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De: "FENAJ"
Data: Fri, 7 Oct 2005 16:59:38 -0300
Para: theresa.files@gmail.com
Assunto: A importância do Jornalismo e a nova
TAC
O desaparecimento do campo do Jornalismo na
proposta da nova Tabela das Áreas de
Conhecimento foi recebido com perplexidade e
revolta por algumas organizações profissionais e
docentes.
Não é para menos. Essa supressão parece fazer
parte de uma orquestração contra uma das mais
importantes atividades humanas para a construção
da sociedade moderna e para a manutenção da paz
e da justiça social.
Desregulamentar a profissão; cassar a
necessidade do diploma; incentivar a
transformação do jornalista em pessoa jurídica;
desrespeitar as legítimas associações
profissionais e de pesquisa; ameaçar jornalistas
com a lei da mordaça; comercializar o estágio;
ridicularizar a ética profissional; ignorar a
importância histórica dos cursos de jornalismo
para a área de Comunicação e não reconhecer que
houve aprimoramento profissional depois de 1969
são partes da teia de variáveis que se formou
contra o reconhecimento do jornalismo como
legítima área de conhecimento e especialidade
profissional.
Só na Universidade de São Paulo foram defendidas
quase quinhentas dissertações de mestrado e
teses de doutoramento. Não são poucos os
pesquisadores e professores contratados por
importantes universidades estrangeiras. O ensino
de jornalismo das mais destacadas escolas
brasileiras tem sido parâmetro para a
organização de congêneres em outros países. São
inúmeros os convênios firmados entre nossas
faculdades com centros de ensino e pesquisa da
Europa e dos Estados Unidos, comprovando que a
área de jornalismo tem profícua produção e
qualidade.
No intercâmbio internacional de alunos e
professores observa-se interesse incomum em
receber estudantes brasileiros de jornalismo,
pela invejável qualidade intelectual que
demonstram e os convites a docentes para que
lecionem períodos letivos em instituições
estrangeiras tem aumentado.
Não será necessário que pesquisadores e
professores de outras áreas tem falhas no ensino
e na pesquisa porque os integrantes do campo têm
maturidade e suficiente autocrítica para saber
onde melhorar. É preciso reconhecer que a régua
que mede algumas ciências humanas e sociais não
é necessariamente a mesma que mensura o
Jornalismo.
Encarar jornalismo como uma técnica também é um
equívoco. Essa confusão foi ampliada porque
alguns críticos da profissão entendem que, com
os novos meios informatizados, não há
necessidade de intermediários para a difusão da
informação e que esses intermediários
representam uma barreira ao direito da
informação e da opinião.
Creio que nós, jornalistas, somos responsáveis
por essas avaliações equivocadas.
Não conseguimos demarcar, à luz das novas
tecnologias, a responsabilidade social de nossa
atividade. Desprezamos o valor que agregamos à
informação para eleva-la à categoria de fato
jornalístico e transforma-lo em notícia
eticamente construída. Isto é, não conseguimos
que a nossa audiência faça a distinção entre
informação e notícia.
Jornalismo não é um suporte, um meio. É uma
atividade que usa suportes (jornal, rádio,
televisão, internet) para difundir a notícia,
que é o objeto de nosso trabalho e de nossas
pesquisas.
Desta forma, creio que a simples revisão da
Tabela de Áreas de Comunicação não é suficiente.
O campo de Jornalismo tem maturidade para
reivindicar uma área própria, um espaço nas
agências de pesquisa para que se faça justiça à
sua importância e se reconheça o seu objeto.
Contemplar esse pedido não significa que o
Jornalismo deva ter um tratamento privilegiado.
É uma área que tem suficiente lastro acadêmico
para ser tratada com o mesmo cuidado que é dado
a outras áreas, como a de Medicina que está
dividida em três (Medicina I, II, III), além de
reconhecer a especificidade de Odontologia como
conhecimento autônomo; Engenharia, que tem
quatro divisões e Ciências Biológicas,
reconhecida pelas agências com três áreas
distintas.
José Coelho Sobrinho (Professor de Jornalismo da
ECA/USP e Presidente da
ABECOM) |
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