Lafer acredita no pacifismo ativo para a construção da
Paz
mundial
São Paulo, 22 de agosto de 2005 - Com olhares hobbesiano,
kantiano e grociano, o ex-ministro das Relações
Exteriores, Celso
Lafer, abriu na quinta-feira, dia 18, o segundo ciclo do
Fórum
permanente Universo do Conhecimento, promovido pela
Universidade São
Marcos, cujo tema é Planeta Terra: Um olhar
transdisciplinar. A
proposta é reunir grandes especialistas para a discussão
de questões
que afetam o presente e o futuro da humanidade.
Direitos humanos, democracia e paz formaram o eixo de
discussão da
palestra de Lafer, que se baseou no pensamento de
Norberto Bobbio
para desenvolver sua argumentação. Lembrado pelo
ex-ministro como o
grande teórico da Democracia, o pensador considerava o
tema da paz
intimamente vinculado à democracia. “Segundo Bobbio, a
paz mais
estável depende de duas condições: o aumento do número
de Estados
democráticos no sistema internacional e o avanço do
processo de
democratização deste sistema”, disse o professor,
explicando que além
de se inspirar em Bobbio, seguiria também na palestra os
caminhos de
Kant, de Hobbes e de Grocio, grande consolidador do
Direito
Internacional. “Kant como uma idéia reguladora; Hobbes
como uma
cautela; e Grocio exercendo os bons ofícios”.
“À maneira de Bobbio”, diz o professor, “vou começar
repensando duas
facetas das promessas não mantidas da democracia,
derivadas de
obstáculos não previstos”. Para Lafer, as atuais
características da
dinâmica internacional apontam para a unipolaridade dos
EUA e a
crescente heterogeneidade do sistema internacional,
cujas raízes
estão no ímpeto dos fundamentalismos que vêm erodindo a
construção de
uma ordem cosmopolita. “Esta ordem cosmopolita estava na
expectativa
do mundo com a queda do muro de Berlim, no início da
década de 90”,
argumentou Lafer, acrescentando que os desdobramentos
das promessas
não cumpridas da democracia favorecem a violência e a
guerra.
De acordo com o ex-ministro, as tensões da hegemonia
provenientes do
unilateralismo dos EUA, agregadas à lamentável
intensificação dos
fundamentalismos e também dos conflitos étnicos, como os
de Ruanda,
nos Bálcãs e na Argélia, desequilibram o sistema
internacional.
“Parece claro que uma ordem cosmopolita, que era um
pouco a
expectativa de todos nós, inclusive de Bobbio, com
inspiração
kantiana, está nebulosamente distante do nosso olhar”.
Ainda segundo o professor, um dos ingredientes decisivos
do regime
democrático é a confiança recíproca entre os atores da
vida
internacional, imprescindível para a aspiração de um
pacifismo ativo
e justamente o tema que falta no mundo, seja nas
relações entre Europa
e EUA, ou no nosso contexto sul-americano e
latino-americano. “Não
vou dar nomes ou citar países porque, tendo desempenhado
a função de
ministro das Relações Exteriores, aprendi que o cuidado
com o uso da
palavra é uma das responsabilidades de um diplomata,
mesmo estando
ele agora apenas na vida acadêmica”, justificou o
ex-ministro.
Outro tema abordado durante a palestra foi a política
agressiva e não
legitimada da administração do atual presidente dos EUA
para manter a
hegemonia no mundo. “A carência de um lastro de
legalidade não
impediu o high power dos EUA, como a única superpotência
no plano
internacional, exercer a soberania norte-americana ao
modo de um
grande constitucionalista, que é Carl Schmitt”, falou o
ex-ministro.
Lafer considera o teórico alemão não do bem, como Hans
Kelsen, mas do
mal porque ele defendeu o Estado de Exceção e a
constituição e
criação do regime nazista na Alemanha. Apesar disso,
cita a famosa
definição de soberania do constitucionalista: soberano é
quem é capaz
de decidir o Estado de Exceção. “Os EUA, soberanamente à
moda de
Schmitt, defenderam o Estado de Exceção, não cumprindo o
que a norma
previa”, disse ele, citando também o caso recente da
morte do
brasileiro Jean Charles, em Londres, para ilustrar o
excesso de um
Estado de Exceção, neste caso promovido com o objetivo
de limitar a
ação terrorista.
O professor disse acreditar no valor da tolerância, no
reconhecimento
dos direitos humanos e de afirmações que levam em conta
o pluralismo
da condição humana para a construção da paz mundial. “O
cenário atual
é muito distinto e não tem sinais de progresso. Existem
obstáculos
que dificultam a democracia em escala planetária. As
pessoas não
estão, para citar uma frase que eu adaptei de Hanna
Arendt, à vontade,
nem em casa nem no mundo”.
Concordando mais uma vez com Bobbio e citando
Tocqueville, ele
finalizou a palestra afirmando que o único salto
qualitativo na
história, possível mas não necessário, é o da passagem
do reino da
violência para o da não-violência. “É preciso ter no
futuro a
preocupação salutar que faz velar e combater para evitar
que a
irradiação do mal passivo e do mal ativo gerem ainda
mais a
descartabilidade do ser humano e um cosmo onde as
pessoas não se
sintam nem à vontade nem em casa. Daí a idéia de um
pacifismo
ativo, da construção de uma consciência ativa em prol da
paz”.
O Fórum Universo do Conhecimento continua em setembro,
com as
presenças do ambientalista norte-americano Thomas
Lovejoy; do
filósofo francês Edgar Morin; e do “papa” da
cybercultura, Pierre
Lévy. Em outubro, será a vez do empresário Ray Young,
presidente da
General Motors do Brasil. O psicanalista Carlos Byngton
encerra o
ciclo em novembro. Inscrições pelo site
www.universodoconhecimento.com.
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FONTE: UNIVERSIDADE SÃO MARCOS
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