiólogo expõe sua teoria do comportamento humano ao
intervir na narrativa de três histórias entrecruzadas envolvendo
uma atriz, um homem que trabalha numa estação de rádio e um
operário.
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A rotina tem seu
encanto (Sanma no aji ) de Yasujiro Ozu
(Japão, 1962 - 113
min.)
com Chishu Ryu, Shima
Iwashita, Keiji Sada, Mariko Okada
Sinopse: O viúvo
Hirayama mora com dois filhos, entre eles, a jovem Michiko. Um
dia, encontra-se com seu ex-professor de escola e, numa
conversa, o velho lhe diz que sua filha ainda não se casou
porque, depois da morte da mãe, teve que ajudar o pai a dirigir
seu negócio nos arredores de Tóquio. Impressionado com o estado
patético em que caíra o velho professor, apegando-se
deseperadamente à filha, Hirayama pede a Michiko que pense num
casamento. Com o apoio dos parentes, procura um bom partido para
a filha.
(...)