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Queridos Amigos Ocultos
(por razões de segurança na Internet),
mas bem identificados na Agenda e no
coração: Gostaria de contar-lhes esta
história na Noite de Natal.
Aí vai, no anexo.
Um abraço bem natalino, Tereza
Tereza
Lúcia Halliday, Ph.D
Criação,
Análise e Assessoria de
Textos
www.terezahalliday.com
"Palavra quando acesa,
não queima em vão".
QUE FIM LEVARAM OS REIS MAGOS?
Rubem Alves (*)
Foi na estalagem Os Quatro Caminhos do Mundo que
os três reis viajantes se encontraram.
Descobriram, então, que eram irmãos: "todos
vinham da mesma nostalgia, todos caminhavam em
busca da mesma alegria. Continuaram juntos a
jornada até que... chegaram a um vilarejo:
Beth-léhem - esse era o seu nome, gravado numa
pedra. " Que estranho", disse Gaspar, "aprendi
tudo o que há para ser aprendido sobre reinos,
províncias, cidades e vilas. Mas nunca vi esse
nome..."
Balt-hazar acendeu sua lâmpada de azeite e
iluminou, com sua luz bruxuleante, o mapa que
abrira sobre o chão. "Aqui está ela", disse
marcando com o dedo um lugar no mapa: "Beth-léhem.
Fica precisamente na divisa entre dois grandes
reinos: À esquerda, está o Reino da Fantasia. À
direita, está o Reino da Realidade. São reinos
perigosos. Quem mora só no Reino da Fantasia,
fica louco. Quem mora só no Reino da Realidade,
fica louco. Para se fugir da loucura, há de se
ficar transitando de um para o outro, o tempo
todo. Somente os moradores de Beth-léhem estão
livres de ficar o tempo todo indo de um reino
para outro. Porque Beth-léhem fica bem na
divisa...."
No vilarejo, todos dormiam. Era uma noite de
paz. O ar estava perfumado com flores de jasmim
e magnólia. E havia um brilho no ar - milhares,
milhões de vaga-lumes estavam pousados sobre as
árvores. No ar, o som de uma flauta de pastor...
A estrela iluminava uma gruta. (...) Era uma
estribaria. Junto com os animais, uma pequena
família: um jovem, e uma jovem que amamentava um
nenezinho recém-nascido. Era só isso. Nada mais.
Perceberam que haviam se enganado. Não era a
estrela que iluminava a cena. Era o nenezinho
que iluminava a estrela. E, olhando bem para
ela, puderam ver, nela refletido como num
espelho, o rosto da criancinha. E disseram: "O
universo é um berço onde uma criança dorme!".
Aí, uma coisa estranha aconteceu: ao olharem
para o nenezinho, os reis perderam a sua
compostura real; eram dominados por uma vontade
incontrolável de rir. E, quando riam, ficavam
leves e começavam a flutuar. Era assim: quem
visse o menino se transformava em anjo...
Os reis, em meio a risos e vôos, olharam cada um
para o outro e disseram: "Nossa busca chegou ao
fim. Encontramos a alegria. Para ter alegria, é
preciso voltar a ser criança". Ato contínuo,
tomaram suas coroas, capas de veludo, dinheiro,
ouro, jóias - coisas de adulto - e as depuseram
no chão, ao lado das vacas e dos burros... Eram
pesadas demais. E partiram leves, ora andando,
ora pulando, ora voando, mas sempre rindo.
"Vou mudar de vida", disse Gaspar, "É horrível
ter de estar estudando ciência o tempo todo. Vou
me transformar em poeta" [Os consultores da
Corte onde era Rei o haviam aconselhado a
adquirir todos os conhecimentos do mundo a fim
de curar-se de sua tristeza e nostalgia].
"Eu também vou mudar de vida", disse Balt-hazar.
"É horrível estar rezando o tempo todo. Vou ser
palhaço. O riso é o início da oração". [Seus
consultores lá no Reino onde reinava o haviam
aconselhado a aprofundar-se no misticismo a fim
de curar sua tristeza e nostalgia].
Ao que Mélek-hor acrescentou: "Eu descobri o
prazer supremo que vem sempre acompanhado da
alegria: brincar. Vou ser fabricante de
brinquedos. Quem brinca volta a ser criança e
quem volta a ser criança, está de volta ao
paraíso". [Seus consultores o aconselharam a
dedicar-se a farras, a fim de curar sua tristeza
e nostalgia].
E assim, partiram, cada um por um caminho. E, se
você, nas suas andanças, se encontrar com um
poeta, com um palhaço, ou com um fabricante de
brinquedos, pergunte se ele não tem notícias de
uns três reis...
(*) Rubem Alves é educador, teólogo,
psicoanalista e escritor. O texto completo desta
história está em seu livro "Transparências da
Eternidade" (Campinas, S.P. - 2002, Verus
Editora, pp.117-126).
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