VAMOS PROIBIR OS GOVERNOS DE ANUNCIAR?
Fritz Utzeri: Vamos proibir os governos de anunciar?
Vivi quatro anos na França e quatro nos Estados Unidos e não vi qualquer
propaganda do governo nos meios de comunicação. O único tipo de campanha
existente é institucional. Nos EUA, por exemplo, a Força Aérea faz
propaganda de recrutamento. Não há também os abomináveis ''horários
políticos'' dos partidos ou propaganda política de governos estaduais ou
municipais.
Por que não adotar a mesma prática aqui?
Bastaria acrescentar à Constituição a seguinte disposição: ''É vedada aos
governos federal, estaduais e municipais qualquer propaganda destacando
realizações, obras ou promessas de seus governantes, sob qualquer pretexto.
Permite-se apenas a propaganda institucional, como vacinação, alistamento
militar, combate à dengue ou educação no trânsito, sem acrescentar nomes de
prefeitos, governadores, presidente, ministros ou qualquer outro político,
devendo limitar-se à citação do órgão responsável pela campanha''.
(...)
A administração direta da União (incluindo o Palácio do Planalto e os
ministérios) gastou R$ 233 milhões em publicidade em 2003. No ano passado, o
gasto cresceu 45% e atingiu R$ 340 milhões. Este ano deverá ser ainda maior.
Além disso, há outras campanhas não incluídas nessa verba da União, como a
do Banco do Brasil, que gastou, em 2003, R$ 153,6 milhões. No ano passado,
os custos aumentaram em 71%, passando a R$ 262,8 milhões. Desse total, a
agência mineira DNA Propaganda faturou um terço (cerca de R$ 86 milhões). Há
verdadeiros absurdos, como o lançamento do chamado Banco Popular, do BB.
Gastaram-se R$ 25 milhões para divulgar um banco que, desde sua criação,
autorizou operações de crédito no valor total de R$ 20 milhões.
(...)
Estranho ''papel republicano''. Como exemplo, basta citar o Ministério da
Saúde (verba de propaganda de R$ 99 milhões). Por que o governo precisa
gastar para falar de saúde? Se realmente trabalhar, os jornais farão isso de
graça. Só para comparar, basta ver que para realizar a maior experiência com
células-tronco já feita no mundo, até hoje, em 1.200 pacientes com problemas
cardíacos, o Ministério da Saúde gastará R$ 12 milhões. A imprensa deu ampla
divulgação ao fato e estará acompanhando o seu desenrolar, inteiramente
grátis.
Mesmo as campanhas institucionais podem ser feitas a baixo custo. Os
jornais, revistas, TVs e rádios que divulgam locais de vacinação e campanhas
institucionais sempre contam com a boa vontade de artistas e personalidades
que a farão de graça ou mediante cachê simbólico.
É preciso acabar com isso já. Proibamos os governos de anunciar. Escreva
para o seu deputado e senador e reclame, exija. Há maneiras mais cidadãs e
republicanas de usar o nosso suado dinheiro.
[Jornal do Brasil - 29/JUN/2005]
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