ENCONTRAR O PONTO DE EQUILÍBRIO
NA PRÁTICA DA NATAÇÃO
Theresa Catharina de Góes Campos
Sabia, desde a primeira
aula, que a dedicação e as instruções do professor Emerson Corona seriam
as melhores. No entanto, também tinha consciência de que, devido à minha
falta de entusiasmo por exercícios físicos, a grande dificuldade estava
na aceitação, com alegria, dessa nova realidade como aluna de natação,
dessa rotina diária a ser construída, de segunda a sábado. Dependeria de
minha mente dominar o turbilhão das emoções, a responsabilidade dos
compromissos escolhidos. Precisaria esquecer as preferências tão
enraizadas por uma vida sedentária, de modo a me condicionar a praticar
os ensinamentos recebidos, não apenas uma ou duas vezes, mas
repetidamente, e buscando um aperfeiçoamento contínuo.
O professor não se cansava de orientar: "relaxe!". Porém eu
continuava a nadar com a respiração desordenada, os movimentos sem
coordenação, muitas vezes tão rápidos que provocavam uma desorganização
total naquela atividade física com potencial de harmonia e relaxamento.
Compreendia tal desafio, sem que o diagnóstico me fosse revelado, em
todos esses detalhes. Quando acertava o ritmo e as braçadas, quando
conseguia respirar um pouco melhor, as palavras de incentivo não
demoravam, com os elogios do professor se sucedendo a cada acerto. Os
domingos eram diferentes: lá ia eu nadar sem pausas durante uma hora.
Espero que o professor acredite, porque é verdade! Uma hora inteirinha!
Sessenta minutos de muito esforço! Quanto sacrifício, eu pensava! Por
que não cuidei antes de minha saúde?! Quando aparecia alguém, nadava de
três a cinco minutos e saía da piscina... Sozinha, esforçava-me para
praticar o que tinha aprendido nas aulas da semana. Ou procurando me
lembrar do que eu supostamente aprendera, preservado na memória como
reserva preciosa à qual recorreria cuidadosamente, para que a teoria se
transformasse em prática de sucesso.
Analisando meu procedimento, com disciplina e determinação (palavras
mais bonitas do que teimosia...), esse processo de reflexão crítica logo
se transformou em resultados bastante pragmáticos. Decidi que o nado de
peito (meu preferido) exigia de mim uma atitude diferente: eu passaria
a nadar com o cérebro e o coração em sintonia, valorizando a felicidade
de poder me exercitar, aos sessenta anos de idade, no ambiente tranqüilo
e agradável de uma piscina...num esforço de alongamento bem relaxado,
caprichando na movimentação ritmada ... braços e pernas funcionando como
um todo , e não, como segmentos, partes soltas à deriva...
Afinal, eu não era uma náufraga em desespero, a buscar, traumatizada, a
borda mais próxima da piscina para conseguir respirar, aliviada! Não
precisava salvar ninguém, nem estava competindo! Por que tanta
ansiedade? Sem a presença de ondas, nem ameaça de tubarões!
E o ponto de referência foi estabelecido com a decisão de nadar
consciente mas quase brincando, fazendo um balanço com o corpo "singrando as águas", não apenas como se fosse um barco... e sim, um
balanço do tronco a unir braços e pernas, semelhante ao balanço de ninar
um bebê ... nos braços? numa rede? numa cadeira de balanço? Bem,
percebi que bastava sentir aquele "ninar" repetido, sucessivo,
contínuo, sem estresse, nem pressa de chegar... nem mesmo de chegar às
bordas da piscina, sem obrigação de concluir... para obter os efeitos
positivos do alongar e relaxar.
Aliás, a conseqüência do relaxamento foi o meu maior prêmio. Ao
perceber isso, decidi expressar, numa suposta fórmula, a minha nova
atitude, que eu não queria esquecer. A essa "mágica mental e física"
para buscar meu ponto de equilíbrio na prática da natação, chamei,
desavergonhadamente, de Atitude para Nadar "Ninar", ou
AN2R – que eu passei a traduzir como: Alongamento para Ninar a mim
mesma, e alcançar os 2 Rs, Reflexão e Relaxamento.
Na segunda-feira seguinte, sem prevenir o professor, nadei o "ninar"
e, como recebi a sua aprovação, decidi que, nos próximos domingos, eu
tentaria aplicar essa minha "técnica" pessoal aos outros tipos de
nado, sobretudo como ponto de referência ao "crawl", para
descomplicá-lo na minha cabeça e vencer a sensação de dificuldade que se
instalava todas as vezes, provocando interjeições espontâneas e até
pedidos de ajuda aos santos!
E a "mágica" funcionou! Ora, ora...não é surpresa para ninguém! Unindo
a mente e o coração, quase tudo se consegue, graças a Deus! Ainda mais
se contarmos com a orientação de um professor competente.
Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 13 de junho de 2005 |
COMENTÁRIO de CACILDA GONÇALVES VELASCO,
autora de vários livros, sendo o mais recente
"Aprendendo a envelhecer... à luz da psicomotricidade".
Olá!
Parabéns mais uma vez pelo texto.
Querida Theresa,
Sabe? Você me traz sempre a imagem de uma brisa... forte, mas brisa...
firme, mas serena... algo assim que passa e deixa marcas.
Parabéns pelo "ponto de equilíbrio"... Sim, é exatamente isso que
precisamos para simplesmente nadar (...ninar, na água).
Sempre comentamos, nas nossas antigas conversas, Emerson e eu, que para
nadar não é necessário só nossa motricidade, mas fundamentalmente nossa
psiquê, pois precisamos pensar e sentir para nadar.
Desejo-lhe que a água lhe promova o que sempre preconizei... o prazer do
maior brinquedo do Universo... a ÁGUA. (...)
Cacilda Gonçalves Velasco. |